sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

AS MINHAS PROMESSAS PARA O NOVO ANO

 

Aumentar os índices culturais e intelectuais mediante o visionamento de todas as novelas da sic e da tvi, de todos os jogos de futebol da sportv mais os programas de debate adjacentes e acompanhar todas as intervenções do sr professor dr presidente, desde provas de vinhos até a idas ao multibanco;


Desenvolver um excelente relacionamento social, vacinando-me contra o covid e, em simultâneo, negando a existência da pandemia;


Investir na modernidade inscrevendo-me num curso intensivo de expressões em inglês para aplicar ao português escrito e falado. Julgo ter background para alcançar este target e, quem sabe, ganhar mais cash;


Dedicar-me ao negócio dos insufláveis do ego, acabando todas as frases com "tem razão, eu estava totalmente errado";


Não circular a menos de 160 km/hora nas auto estradas para não obrigar nenhum automobilista português às sempre indesejáveis reduções de velocidade ou a travagens bruscas;


Dar preferência a uma alimentação com baixo teor de gorduras, passando a consumir apenas hamburgueres light, francesinhas light, batatas fritas light, ovos estrelados light e, de quando em vez, carne de porco à alentejana light;


Aumentar os níveis de exercício físico mediante o incremento substancial do zapping com ambas as mãos;


Promover a defesa incondicional do meio ambiente, só vazando entulho nas zonas mais escondidas das matas ou atirando lixo para a rua quando ninguém estiver a ver;


Continuar a servir patrióticamente o meu país denunciando sem rebuço aqueles que são, de longe, os mais pérfidos agentes da corrupção nacional; os árbitros;


Manter bem viva a chama da esperança num Portugal melhor, continuando a apostar no euromilhões e nas raspadinhas;


Deixar de fumar. Uma vez que não fumo pelo menos esta tenho a certeza de que cumprirei.


Bom ano.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

ORZAMENDISDA

 


- Zaudazões binhadeiras a dodos os esgalonados, orzamendados e pagandes em geral,

Andes de mais guero fazer um vrinde ao amigo leão gue, num desfazendo, gosda dando de receitas gomo eu. Ber acazo inda onte bobi uma tão voa gue le bou enviar um garrafãozito dela gue adé le bai fazer grescer o gabelo.

Quanto ao orzamendo o gue pozo dizer é gue é da bipa do gostume. Ber exemblo, as maiores reduzões nos imbosdos zão pó pezoal que ganha mais borgue, gomo zão boucos, o leão perde menos gue se reduzize os imbosdos da mesma vorma òs gue ganham menos, borgue zão muidos mais.

Já aumendar as penzões, zim zenhor, mas zó 10 EUR e zó a bardir de agosdo do ano gue bem. É gue, ze num houber condrole, os revormados zão meninos bara gomezarem bara aí a avrir gontas ovexore e a cumprar iates gom fardura. 

Zó num axo vem gu leão gueira suvir o imbosdo sobre o algoól. É gue é zerdinho gue azim bai aumendar o binho a mardelo gue é muido mau bá zaúde. Ainda me lemvra guando bobemos uma bibazita dele gu tone manco zacou num tranvigueiro do cardaxo. Deu-nos semelhande bolta que ficamos com a cara mais encurrilhada ca do zê deputado duarte pachego do psd. Velizmende a zeguir o tone deu-nos uma aguardande avagaçada de gategoria gue nos estigou a pele em drês tembos.

Agora, ze me dão lizenza bou zó ali ó tone num instante que inda me zobraram duas ou três rugas pa esdigar.

Deste vozo zé ramadaz (zembre a orzamendar voas pomadaz).

terça-feira, 5 de outubro de 2021

VIVA A REPÚBLICA!

 


República que és da grei

Pára um momento e escuta

Anda por aí muito rei

Que te quer para prostituta


Não te deixes enganar

Por vivas e honrarias

Dos que te tentam usar

Para as suas monarquias


E canta alto a liberdade

Canta de norte a sul

Que esta terra, é bem verdade

Já não é do sangue azul

domingo, 3 de outubro de 2021

QUEM É FINO, QUEM É?



Aproveitou-se da oferta

Com mais engenho que arte

Fugiu para parte incerta

Mandou tudo àquela parte


A pobre da magistrada

Não podia adivinhar

Que alma tão estimada

Se fosse sem avisar


E a continuar neste estado

A justiça em Portugal

Qualquer dia é o condenado

A prender o tribunal

sábado, 25 de setembro de 2021

AMANHÃ

 


Se acaso pretendes fingir

Viver num postal ilustrado

E o teu sonho é construir

Fachadas por todo o lado


Tens um candidato à maneira

Vota no rico moreira


Se te esforças por disfarçar

O teu sotaque tripeiro

Porque te queres fazer passar

Por gente fina e de dinheiro


Toma já a dianteira

E vai votar no moreira


Se pensas que a cidade

É para eleitos como tu

E a gente pobre e de idade

Merece um pontapé no cu


Afia bem a biqueira

E vota forte no moreira


Se há negócios do teu agrado

Em que o bem público empobrece

E em que o amigo privado

Enche a pança e agradece


Leva contigo a carteira

E vota pelo moreira


Mas se quiseres ver a luz

E os logros que há por aí

Não lhe ponhas tu a cruz

Senão põe-te ele uma cruz a ti

sábado, 18 de setembro de 2021

TRAYPEIROS

- O turismo foi uma benção, pá

- Ah, pois foi, pá

- Andam para aí uns gajos a dizer bad do turismo porque nem sabem o que é good

- Sem dúvida. Não fora ele e onde é que a gente tinhamos take away?

- E rooms, zimmers e chambres?

- E lofts, residences e apartments?

- E hotels a dar com um piece of wood?

- E lindas fachayds nos buildings?

- Sim que antes estavam todos a cair aos pieces

- E market of bolhan?

- Como?

- Bolhan

- Quem é esse?

- Mercado do Bolhão, pá

- Ah, pois, claro, bolhan

- E onde é que a gente tinha sightseeing?

- E bolaynhes of codfish com cheese da serra?

- E licor de pastel of nayte?

- E chairs by the air na liga dos champions?

- Ora bem, drunks sempre cá tivemos

- Tá bem, pá, mas estes são drunks with power of compra

- Exactly, pá. E se não fosse o turismo onde é que a gente tínhamos sunset?

- Não tínhamos, pá

- Eramos para aqui uns encaralheyted

- E uma cambada de tayses sem dinheiro para mandar cantar um blind man

- Nunca tive tanto proud na minha cidade do Oporto, pá

- Na nossa cidade, pá

- Sim e os que não gostam do turismo são calhaus with two eyes

- Os que não gostam do turismo que vão mas é levar no roof top

- Olha lá e agora em que zona do Oporto estás a viver?

- Em Valongo, pá

- E tu?

- Em Paredes, pá

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

SOU ROMÂNTICO

 

Numa interpretação muito pessoal de um dos êxitos imemoriais do grande Tony de Matos, eis que se apresenta perante vós, senhoras e senhores, o cançonetista camarário toni moreira


Eu sou romântico

Em toda a minha vida fui romântico

Em cada ciclovia fui romântico

E ainda sou

Sou romântico

Cada matadouro agora é um cântico

Especulação pela vida fora dum romântico

Que sempre amou


Eu não irei esquecer

Que gastei meio milhão

Para a seguir desfazer

Um museu que era bom


Mas eu sigo o modernismo

E arranjei um curador

Para a extensão do romantismo

Seja lá isso o que for


Faria é a sua graça

Romântico tal como eu

Um homem que por onde passa

Esvazia qualquer museu


Há quem queira censurar

Mas para calar esses cretinos

Um museu hei-de criar

Só com parquímetros e pinos


Eu sou romântico

Em toda a minha vida fui romântico

Em cada super bock arena fui romântico

E ainda sou

Sou romântico 

Cada licença de construção é um cântico

Elitismo p'la vida fora dum romântico

Que sempre amou

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

ALTERCAÇÕES CLIMÁTICAS (REGA TONE)

Tempestades, ciclones e tornados

Avalanches com efeitos desgraçados

Chovem notícias nas televisões

Metem mais água que as inundações


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Há candidatos a querer boiar

Com promessas à medida de enganar

E há ondas gigantes de cartazes

Que fazem deles tudo bons rapazes


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Os furacões são ferozes e brutais

O novo banco, a tap e outros que tais 

Vai o dinheiro todo na enxurrada

Fica a miséria, não sobra mais nada


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


As gaivotas voaram para a cidade

Viram que outros vivem bem na sujidade

Voam contentes e descansadas

Roubam comida nas esplanadas


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Os oceanos têm mais marés de lixo

A pandemia continua a espalhar o bicho

O céu, esse está menos azul

Porque aí vem o vendaval de cabul


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Muitos trabalham de sol a sol

Para aquecer os bolsos do futebol

Há quem lhe chame o efeito estufa

Mas cá para mim é mais o paga e não bufa


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir

sábado, 28 de agosto de 2021

DESCÃOTENTE

 


Ontem foi o meu dia

Mas mais valia que não

Esperei por uma alegria

Saiu-me um dia de cão


Sentei, deitei sem parar

Rebolei até ganir

Para o meu dono se armar

À custa de me exibir


Peço por isso rapidez

Na invenção de uma vacina

Que me liberte de vez

Da fidelidade canina

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

MARCHA ATRÁS

 


- Ò mila, puf, puf, bais muito largada

- Ò camané, dá mas é corda òs penantes quisto num é pa ber montras

- Ò mila, puf, puf, mas eu já lebo o coração a saltar per a voca e até a pala do voné me pesa

- Ò camané, anda mas é pá frente que só te faz vem ò pneu

- Ò mila, puf, puf, tens a certeza?

- Se tenho a certeza? Ò camané, se não fosse o joguingue como é que tu achas que eu conseguia ter esta aparência jobem, elegante e moderna?

- Ò mila, puf, puf, mas eu preferia ser menos jobem, elegante e moderno e sentar um vocado o bojão em qualquer lado

- Sabes o que te digo, camané, desde que te conheci, continuas o mesmo tramvolho varrigudo, valofo e porguiçoso

- Ò mila, puf, puf, a falares assim nem sei dizer por que casaste comigo

- Ò camané, por que é que habia de ser? Casei contigo porque és alto...

domingo, 22 de agosto de 2021

ALLAHU AKBAR!

 

Eu não sou talibã. Fosse eu talibã e, como é evidente, odiaria as mulheres. As suas formas, incluíndo a de falar, os seus risinhos absurdos, os seus trejeitos efeminados, o seu olhar pérfido, capaz de tentar as mais resistentes masculinidades e, sobretudo, odiaria a sua capacidade de dar à luz. Se eu fosse talibã proibiria terminantemente as mulheres de darem à luz e substitui-las-ia a todas pelos meus irmãos de armas. Que maior honra me poderia abençoar que a de nascer de um homem de barba farta e de toalha enrolada na cabeça, que até pode dar jeito se as águas rebentarem antes do tempo? Que momento mais sublime me poderia ser concedido que o de vir a este mundo por entre a pilosidade das suas pernas, a contemplar os seus pés crispados, as unhas enegrecidas a cravarem-se-lhe nas sandálias poeirentas, ao som dos seus gritos de alá é grande e dos tiros da sua metralhadora a celebrarem o meu nascimento? É certo que, ao sair, poderia sentir dois pesos sobre a minha cabeça, mas isso corresponderia tão somente ao legado da paternidade que um dia teria, também eu, de assumir. Que prazer mais intenso poderia sentir que o de comprimir os seus peitos para assegurar a primeira mamada, podendo engasgar-me à vontade com os pêlos adjacentes aos seus mamilos? E que maior felicidade me poderia invadir ao ver o quarto repleto de irmãos talibãs a ofertarem, embevecidos, um bouquet de flores ao meu progenitor, rasando-lhe os olhos de água, que tanta emoção é demasiada para um homem só? Ou, enfim, perceber o olhar ternurento de um deles que, de espingarda às costas, tricotaria com destreza aqueles que seriam os meus primeiros carapins? Tanta felicidade junta só seria comparável à de ver o desaparecimento das mulheres por detrás de burcas guardiãs dos valores fundamentais da vida. Dos homens.

Eu não sou talibã. Fosse eu talibã e viveria, pois, num mundo perfeito, sem mulheres. Quer dizer, num mundo quase perfeito porque teria de me debruçar sobre a parte da concepção que, sem ela, os homens não poderiam dar à luz. Estou convicto, no entanto, de que, procurando bem no alcorão, alguma coisa se haveria de arranjar. Alá é grande.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

FELIZES PARA SEMPRE

 


- Ò mila, chega-te pó meio senão num ficas, carago e num faças essa cara que até parece que tás a ir a Fátima a pé. Da próxima, em bez de te trazer pa benidor, em regime de meia pensão, lebo-te mas é pó areinho de abintes e ficas lá cos calhaus a moer-te o cu e a beres passar o lodo no rio qué um mimo. E tu liliana marlene, larga-me esse telemóbel que até metes nojo e olha-me prá qui. Ò liliana, tás a oubir o que te tou a dizer ou queres enfardar já um vofetão nas ventas que até se te estremece a mini saia? E tu ibo wanderlei, é a última bez que te abiso para num tirares catotas do beque e de limpares òs calções de marca, senão lebas semelhante croque na moleira que até começas a imitar o sr fernando mendes do preço certo. Achas que isso te fica vem, já num te chega essas tatuagens que até fazes lemvrar um cartaz do circo? E tira-me o boné da mona e deita-me a chicla fora prá foto num ficar tremida, carago. Prontos, agora façam um sorriso vonito de férias como debe ser e, ò liliana marlene tira o boné ò morcom do teu irmão que só se le bê o queixo e as rastas carago, que qualquer dia passo-me da caveça e bai boné e rastas e bão bocês todos co carago, que anda aqui um gajo a fazer vom amviente e bocês todos cum cara de penico. E chegai-bos todos pá direita para se ber a piscina do hotel em fundo qué pa se ber quisto num é pa todos.

Ora entom, tudo a rir, um, dois, três, prontos já está. Agora bou já meter a foto no facevoque e no istagrão co pessoal bai-se roer todo de inveja da nossa felicidade. Carago.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

E LIÇÕES AUTÁRQUICAS?

 

- Ora portantos, toma nota

- Sim sr, cê presidente

- Aquela rotunda é para deitar abaixo

- E o que é que pomos no seu lugar, cê presidente?

- Outra rotunda

- Outra rotunda, cê presidente?

- Claro, só que a que vamos lá pôr é muito moderna. Vai ter o nome da nossa terra em letras grandes, iluminadas a leds

- Muito bem, cê presidente

- Aquele passeio também é para deitar abaixo

- E o que é que pomos no seu lugar, cê presidente?

- Outro passeio

- Outro passeio, cê presidente?

- Claro, só que o passeio que vamos pôr é muito moderno. Vai ser todo rebaixado por causa do acesso a deficientes, o que até dá jeito aos outros munícipes para estacionar os carros, e vai ser todo iluminado a leds

- Muito bem, cê presidente

- E aquela praça também é para ir abaixo

- E metemos outra praça no seu lugar, não é cê presidente?

- Não. No seu lugar metemos uma ciclovia. 

- Uma ciclovia, cê presidente?

- Claro, uma ciclovia muito moderna cheia de mecos e iluminada a leds

- E deixamos de ter praça, cê presidente?

- Claro, as árvores, as flores, os bancos e os coretos deixaram de ser modernos

- Muito bem, cê presidente

- E já agora, a estrada do centro de saúde é para asfaltar

- Mas nós não temos centro de saúde, só temos uma estrada de terra batida que vai dar a um descampado, cê presidente

- Claro, mas tu não percebes que asfaltar estradas é moderno e dá muito voto?

- E a estrada depois de asfaltada, é para levar leds, cê presidente?

quarta-feira, 14 de julho de 2021

FICA EM PARANHOS

 


Um ribombar de trovões e logo um raio cintilante de inteligência rasgou a noite para o trespassar sem apelo nem agravo. Electrizado pela inspiração recebida, talvez atmosférica, quiçá celestial, o autarca precipitou-se sobre o papel, abrindo-lhe sulcos vigorosos com a caneta Montblanc que a mulher lhe ofertara por alturas da tomada de posse. No dia seguinte nascia a obra, uma linha de tinta branca a ladear todo o passeio do cemitério que para ali nada melhor que uma ciclovia. Ganhava a urbe em modernidade, ganhava o único ciclista que por lá passa de longe a longe e ganhava o autarca em  prestígio visionário. 

Um desrespeitador cidadão dos altos desígnios autárquicos entendeu, porém, aparcar o automóvel sobre a imaculada linha, aventurando-se por breves minutos a visitar a campa de familiares. Ainda não tinha dado o terceiro passo no interior do cemitério e já o sobrolho carregado de um agente da autoridade, vestido de líder da montanha da volta à Portugal em bicicleta, o ameaçava de multa, não retirasse ele de imediato a afronta motorizada de cima da alva obra. 

- Acha que criar uma ciclovia à porta de um cemitério é de bom senso? Afoitou-se o cidadão a uma troca de argumentos com a velocipédica autoridade.

- Eu tenho é de fazer cumprir a lei

- Mas imagine que um ciclista aqui chegado se confronta com um funeral a obstruir-lhe a ciclovia. Terá o sr agente de ordenar ao funeral que desmobilize para que passe o ciclista ou, no caso de recusa, de multar todos os que o integram, estou a dizer bem?

- Não, nessa situação tem de imperar o bom senso.

- Mas, um funeral assim aparcado, viola a lei exactamente nos mesmos termos em que o estou a fazer agora

- Já lhe disse que é uma questão de bom senso. Retire a viatura.

O cidadão sentou-se ao volante. Se um sentimento de revolta lhe endurecia a traqueia, não podia, ainda assim, desvalorizar o conforto de um calor ameno a acariciar-lhe a espinha; é que naquele momento ficara a saber que quando chegar a sua hora ninguém será multado por o acompanhar até à última morada. Por uma questão de bom senso. 

O agente ciclista, esse deteve-se mais adiante noutros carros a realizar discretamente o seu sonho de escriturário. Puxou do bloco das multas para o sulcar de contraordenações com uma caneta Parker que a mulher lhe ofertara por alturas da conclusão do curso das novas oportunidades. Para quem não se lembra foi a forma que o sr engenheiro sócrates encontrou para aumentar muito rapidamente as habilitações académicas de uma boa parte da população, atribuindo o 12° ano a todos os que soubessem assinar o nome. Por uma questão de bom senso.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

CERTIFICA-TE

 


- Queria comer

- E certificado?

- Não tenho

- É preciso

- Mas nunca foi

- Agora é

- Mas eu tenho fome

- Sem certificado nada feito

- Ao menos uma bucha

- Não

- Uma dentadinha

- Não

- Uma trincadela...zinha

- Não

- Uma prova rápida?

- Não

Nada mais lhe restou que virar-se para o outro lado com a barriga a dar horas. E ela pôde finalmente dormir sem ter de recorrer à estafada desculpa das dores de cabeça.

sábado, 10 de julho de 2021

DEBAIXO DA LUZ

 


As toupeiras são pequenos mamíferos com um estilo de vida subterrâneo. Têm um corpo cilíndrico, pelagem aveludada e bem tratada, chegando nalguns casos a usar fatos de marca, gravatas de seda e mochilas louis vuitton. Os seus membros posteriores são reduzidos mas em compensação têm membros anteriores curtos e fortes adaptados para cavar na escuridão informações de primordial interesse para um conjunto restrito de indivíduos. Muito restrito mesmo.

O termo toupeira é especialmente usado para a família de toupeiras Talpidae que está presente em abundância na Ásia, na Europa, no novo banco e no benfica.

A época de reprodução das toupeiras depende da espécie. Em regra é de fevereiro a maio, podendo no entanto reproduzirem-se em qualquer momento do ano desde que lhes paguem.

Os locais mais propícios à reprodução das toupeiras são os túneis de terra húmida, as tribunas de honra de estádios de futebol e os hotéis de 5 estrelas com serviço privé.

A dieta das toupeiras é constituída principalmente por minhocas e outros pequenos invertebrados encontrados no solo. Apreciam, no entanto, alimentos de maior porte como contas na Suíça e em paraísos fiscais, viaturas topo de gama incluindo motos de água, moradias com piscina e lugares destacados em administrações de bancos.

As toupeiras são consideradas pragas em alguns países, pelos prejuízos que causam mas, em Portugal, são uma espécie protegida, só podendo ser abatidas com autorização e desde que a velocidade de reprodução seja superior à do abate. 

Problemas causados por toupeiras incluem a contaminação das forragens com partículas de solo, danos em plantas jovens, eliminação de prazos em financiamentos, destruição de avales, de patrimónios de garantia e crescimento acelerado de ervas daninhas nos círculos do poder. Estudos recentes confirmaram ainda que podem contaminar os humanos provocando-lhes graves perdas de memória.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

FORA DO JOGO

 


- Tou, jorge, sou eu, o teu amigo

- Olha lá, não me digas que ficaste a dever o almoço no restaurante

- Não, jorge, paguei com 4 pneus novinhos

- Então que queres?

- Ora bem, quer-se dizer, precisava que me desses umas dicas

- Que dicas?

- Ó jorge, digamos que tou aqui preso a um problema e precisava que me ajudasses a libertar-me

- Problema? Que problema?

- Um parecido com o que tu ias tendo quando andaste a comer naquele buffete nocturno

- Qual buffete nocturno? A roullote das bifanas, penso eu de que?

- Não, a das passarinhas com molho salgado

- Já sei, porra, até fiquei à rasca do hemorroidal

- Ó jorge e como é que resolveste?

- Fui a uma clínica muito jeitosa que há em Vigo. Vim de lá como novo

- E tu não me podes levar a essa clínica?

- Poder posso, mas tens de ir disfarçado de nosso adepto

- Ó jorge e o rei dos frangos também pode ir?

- Pode

- E vai disfarçado de quê?

- Como é o rei dos frangos pode ir disfarçado de um dos teus guarda- redes

- Tá bem, jorge

- Olha lá, mas tu tens de levar um dos nossos barretes enfiados até ao pescoço

- Porquê, jorge?

- Por que senão reconhecem-te pelas orelhas...

domingo, 27 de junho de 2021

TOLA NA BOLA, BOLA NA TOLA

 


Um senhor estaciona a viatura em cima do passeio impedindo a circulação pedonal para ficar mais próximo das iguarias do mar que o aguardam avermelhadas na montra da marisqueira. São dispendiosas, é certo, mas não há preço que resista ao cartão de crédito. Engordam um bocadinho, também, mas amanhã tudo será liquidado nos 10 km de passadeira do ginásio low cost.

Umas senhoras estendem-se na praia em posição de frango de churrasco. Não usam protector e, de vez em quando, molham-se no mar, não pelo prazer do banho mas para que os cristais de sal acelerem a exibição de sedutores bronzeados nas noites da Cordoaria. Pelo menos até à chegada da polícia. Ou do cancro de pele.

Um senhor automobilista investe sem prioridade numa rotunda porque a sua inteligência, inacessível a todos os outros, lhe ensinou que são para cima de 5 os segundos que a aceleração transgressora lhe poupa em cada rotunda. E o último acidente até lhe correu de feição que o mediador de seguros amigo conseguiu ludibriar a companhia.

Um senhor com um rasgo repentino de memória trava o pedido de uma coca cola e decide-se por água. A seguir acende o vigésimo quinto cigarro do dia que não combina bem com água mas a saúde acima de tudo.

Por entre minies, chacecóis, unhas roídas e mensagens de telemóvel, todos eles estarão mais logo a acudir pela boa sorte de um agrupamento multimilionário de chutadores da bola, em quem depositarão mais confiança do que em si próprios e nos quais projectarão todas as expectativas de um futuro melhor. Depois de cantarem o hino com os olhos marejados de orgulho pátrio e com a mão direita a tomar o peso ao mamilo esquerdo, claro está.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

 


Fica aqui à minha beira

Que eu invento um São João

Vamos saltar a fogueira

Que acendi no coração

domingo, 2 de maio de 2021

MÃE

 


Dá-me a tua mão, mãe

Terna e segura

Vê como a minha mão tem

Tantas feridas de amargura


Não largues a minha mão

Mãe, não conheço a estrada

Faz-me sair da escuridão

Leva-me contigo de mão dada

sábado, 1 de maio de 2021

 


Se salta, sorri e dança

Se canta na rua, deixai-o

Vai com Abril na lembrança

E no coração leva Maio

sexta-feira, 30 de abril de 2021

A GRANDEZA DA PEQUENEZ

 


- Temos a maior ponte pedonal do mundo, pá!

- Espectáculo, pá

- Já tinhamos a maior omelete do mundo, pá

- E a maior feijoada do mundo, pá

- E o maior número de horas a tocar bateria do mundo, pá

- E a maior distância percorrida em cadeira de rodas do mundo, pá

- E vamos bem lançados para termos o maior número de insultos e de lapadas futebolísticas do mundo, pá

- Somos os maiores, pá

- Ah, pois somos, pá

- É por isso que eu sou um grande patriota, pá

- Também eu, pá

- Viva Portugal, pá!

- Viva, pá!

- Olha lá, agora só temos de falsificar as moradas a fazer de conta que vivemos em Arouca para podermos andar de borla na ponte, pá

- E falamos com quem, pá?

- Com o gajo que nos meteu à frente de todos na fila das vacinas, pá

- Ou então falamos com o gajo que nos fez a inspecção dos carros sem lá termos ido, pá

- Ou com aquele que nos reconstruiu as casas em Pedrógão que não arderam, pá

- Boa malha, pá

- Viva Portugal, pá!

- Viva, pá!

domingo, 25 de abril de 2021

DAS FRACAS REZA A HISTÓRIA

 


Sabia que a Natureza não a bafejara. Era como se uma qualquer ordem divina, do universo ou de coisa nenhuma a tivesse condenado a um destino infeliz para que outras sobressaíssem. E não perdiam tempo, essas convencidas, a zurzir-lhe a fraqueza. Elogios, galanteios e louvores seguiam para elas que, a si, estava reservado o desprezo e o esquecimento. O peso dos anos foi-lhe definhando as pernas, mirrando as costas, roendo os nós mais fundos. Mas também foi esse peso que lhe fortaleceu a vontade da revolta. Queria ganhar ao destino nem que essa vitória fosse o último dos seus gestos. Haveria de alcançar a glória pela força da sua fraqueza. 

Foi num dia de Verão. Viu as outras ocupadas, permaneceu junto à janela com o sol a disfarçar-lhe as maleitas e esperou. Ele entrou de rosto fechado. Os passos austeros das suas botas encaminharam-se na sua direcção. Pegou nela sem sequer a olhar, ajeitou-a a seu modo e depositou-lhe toda a carga do seu corpo. Ela nem rangeu. Desconjuntou-se, partiu-se e, no seu sacrifício, libertou o país de um ditador. Não ficaria na História por fazer uma revolução mas o mérito de ter dado o primeiro passo já ninguém lho poderia tirar.


Abri a minha janela

E voei pela cidade

Com um cravo de aguarela

A pintar a liberdade

quinta-feira, 15 de abril de 2021

CANÇÃO DA MÃEZINHA

 


Esse seu cofre antigo tão bonito

Essas suas notas tão belas

Heranças suas são guito

E eu ajeito-me bem com elas


Você é o ser mais verdadeiro

E eu sou o seu filho pródigo

Como nunca fui interesseiro

Do cofre só quero o código


Minha querida, minha velha, minha amiga

sábado, 10 de abril de 2021

DURA LEX CEDE LEX



- Tou litos, sou eu, o fininho. Tás a ver como correu bem. Eu bem te disse que era uma questão de juíz, pá. Queres saber uma boa? Ele achou que tu me corrompeste. O quê? Eu é que te corrompi? Deixa lá que isso já não interessa nada. Como foi há muito tempo tamos safos, pá. E o branqueamento? Ora bem, o branqueamento podes fazer em qualquer dentista. Ai tás a falar do branqueamento de capitais? Não te preocupes que arrasta-se isso até entregarmos a alma ao criador. Olha lá, viste-me na televisão a fazer o papel de vítima? Tive impecável, não tive? Às tantas até sou menino para escrever outro livro. Para quê? Então, para fingir que limpo a honra, pá. O quê? Ainda tens dois armazéns cheios com os outros livros? Não há problema, aluga-se mais um que eu pago com o teu dinheiro da Suíça. Confessa lá que agora até já te cabe um feijão no cu. Cabe ou não cabe, hã? Escuta, preciso que me tragas mais dinheiro. Como? Tenho que disfarçar? Não, pá, já podemos dizer dinheiro à vontade que os gajos sabem que "documentos" e "fotocópias" era a gente a falar de guito. Traz-me muito que quero comemorar à grande, ok? Onde é que tou? Tou na Ericeira, pá. O quê? Não, não tou em minha casa, quero dizer, na casa do meu primo, tou na fila para a esplanada. Mas olha, vem depressa que hoje é sábado e a esplanada prescreve às 13, pá.

sábado, 27 de março de 2021

INSTANTES

 




O rio desliza por um tempo adormecido. As pedras sussurram-me feridas inacabadas de memórias exaustas. A ponte quer levar-me para a outra margem do sonho. E eu embarco num balão de São João que sobe pela noite feita de luz.

sexta-feira, 26 de março de 2021

CONDENADO

CONDENADO


A sala vergava-se sob o peso de um silêncio ameaçador. O juíz enfunou a toga, crispou as sobrancelhas e lançou um dedo na direcção do réu:

- Vem acusado de atentar contra a desregulação do trabalho, contra a privatização de empresas, de subverter a comunhão de interesses entre políticos e grandes investidores, vem acusado de conspirar contra os negócios do futebol, dos eucaliptos e das barragens, de se rebelar contra extremismos, racismos e outros fundamentalismos, vem acusado de defender a liberdade sobre a alienação, a solidariedade sobre o lucro, o amor sobre a indiferença e, como se não bastasse, ainda desrespeitou a justiça chamando-lhe lenta, cara e injusta. Por tantos e tão gravosos delitos condeno o réu ao desterro sem apelo nem agravo.

Antes que pudesse esboçar um gesto, o bom senso viu-se algemado e conduzido a uma carrinha celular.

Poucos dias depois foi abandonado numa ilha tão inóspita quanto longínqua. Consta que não fica muito longe das ilhas para onde foram desterradas a inteligência e o discernimento.

sexta-feira, 19 de março de 2021

DISTÂNCIAS

 


Lembras-me alguém, talvez de mim. Lembras-me de mundos que inventei em brincadeiras de crianças. Lembras-me de voar em papagaios feitos de vento e de ser rei e plebeu em histórias de adormecer. Lembras-me de casas pequeninas e de pássaros com pernas longas pousados em desenhos que a vida coloria. Lembras-me de correrias alegres e de cansaços felizes. Lembras-me de sorrisos e de beijos nascidos de abraços que queria eternos. Lembras-me das minhas fraquezas, dos meus medos, da dor dos meus erros. E lembras-me do amor assim imperfeito em que me dei a cada instante. Sei que neste mundo tudo é frágil, tudo passa, mas eu não me esqueci. E tu, lembras-te, meu filho?

domingo, 14 de março de 2021

É PELAS ALMAS


São Pedro aguardava com o nervoso miudinho a tamborilar-lhe os dedos na inseparável chave do céu. O desconforto da ansiedade estremecia-lhe a confiança e quase o fazia sentir-se santo com pés de barro.

A porta abriu-se de repente e uma voz metálica gritou:

- Que entre o do céu!

Entrou. O director de programas lançou-lhe um olhar altivo e perguntou-lhe ao que vinha.

- Gostava de apresentar um programa na sua televisão. Respondeu São Pedro.

Um velho enfiado num manto branco, a segurar uma chave ferrugenta teria decerto pouco para oferecer, pensou o director.

- Que tipo de programa? Atirou.

- Bom, como sabe eu sou o porteiro do céu, conheço gente boa, de carácter, gente generosa, sábia e humilde e gostaria de enriquecer os espectadores com os seus testemunhos de vida.

- Ò do céu, o que nós precisamos é de grandes audiências e essas não se conseguem com palavrinhas meigas mas com sensacionalismo, com guerra, com choque, percebe?

- Pois sr director, mas pensei que um pouco de harmonia e de paz pudesse ajudar a ....

- Qual harmonia e paz, homem! Olhe lá, você sabe mais palavrões do que palavras?

- De facto não, senhor director.

- E tratar as pessoas abaixo de cão, sabe?

- Não, sr director.

- E alguma vez fingiu uma greve de fome?

- Também não, sr director.

- Então volte lá para donde veio que a descer todos os santos ajudam.

São Pedro encaixou o cinismo e saiu. A voz metálica gritou de novo:

- Que entre o do inferno!

quinta-feira, 11 de março de 2021

HABILITA-TE

 


Raspa a raspadinha

Nem que seja até doer

Raspa a raspadinha

Pelo que te falta viver


Raspa com a tua fé

Com todo o teu sentimento

Raspa contra a maré

Do maldito esquecimento


Raspa os erros e os rancores

Raspa as memórias feridas

Raspa traições e desamores

Raspa as tristezas sofridas


Raspa pelo tempo perdido

Pela esperança, pela união 

Raspa pelo que te é querido

Raspa com o coração


Raspa a raspadinha

Que a sorte ainda está aqui

Raspa a raspadinha

Antes que a vida te raspe a ti

segunda-feira, 8 de março de 2021

UM DIA TEU

 

Ela fala e eu escuto. A voz é trémula e o olhar cansado que a doença fustiga. Enquanto fala peço-lhe em silêncio que me dê o seu colo, que me afague o cabelo, que me deixe ser o seu menino outra vez. Ela fala e eu sinto a sua mão na minha a caminhar pela rua num dia de sol porque de sol são todos os dias da infância. Ela fala e eu descanso-a porque já fiz os deveres da escola e comi o pão com marmelada que me meteu na pasta. Ela fala e eu prometo-lhe que não voltarei a subir às árvores sabendo que não cumprirei, que é do cimo delas que se conquista o mundo. Ela fala e eu peço-lhe que me deite na cama, me aconchegue e me cante a canção dos sonhos bonitos. 

Ela pára e pergunta-me porque estou calado. Respondo que fui fazer uma viagem com ela. Um sorriso enche-lhe o rosto de vida. A voz é trémula e o olhar cansado mas agora há a luz de um sorriso. A doença não venceu a força de uma mulher, a força da minha mãe.

ORGULHOSAMENTE SÓS, SEM MEDALHAS

Neste momento terrível dirijo-me a vós, os verdadeiros portugueses brancos, nascidos na nossa pátria, filhos de pais da nossa pátria, netos de avós da nossa pátria, que levaram durante séculos o nosso progresso aos povos incultos do mundo mas que nunca conspurcaram o nobre sangue lusitano com descendências indesejáveis. A vós portugueses genuínos apelo a que juntem a vossa à minha voz e em uníssono gritemos bem alto o nosso repúdio por tão vil acontecimento. Portugueses, nunca fomos, não somos e jamais seremos racistas mas eles que vão lá para a terra deles que não precisamos de medalhas para nada. A nós, bastam-nos os nossos valores.

Viva o populism... quero dizer, viva a fuga ao fisc... quero dizer, viva o benfi... quero dizer, viva Portugal!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

AI FILHOS, QUISTO TÁ PESADO

 


Eu sei que ele há birelogistas, epedemelogistas e imenelogistas mas eu sou putalogista cum muita honra. O meu nome é lady crika e se o cêr dr primeiro costa me estiver a ouvir, ofereço-me já pa sua assessora co posso ajudar e bem. Primeiros, porque já lidei com muitos vichos e alguns até tavam vêvados, segundos porque de cuidados intensibos percevo eu ca minha freguesia já num é noba e às bezes precisam duma bombada e, terceiros, como travalho no mato, tamém posso andar de cameflado comó senhor bice-almirante. Per acaso daba-me jeito uma assessoriazita que ultimamente o negócio tá paradote e nem take way posso fazer ca clientela gosta de comer no local. Bem fizeram as minhas colegas putalogistas que mudaram de ramo. Umas foram apresentar concursos e programas pá televisão e outra arranjou um lugar importante nos enfermeiros. Não sei bem o nome mas disseram-me que continua na mesma de tal maneira que não há quem note diferença nenhuma.


Ficai bem, protegei-vos mas num vos fiais nos que têm sabores que esses rebentam num instante.


Desta vossa lady crika que ainda vos dá muita pica.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

GRAVES SUPERFÍCIES

 


- Estimado cliente, temos tudo o que precisa para o seu conforto e total satisfação, trelas para cães, toda a gama de electrodomésticos, telemóveis, playstations e uma panóplia de novas tecnologias que vão fazer as delícias do seu confinamento. E tudo, mas tudo com promoções pandémicas jamais vistas. 

- Acredito, mas o que pretendo é comprar um livro

- O estimado cliente ainda é dos que lê livros?

- Sim

- Pois então, contamos servi-lo muito em breve que o sr professor dr presidente vai autorizar-nos não tarda

- Certo, mas eu prefiro comprar livros em livrarias

- As livrarias vão continuar fechadas, estimado cliente

- Porquê?

- Porque um livro comprado numa livraria representa um risco muito elevado para a saúde pública

- E se for comprado aqui?

- Aqui não. Ao contrário das livrarias o nosso estabelecimento é muito espaçoso, limpo e arejado e não esqueça que na compra de um livro ainda lhe oferecemos 10% de desconto na aquisição de 247 rolos de papel higiénico, estimado cliente

- E como chegaram a essa conclusão?

- Através de um estudo rigorosamente científico

- E como se chama esse estudo?

- Chama-se lei do mais forte, estimado cliente.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

RESSACADOS

 


Estou deveras consumido

Por não poder consumir

Consumo-me em casa retido

Que não me consentem sair


Consumo não consumado

Tamanha consumição

Consumo-me assim privado

Do consumismo tão bom


Assumo gostar de ser

Um feliz consumidor

E um consumista a sofrer

Apenas consome dor


Consumido na saudade

Dum saldo ou duma rebaixa

Sem o valor da liberdade

Para usar o cartão na caixa


Mas uma coisa boa eu vi

Nesta triste abstinência

Se me lestes até aqui

Consumi-vos a paciência

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

Voas,

Ker-se dizer, taba tão vem e bai-se a ber já fui outra bez kunfinado. Aprobeitei uma perkária e, pa kememerar, eu mais a minha mena alugamos uma kave ali pós lados de Alfena e fizemos uma festa de swing. Ao todo éramos 23 mas o káolha num kontou ke só foi filmar pa depois botar no You Tuve. Korreu totil, konbibemos à fartazana e a minha mena inda konbibeu mais ke eu proke toda a gente save kas mulheres gostam de dar à lingua. O provlema foi kuando o tone naifas beio ká fora berter águas kontra um pinheiro. Apareceu-le a moina e perguntou-le o ké ke ele taba ali a fazer todo nu. O tone disse-les ke tinha dado a roupinha toda a um pobre. Os moinas akreditaram e até já iam à bida só ke logo a seguir bieram o bisgas, o kaninhas e o zé da verga, tamvém todos nus e tamvém disseram ke tinham dado a roupa ò pobre. Segue-se ka bófia deskonfiou e um até disse ko pobre podia kontinuar pobre mas roupinha tinha pós próximos 2 anos. É o ke dá em facilitar e num se aldravar komo debe ser. Se eles tibessem aprendido ko nosso primeiro tenho a certezinha ke kunvenciam os bófias ke tabamos numa reunião de kondomínio e inda os punham a ir buscar persebatibos pá protecção do pessoal. Assim fomos todos kunfinados mas, pelo menos deu pá aprender kualker koisa; fikei a saber ke da próxima vez que fizer uma festa tenho de lebar penikos.


Fikem vem sem olhar a kem.


Kim da enjecçom (inda melhor ká da bacinaçom)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

ALEGREM AS VISTINHAS

 


Há loiras e há morenas

Há maiores e mais pequenas

Há aquelas que são queridas

E outras mais atrevidas


Há também as curiosas

As que são muito vaidosas

E as que parecendo indefesas

Num instante ficam tesas


Há umas bem abonadas

Que gostam de namorar

E há as que descaradas

Não pedem licença para entrar


Há as que ficam aquém

Por muito que tenham fé

E há as que andam num vaivém

Assim que se põem de pé


Lá diz o velho ditado

No seu saber aguçado

A mulher e a sardinha

Quer-se da pequenina

sábado, 30 de janeiro de 2021

 


Zaudazões vinhadeiras a dodos os vazinados condra a àuga, zeus deribadoz e unidos à bipa em geral,


Esda vicheza é medonha digo-bos eu. Bejam lá gue me ovrigou a figar convinado no tasco do tone, a mim e à resdande rabaziada. Num bamos a caza bai pa 15 dias e zó zaímos pa fazer exerzízio de gurta durazão, gué guando agaba uma bipa e bamos busgar oudra. O resdo do dempo passamo-le-zio a fazer tesdes. Agora esdamos a tesdar um maduro dindo gue esgorrega gué um conzolo e deija zemelhande lastro gue adé nos altera as ideias. Eu, bor exemblo, achaba mal que se fechazem as esgolas e agora acho bem que num as avram. Tamém era condra o convinamendo, sobredudo bor alduras do naszimendo do messias que, num desfazendo, é uma binga de esdalo e agora zou dodalmende a favor. Tamém achaba gue os gimbras não debiam zer vazinados bara já e agora esdou gombledamende de agordo que sejam os brimeiros, sobredudo os gue têm mais de 80 mil anos gomo dize o zê doudor gabrita. Azim adé os cromagnons e os australopidegos bão ter de ir à pica gue bai zer um mimo.

Esde maduro dindo muda tando, mas tando as ideias gue, gá bara mim, é deste go nozo goberno anda a vuver.

E é azim, enguando o convinamendo durar noz por gá bamos condinuar a tesdar adé figarmos, belo menos, vem atesdados.


Fazei adenzão ò bicho e rezebei um avrazo à debida disdãncia deste vozo,


Zé ramadaz (avicionado de voas pomadaz)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

MILAGRE, MILAGRE!


Somos um povo crente que desde os primórdios viu na protecção divina a almofada para nos aconchegar a existência. 

Quando ganhamos batalhas ficamos eternamente gratos aos milagres de santos guerreiros que, por alturas das festas, fazemos sair à rua encavalitados em vistosos andores adornados por notas gordas.

Quando um tijolo mal seguro falha a nossa cabeça por uma unha negra aliviamos de imediato o susto na expressão "foi milagre". É também essa que utilizamos quando uma ponte sem manutenção desaba sem causar vítimas, quando a frente de um incêndio poupa uma aldeia à sua passagem ou quando, no último instante, nos desviamos de um carro depois de ignorarmos um sinal vermelho.

O convívio próximo com a realidade milagreira tornou-a de tal forma familiar que, no ano transacto, decidimos assumir a autoria e executamos aquele que ficou conhecido pelo milagre português da pandemia. Revelaram-se tão compensadores e duradouros os efeitos que pudemos desfrutar relaxadamente da praia, do natal e até da passagem do ano. O inesperado, porém, atravessou-se-nos no caminho; quando já sonhavamos com corsos carnavalescos e mesmo com o "vá para fora cá dentro" pascal, os efeitos cessaram precipitando-nos para a urgência de um novo milagre. Percebida a míngua do nosso engenho perante a gravidade da situação, convocamos as divindades que não nos acudiram. Sobrecarga de trabalho terá sido, por certo, o motivo. Em sofrido desespero lançamos um grito de auxílio para o mundo que foi ouvido pela Alemanha, um dos nossos maiores credores. Terá sido milagre?

sábado, 23 de janeiro de 2021

PANDEMIA DE DEMAGOGIA

 


Eu sou tão discriminado

Que até me chamam fascista

E ainda sou acusado

De ser xenófobo e racista


Os insultos não bastaram

E sofri um atentado

Com as chicletes que me lançaram

Quase morri soterrado


Sobrevivi, pois claro

À má fé desses garotos

Ensinou-me o bolsonaro

Que ser mártir dá muitos votos


Agora toco piano

De música percebo eu

Dança o preto e o cigano

Neste baile que é só meu


Mas não gosto de calões

Que vivem como mendigos

E que querem os milhões

Das contas dos meus amigos