domingo, 29 de outubro de 2023

LUCAS


Sei de um lindo menino
Que pede, pede, sem falar
E ou se atende o pequenino
Ou é menino para chorar

Gosta do leite materno
E logo depois de mamar
Vem um sorriso tão terno
Que é a mim que faz chorar

Mãozinhas procuram o mundo
Curiosas de saber
E há um encanto profundo
Nos seus olhos a crescer

Ele não sabe quem sou
Mas isso é pouco importante
Todo o amor que lhe dou
Não é menor por ser distante



domingo, 3 de setembro de 2023

PERDA


Ama-me como se fosse o pássaro ferido

Que não pode voar

O menino perdido

Que não sabe voltar

Ama-me como se fosse o beijo que sempre quiseste

O calor do abraço que não tiveste

Ama-me como se fosse a brisa suave

Que te acaricia e acalma

Como se fosse a chave

Que te abre a alma

Ama-me como se fosse o pensamento

Que te alivia a dor do tempo

Como a pena que te escreve

Um desejo longo num verso breve

Ama-me como se fosse o olhar que te vê partir

E sabe que não queres ir

Ama-me como se fosse a vida contra a morte

Num instante eterno, redentor

Em que nada mais importe

Do que o amor

Sonham ao vento, os meus lápis

 


sábado, 5 de agosto de 2023

FERIDAS


Não sei qual o caminho

Não sei qual a direcção

Por onde vou, vou sózinho

Só, com a minha solidão

Vejo flores arrancadas
Vejo sonhos sem raíz
Vejo-me nas coisas passadas
Naquilo que nunca fiz

Há um futuro inventado
No céu que levo comigo
Há um sol inacabado
Que me segue por onde sigo

Peço às palavras que passam
Um momento de infinito
Que me escrevam e que façam
Dos meus silêncios um grito

Sei, conheço de cor
O peso dos meus fracassos
Levo um sorriso de dor
Na fraqueza dos meus passos

E vivo cada momento
No acaso de uma sorte
Nesse compasso do tempo
Nessa certeza da morte

sábado, 1 de julho de 2023

terça-feira, 27 de junho de 2023

RAÍZES

 


- Sou o Tarzan e venho na minha liana salvar o meu menino. Era assim que o avô lhe entrava quarto adentro e seguiam-se lutas sem tréguas contra leões enfurecidos, coiotes traiçoeiros, crocodilos sem rio, um sem número de predadores implacáveis. No fim era sempre resgatado às garras e às mandíbulas dos malvados imaginários pelo abraço apertado do avô que lhe enchia o peito de alegria. Era assim o avô, um lutador de ternuras. Aos anos sucederam anos, ao neto menino sucedeu o homem e ao avô sucedeu a perda, das memórias e das forças. Na cama do hospital vagueava o olhar pelo desconhecido, pela distância,  pelo vazio da vida. De repente uma voz irrompeu : - Sou o Tarzan e vim na minha liana salvar o meu menino. A seguir o neto deu-lhe um abraço apertado. O rosto do avô manteve-se sem expressão mas uma lágrima deslizou por uma liana já gasta.

domingo, 28 de maio de 2023

A CHAMA IMERSA

As pessoas chegam apressadas, decididas, confiantes e, em menos de nada, o entusiasmo da multidão engole a praça. Bandeiras desfraldadas, punhos erguidos, vozes unidas, gritos de vitória. A força do povo, afinal há tanto por que lutar. Melhor saúde, melhor educação, melhor justiça, contra a exploração do trabalho, contra a corrupção, contra a ditadura do lucro, pela liberdade e pela democracia. Corri para a praça com os olhos iluminados de esperança, deixei-a com os olhos rasos de tristeza. Afinal não passava da comemoração de um agrupamento de milionários que tinham chutado bolas para dentro de balizas, mais vezes do que outros milionários. Ganharam eles, perdemos todos.

NO VERMELHO


- Uí ar de champias mai frein

And uíle quipon faiti tile de én

Uí ar de champias

Uí ar de champias

Nou tai fore lousas

Becoze uí ar the champias ofe de uorle

- Estás a cantar?

- Claro, sou campeão, pá 

- És campeão de quê?

- Sou campeão da bola, pá 

- E o que ganhaste com isso?

- Ganhar não ganhei, até gastei bastante nas quotas, nos bilhetes, nas camisolas, no canal da tv e a acompanhar a equipa mas agora sou campeão, pá 

- E daqui para a frente, o que vais fazer?

- Vou pôr uma bandeira do clube na janela da minha casa, vou meter um autocolante no vidro do meu carro a dizer sou campeão, vou pôr o hino do clube no toque do meu telemóvel e vou dar tanga ó gajo do banco que é do outro clube, pá 

- Vais dar tanga ao gajo do banco?

- Sim, quando lá for pá semana renegociar o crédito da casa, do carro e do telemóvel que, ao todo, tenho 38 prestações por pagar, pá

sábado, 20 de maio de 2023

ACTION MAN

 


- Profissão?

- Risco

- Que tipo de risco?

- Vários. Comecei por ser homem-bala mas por pouco tempo

- Porquê?

- Fazia calos

- Calos? 

- Sim, era disparado para longe e quando voltava para receber já não estava lá ninguém 

- E depois?

- Depois passei a transportar mobílias mas só à noite

- Trabalhou numa empresa de mudanças?

- Não, fui presidente de câmara 

- E depois?

- Depois, dediquei-me a fazer assaltos sem pistola

- Não me diga que foi ladrão?

- Não, fui orçamentista de obras públicas

- E depois?

- Depois passei a entrar em combates diários 

- Foi boxeur?

- Não, fui comentador da bola

- E a seguir?

- Fui nadador salvador

- Salvou muita gente?

- Muita gente não, salvei-me a mim

- E como é que se salvou?

- Disse que tinha Alzheimer 

- E depois?

- Fui domador de leões

- Nunca foi atacado?

- Nunca

- Que técnica usou?

- Esperei que os leões prescrevessem

- E agora, qual é a sua profissão?

- A mais arriscada de todas

- Qual?

- Sou segurança no ministério das infraestruturas.

domingo, 7 de maio de 2023

LUZ

A noite chega e lança demónios de muitas noites e dias. Há angústias de memórias que me sufocam. Há arrependimentos que se cravam como ferros. Há derrotas que me lançam por terra. Perco forças, esvaio-me em dor. E há uma voz que me resgata à escuridão do medo, me acalma, me diz que está ali. Que há-de estar sempre ali.

E da minha noite nasce um raio de luz chamado mãe.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

A ALERGIA DA HIPOCRISIA

Por estes tempos primaveris aproveita a Natureza para se cruzar mas, não é por efeito dessa polinização, que os índices belicosos se constatam elevadíssimos. A comunicação social, por entre lágrimas reptilárias de conveniência, alimenta, explora e radicaliza a guerra. Serve-a empratada à mesa dos restaurantes, polvilhada sobre natas de pastelarias gourmet, em formato de distração nas salas de espera dos consultórios ou em estereofonia nas prisões envidraçadas do trânsito. Tudo devidamente intervalado por perfumes dominadores, por férias em paraísos charters, por pinturas metalizadas de sonhos rolantes ou por créditos para comprar o mundo a taxas de letra miúda. Poderá ser um cruzamento mediático e, de certeza lucrativo, mas jamais servirá à polinização da paz.

MAIO, MADURO MAIO

- Aclarem as gargantas

Vamos cantar com fervor 

Celebrar até às tantas

O dia do colaborador


- O que ouvi é uma gralha

Dia do colaborador não 

É dia de quem trabalha 

Para poder ganhar o pão 


- Lá vem este antiquado

Com conversa à camarada

O que quer é um feriado

Para espraiar na vida airada


- Trabalhar é um direito

Colaborar é desdém 

Um tamanho desrespeito 

Feito por quem lhe convém


- Aqui sou eu que comando

Aos outros cabe obedecer

Ou colaboram como mando

Ou trabalham sem comer


- Não quero colaborar

Com quem explora sem dó

Mas hei-de sempre trabalhar

Para os ver comer o pó

terça-feira, 25 de abril de 2023

VALORES SEGUROS

 

Há um cravo que se eleva e Abril voa de geração em geração.

 


Numa terra envenenada

Só germina a podridão 

Mas da esperança renovada 

Nasce-me um cravo na mão

sexta-feira, 21 de abril de 2023

REMÉDIO SANTO

Portugal foi sempre um país de heróis. O primeiro foi el rei o afonso que se alcandorou a tal epíteto por ter lutado estoicamente pela independência. É certo que, tempos depois, angolanos, moçambicanos e guineenses lutaram igualmente pela independência mas, esses, de heróis nada tiveram. Ficaram-se pela designação de terroristas ou conforme a gíria de então, eram "turras". Ao el rei o afonso sucederam-se outros virtuosos heróis como o condestável nuno alvares pereira, que conseguiu os 3 pontos na sempre difícil deslocação a Aljubarrota ou o infante henrique que, não obstante as largas e opacas abas do chapéu, foi um visionário que enviou as nossas embarcações em busca de novos mundos para o mundo mas carregadas de desgraçados e de maltrapilhos para, em caso de correr mal, não haver perda de monta. E não se pense que os heróis nacionais se ficaram pelos idos da História. Pelo contrário, Portugal continuou a trazê-los ao mundo em ufana quantidade e qualidade. Lembremo-nos dos nossos bombeiros, esses soldados da paz e, sobretudo, da solidariedade, que cobram 50 eur por viagem para transportarem doentes não urgentes aos hospitais, ou do presidente de um sindicato de enfermeiros que, num acto de inaúdita bravura, permaneceu quase dois dias sem ingerir alimentos, correndo o elevadíssimo risco de sentir fome, ou do almirante gouveia que, trocando galhardamente a sua alva farda marinheira por um camuflado de combate, modelo chuck norris, tamanho XL, se emboscou atrás de uma secretária e dizimou sem piedade um exército de bichos com muitas patas e poucos escrúpulos. Ou acima de todos, o supremo glorificador da alma lusitana, esse expoente máximo das nossas mais exuberantes e esplendorosas vitórias, de seu nome ronaldo, cris para os amigos.

Vem tudo isto a propósito de uma médica, Diana Pereira, que apresentou recentemente uma queixa na polícia judiciária sobre diversos casos de erros/negligência no serviço de cirurgia do hospital de Faro. O director do dito hospital, por detrás da idoneidade que a cor grisalha das suas barbas encena, apressou-se a condenar tal atitude, por não habitual. Logo a seguir a médica foi afastada de funções, rejeitada pelo orientador e por todos os chefes de serviço do hospital.

Que soubesse jogar à bola, que ganhasse fortunas obscenas a marcar golos num clube de futebol de um país defensor intransigente dos direitos humanos e aí sim, poderia aspirar à heroicidade, agora a denunciar colegas por más práticas clínicas pondo em risco a sua habitual inimputabilidade? 

Pois que seja engolida pela poeira do esquecimento e acabe os seus dias a fazer pensos numa qualquer espelunca médica de província, que dos fracos não reza a História.

ISENÇÃO NOC(IVA)

Especialista! 

Foi a minha resposta quando, em gaiato, me perguntaram o que queria ser assim que chegasse a grande. Nem cuidei de tirar dividendos do espanto que, à data, inculquei em ouvidos adultos, arrebatado que estava a projectar o sucesso da minha futura especialização. Chegado a grande, porém, percebi que me encontrava perante um grande problema; nascera num país onde todos tinham dado, em gaiatos, a mesma resposta que eu dera à dita pergunta.

Num repente vi-me cercado por virologistas, epidemiologistas e almirantistas, demagogistas, enrolamantistas e vigaristas, abusadoristas, obscurantistas e pedofilistas, pénaltistas, fora-de-joguistas e chuteiristas, coscuvilhistas, fazdecontistas e intriguistas, belicistas e natistas, arruaceiristas e moralistas mijaforadopeniquistas.

Sem possibilidade de escolha, agarrei-me às sobras e especializei-me em greves de fome ou, se quiserem, passei a grevefomista. 

Após prolongadas investigações cheguei à evidência de que, por cá, as greves de fome não eram demoradas, bem pelo contrário. Ao fim de poucos dias o grevista já degustava suculentos rojões à moda do Minho, acolitados pela consistência fumegante do arroz de sarrabulho, generosos cozidos com todos ou avantajadas dobradas transmontanas.Tudo sequenciado pelas conventuais guloseimas, do pudim abade de priscos à encharcada de ovos e rematado ao final por café 3/4 com cheirinho de vetusta bagaceira para auxilio ao esforço digestivo. Um destes grevistas chegou mesmo a encurtar a duração da luta a menos de um dia, iniciando a greve de fome a seguir ao almoço e terminando-a antes do lanche, a tempo, pois, de aconchegar duas roliças sandes e um copo de espadal fresquinho no incontornável xico dos presuntos, ali para os lados do Heroísmo. E antes do relógio bater o ferro das 17h.

Tão efémera base de estudo obriga-me a enveredar por nova especialização mas, desta feita, por uma que me conceda mais substracto analítico, que é como quem diz, maior tempo de antena. Não é pois de admirar que, a breve trecho, aqui possa retornar para comentar o impacto da recente isenção do iva no custo de vida, mas já na qualidade de especialista em preços ou, se se quiser, como precista. Ou muito me engano ou é especialização para durar por muitas e boas promoções merceeiras.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

O CÉU A SEU DONO




- Desculpe, qual é o nome deste espaço?

- Heaven

- E o senhor é? 

- Sou o porteiro do heaven

- É, portanto, o são pedro?

- Não. O são pedro foi reset por inadequação à function. O meu nome é web summit unicornio's service & coiso e sou um robot specialized em detecção de malware

- Agradeço-lhe então que abra a porta para eu entrar

- Antes disso terá de answer a um questionário para sabermos se está apto a let in

- Parece que os questionários para entrar agora estão na moda

- Start: condenou a guerra na Ucrânia enquanto rezava a todos os santos para que não acabasse a fim de continuar a acumular balúrdios à custa da inflação?

- Não 

- Explorou quanto pôde os imigrantes enquanto dava 2 pacotes de esparguete e 3 kg de arroz à dra jonet pelo natal por conta de ajudar os pobrezinhos?

- Não 

- Inventou desculpas esfarrapadas para não trabalhar enquanto criticava o absentismo dos que têm o rendimento mínimo?

- Não 

- Dedicou-se a encher os bolsos com tragédias, acidentes, calamidades e catástrofes, ou seja, à custa da desgraça alheia?

- Não 

- Fez parte de algum governo apenas por ser familiar, amigo, amigo do amigo, familiar do amigo, ou amigo do familiar do amigo do dr césar ou do dr costa?

- Não 

- Recebeu dinheiro, mobílias ou outros reconhecimentos de amizade para esticar as suas competências?

- Não 

- Conseguiu vender mais bilhas de gás do que o pedro abrunhosa?

- Não 

- Teve mais ataques de autoritarismo camuflado do que o almirante gouveia e melo?

- Não

- Foi mais alcoviteiro do que o dr marques mendes?

- Não 

- A sua mãe tinha um cofre em casa com mais dinheiro do que o da mãe do eng sócrates?

- Não 

- Comprou mais submarinos do que o dr portas?

- Não 

- Alguma vez conseguiu envenenar mais em directo do que o professor dr presidente?

- Não 

- Pronto, eis o resultado do questionário de artificial intelligence que nunca falha

- E então?

- O senhor é honesto

- Nesse caso, posso entrar, certo?

- Não, vai para a lista de espera

- Para a lista de espera? E é grande?

- Não muito. À sua frente só tem 3 líderes de claques de futebol, 15 banqueiros, 20 empresários da construção civil, 30 gestores de hipermercados, 40 políticos e 55 padres.

quarta-feira, 15 de março de 2023

PALAVRA DA SALIVAÇÃO


- Ò nelas

- Diz menty

- Temos de arranjar maneira de os convencer que não houve abusos nenhuns

- Ò menty, isso é impossível 

- Ò nelas, qual impossível, se nós os convencemos que a nossa senhora foi mãe virgem e apareceu em cima de um galho em Fátima, também os podemos convencer que não houve abusos

- Ò menty, não dá porque foi muito abuso 

- Ò nelas, tens a certeza?

- Tou-te a dizer

- Ò nelas, houve assim tantos?

- Ò menty houve. Houve até colegas que todos os dias deram o corpo de cristo

- Ò nelas e qual é o mal?

- O mal é que eles só deram o corpo. O cristo era o miúdo

- Ò nelas e se dissessemos que todos esses colegas estão deveras arrependidos e por isso merecem o divino perdão?

- Ò menty, não cola. Então nós por qualquer pecadito de caca ameaçamos logo com o fogo eterno das chamas do inferno e agora defendemos o divino perdão?

- E se mudassemos 3 ou 4 de paróquia para fazer de conta que estamos a actuar?

- Ò menty, não chega

- Ò nelas, então o que fazemos?

- Precisamos de um milagre

- Ò nelas, não me digas que acreditas mesmo em milagres?

- Ò menty, não mas precisamos de um

- Ò nelas e qual? O da multiplicação?

- Não 

- O do leproso?

- Não 

- O do andar em cima da água?

- Também não 

- Ò nelas, então qual?

- Ò menty, o milagre do sócrates

- Esse não conheço

- Conheces, conheces, arrastamos o processo o mais possível até que a coisa prescreva...

sábado, 28 de janeiro de 2023

ENTRE AS BRUMAS DA FALTA DE MEMÓRIA, Ò PÁTRIA...

 

Sra. eng. alexandra reis - 500.000 eur na minha conta? Por causa de uma indemnização? E não os declarei? Sinceramente não me lembro de me ter esquecido...


Sr. dr. pedro nuno santos - a indemnização da quem? Da alexandra reis? E recebeu de quem? Da tap? Ora bem, lembrar não me lembro mas lembro-me de uma coisita qualquer mas não me lembro onde. Ah, já me lembro, foi no whatsapp, exacto, no whatsapp...


Sr. dr cravinho - escusam de pensar que vou dizer que não me lembro que tenho uma empresa imobiliária porque lembro-me muito bem que a tenho. Agora não me lembro é do meu sócio me ter dito que tinha fugido ao fisco, isso não me lembro...


Sr dr antónio costa - valaver, é claro que mantenho a confiança no ministro das finanças e, valaver, não me lembro de nada que me leve a pôr em causa a sua continuidade no governo. E, já agora, valaver, também não me lembro de ter dito valaver...


Sr. professor dr. presidente - sou muito católico e admiro profundamente o santo papa que trará ao altar da jornada mundial da juventude o seu despreendimento, o seu amor aos pobr... o quê? O altar vai custar 6 milhões dele? Sinceramente ninguém me informou. Ai informaram? É curioso, não me lembro de nada. Às tantas a minha memória não anda lá muito católica...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

LÉXICO DISLÉXICO

Apresentamos o novo dicionário de POLÍTICO - PORTUGUÊS destinado a todos os que pretendam aprofundar os seus conhecimentos sobre o maravilhoso universo da língua politica e, bem assim, a todos os amantes de teatro e da representação em geral:


EU, ABAIXO ASSINADO, JURO PELA MINHA HONRA... - logo que acabe esta fantochada vou tratar de dar uns valentes benefícios fiscais aos meus amigos que é para quando deslargar isto ter à minha espera empregos dos bons. Ai, ninas...


ESTOU DE CONSCIÊNCIA TOTALMENTE TRANQUILA - ò dr mas, afinal, eu pago-lhe para quê? Para você ser meu advogado e me fazer passar pelo mais puro dos inocentes ou para me deixar ir dentro pelo que fiz, ah? Ai o carago...


ESTOU, ÓBVIAMENTE, DISPONÍVEL PARA COLABORAR COM A JUSTIÇA - Tá lá, kika, vai num instante à mesinha de cabeceira do meu lado, saca os papéis todos que estão dentro da gaveta e enfia-os pela retrete abaixo. Anda depressa e não deixes lá nenhum, porra! 

- O que é que eu fiz aos que tinha aqui no escritório? Não, não tive tempo de os meter na retrete. Comi-os.


NÃO ADMITO QUE ALGUÉM PONHA EM CAUSA A MINHA HONORABILIDADE - vou fingir que fico ofendido com as acusações a ver se cola. Se não colar a seguir vou invocar que não tenho qualquer conhecimento sobre o assunto. 


NÃO TENHO QUALQUER CONHECIMENTO SOBRE O ASSUNTO - querias que eu dissesse o quê? Que andaste a adiantar rendas de um pavilhão que nunca foi construído antes de te meter aqui? Que abocanhaste uma gorda indemnização sem justificação credível? Que eras titular de contas com entradas de muito bago sem qualquer explicação? 


NÃO VEJO MOTIVO PARA SE AFIRMAR QUE HÁ INSTABILIDADE NO GOVERNO - acabem lá o estupor do questionário e ponham-nos a assiná-lo o mais depressa possível que se as demissões continuarem a este ritmo só vai sobrar a mulher da limpeza.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O TOINO SIM...


- Ó filha, num te acredites qué tudo uma chuchadeira. O zé carcunda foi lá e nada. Quê? Não filha, fazer fizeram-le um milagre, só que em bez de le desaparecer a carcunda desapareceu-le a carteira. Cheira-me que aquilo é gente que eles foro buscar às finanças e depois andam aí a armados em milagreiros, cumprendes? Milagres fazia o meu toino, esse sim. Uma ocasião iamos no carro a descer D. Pedro V e um senhor entrebadinho numa cadeira de rodas meteu-se a atrabessar a rua. Olha filha, o sinhor biu o toino, lebantou-se num instantinho e começou logo a andar. E depressa. O toino até le deu uma grande cacetada na cadeirinha para ele num recair. Lembro-me perfeitamente porque, depois deste milagre, o toino foi ó neca mecânico e até aprobeitou para dar uma bista de olhos ós trabões. Outro milagre a sério foi o que ele fez ó meu nero. Tinhamos cá em casa a palmira peixeira e o home. O toino foi à dispensa buscar a patinha de presunto para botar na mesa e só encontrou o toco. Nem perguntou. Foi direito ó meu nero, agarrou-o no entre pernas e apertou cum tanta força que deu-se o milagre. O meu nero falou. Disse NUM FUI EU. Baixinho, mas disse. E por acaso até não foi. O toino tinha-se esquecido que já tinha mamado a patinha na semana anterior a ber a bola. O nero num boltou a falar mas ainda andou mais de 15 dias com os olhos munto esbugalhados. Até parece que estou a bê-lo no dia em que conheci o meu toino. Quê? Não filha, num foi em santos pousada, foi no baile do são tantoninho do tilheiro. Eu fui cum a cassilda manca e bi-o logo encostado ó balcão dos boberes. Debias ber a pinta dele a tirar uma catota e a coçar a birilha ó mesmo tempo. Como quem num quer a coisa, chiguei-me e perguntei-le o nome. Ele, cheio de classe, respondeu-me à 007:
- O meu nome é no. Toi...no.
Foi amor à primeira bista. Fixei o olhar nele e ele fixou o olhar na cassilda. Por causa da bergonha, tadito. Depois dançou a noite toda cu ela para disfarçar e até foram os dois embora de braço dado. Mal ela sabia que ele foi botá-la a casa para bir a correr para os meus vraços. Por acaso acelerou tanto que até le abariou o piston. Da meterizada. Eu fiquei de tal maneira, milher que, se ele tibesse aparecido, até o deixaba ser atrebido naquela noite. No dia seguinte o estepor da cassilda para me fazer ciúmes pôs-se a dizer que ele até a tinha feito chiar. Debe ter feito debe, a desenroscar-le a perna postiça que ela tem. A desgraçada ficou tão rancorosa por o toino boltar para mim que rogou-le uma praga. E deu efeito porque o toino lembrou-se de correr a meia maratona da afurada. Por acaso a última bez que ele tinha corrido tinha sido atrás dum eléctrico quando eles passabam na batalha mas num interessa. Partiu em grande estilo só que ó fim dos primeiros 50 metros esticou-se-le o nerbo ciático e nunca mais saiu do sítio. Há quem diga que foi dele ter corrido cus sapatinhos bicudos. Sim filha, os branquinhos mas a mim ninguém me tira da cabeça que foi a bruxa da cassilda. O meu toino ficou de cama quinze diinhas sem se poder mixer. Mas digo-te filha, mesmo parado o toino é de gabarito. Calcula tu que começou a orinar deitado. Punha-se de barriguinha pó ar e fazia mira pó pote que estaba no chão. Parecia o menino que botaste no teu jardim a mijar pó lago. Só que, claro, em tamanho grande. Aquilo é tão difícil que até chiguei a pensar se num se debia incluir a mija do meu toino nas modalidades olimpicas. Pelo menos uma medalha era certinho. 

Agora fico por aqui que bai começar o ramvo 4 e se eu não vir do inicio depois nunca mais apanho o enredo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A BOLA CONTINUA, É NOSSA, É MINHA E TUA A BOLA CONTINUA, NO ESTÁDIO E NA RUA

Companheiros de luta,


Foram décadas de combate, de sacrifício, de sofrimento. Foram gerações inteiras que se bateram para arrancar às garras do patronato a justiça dos nossos direitos. Hoje, aqui estamos uma vez mais na frente da barricada para defender o que é nosso num momento em que é desferido um vil ataque às nossas conquistas. Como é possivel, companheiros, aceitar que um de nós seja tratado com tamanha falta de escrúpulos? Como é possivel, companheiros, pactuar com esta afronta do patronato em querer pagar a esse um de nós uns míseros 360 euros por minuto? Acaso esqueceu as bolas de ouro, as ligas dos campeões ou os campeonatos que brilhantemente conquistou? Porventura olvidou as toneladas de shampô contra a caspa que vendeu? Terá desconsiderado a elevadíssima quantidade de seres humanos que, por via do seu uso, deixaram de ter seborreia ou de coçar a micose? Não, companheiros, o que pretende o patronato é fazer dele um exemplo do desdém, do desapreço e do desrespeito que sente por todos nós, trabalhadores.

É nestas horas que não podemos ceder, companheiros, temos de nos manter unidos, firmes e intransigentes na defesa dos nossos interesses. Vejam, companheiros, o que sucedeu àquela devota trabalhadora da TAP. Deixou-se enlear pelos expedientes sub reptícios do patronato e, em lugar de um milhão e meio de euros a que teria direito com pleno merecimento, acabou por receber uns modestos quinhentos mil euros, valor que a porá, não tarda, à mercê da bondade alimentar da sra dra jonet.


Não, companheiros, o nosso caminho é o da luta, do desarme, do ataque em profundidade e dos remates certeiros na baliza do patronato.


Todos para a frente e juntos marcaremos.


Joaquim chuteiras

Presidente do SAFODA - Sindicato dos Adeptos de Futebol Onde o Dinheiro Abunda

domingo, 1 de janeiro de 2023

ÀS DOZE PASSAS-TE?

 


E se as indemnizações por rescisão de contratos de trabalho passassem de um milhão e meio para uns míseros quinhentos mil euros?

E se a polícia passasse só a controlar radares e abandonasse as ruas devido a uma súbita mas desde logo institucionalizada falta de meios?

E se o número de mortos e de feridos em acidentes passasse Portugal para a cauda da sinistralidade rodoviária da Europa?

E se o futebol passasse a ser mais mas muito mais importante do que a Saúde, a Justiça ou a Educação?

E se o povo num repente passasse de educado, esclarecido e sólidario a mesquinho, invejoso e abrutalhadamente egocêntrico?

E se o branqueamento dentário passasse a ser feito em dentes cariados?

E se todas as desculpas para não fazer, adiar ou fugir às responsabilidades passassem a ser substituídas pelas mesmas desculpas para não fazer, adiar ou fugir às responsabilidades a partir do próximo primeiro de Janeiro?

E se passassemos a acreditar que por mudarmos de um dia para outro dia tudo poderá melhorar embora sabendo que tudo se manterá na mesma ou poderá até  piorar?

E se passássemos a ter um presidente que transformasse a República num big brother aquático/gourmet?

E se o governo passasse a estado grave e tivesse de ser levado para as urgências de um qualquer hospital e esperar 12 horas para ser acudido?

E se 2023 se demitisse?

E se uma canção voltasse a entoar "E depois do Adeus"?