sábado, 29 de setembro de 2012

ESPELHO MEU


Tenho uma mente conspurcada e não foi por me ter atirado ao Tejo
Defendo com galhardia aqueles que quero enterrar
Movo-me de forma isenta, em função dos meus interesses e ódios pessoais
Sou a favor de ser contra, sou contra ser a favor, mas não sou contra o favor
Minto para inventar verdades e digo verdades que são mentira
Defendo o indefensável e ataco o inatacável
Adivinho cenários improváveis porque são os que desejo
Mudo constantemente de opinião porque tenho um intelecto superior
Chamo sensatos aos que deixam que lhes metam as mãos nos bolsos
Só durmo quatro horas por noite. É o bastante para repôr os níveis de veneno
Gosto muito de ler. Sobretudo extractos bancários chorudos
Não tenho aspirações políticas. E não as terei nem que cristo desça à terra
E vejo piquenicões, mas não manifestações
Concluíndo, sou um grande vendedor de peixe que conseguiu transformar a televisão numa lota.

Espelho meu, sei que sabes quem sou eu
Mas esconde este segredo
É assim que saco o meu
A pregar tão triste credo

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

IDE P´RÓ XADREZ


. Naquele jogo de xadrez não se podia dar xeque ao rei. Estava inibido 

. Aprendeu depressa uma das mais perigosas jogadas no xadrez; nunca apanhar o sabonete

. O xadrez político é um jogo onde só se comem peões

. Zangado com o rei, o bispo começou a dizer verdades. Acusaram-no logo de não andar lá muito católico 

. Naquele tabuleiro mandava a rainha. Era xadrez alemão

. De um lado estava o rei com sua corte
  Do outro estavam só pobres peões
  Estalou uma guerra de tal sorte
  Que foi o rei mais a corte aos trambolhões  

terça-feira, 25 de setembro de 2012

NERRÔ, VIEN ICI!


- Alô, Arlete? C'est toi? Ici, c'est Olímpiá qui parle. Quoi? Tu ne pesque rien de que je dis? Je vais parler doucement, vá bien? Tu ne vas pas croyé ce que m'est sucedé. Je ne sais porquoi, mais je m'ai oublié completement de la langue portugaise e je parle uniquement le français. Je pense qu' a été un mosquite que m'a piqué dans le voyage, mais je ne tiens pas lá certesse. Quoi? Oui, j'allais à Espagne mais, en Benidor, j' ai apanhé une excursion en conte et j'allais à France, avec mon nerrô. Oú? À Bayonne qui est lá terre de la piadole; achéte meies bayonne qui vont de lá ponte de le pié à lá ponte de la mone. Tu connais? Quoi? Oui, j'ai amé bien la France mais c'est une terre avec un grand probleme. Il n´y a pas de locales por donner la mije, donc tu cherches, tu ne vois rien e tu restes à rasque. D' une foie est apparu un gendarme qui m'a apanhé avec les cueques dans les mains. Il m'a dit:
- Madame, vous ne pouvez pas pissé dans le fontanaire. Je tiens de vous multer.
Mon nerrô n'a pas aimé le visage de l'homme, a alçé la pate e lui a donné une mije sur la bote. Le gendarme a tiré le cassetête pour acerté le passô à nerrô. Je l'ai dit pour arretêr, mais il m'a repondu:
- Tais toi, vache!
- Vache vochê. J' avais cheguê por lui.
Mon nerrô s' est mis fourieux e lui a donné une grande trinque dans ses penduricalhes. Le gendarme a grité:
- Arralhô!
Je pense qu'il avait origénne portugaise, mais je ne sais pas bien. Aprés, le gendarme a assenté une trolité dans la tête de nerrô qui a commencé a dancer le can can. Je n'avais pas outre solution que donner un croque à rambô au gendarme, qui a commencé aussi a dancer le can can, avec mon nerrô. Ils on fait un pair si joli qu'au final les perssonnes on batté tante palmes, qu'ils tenaient de faire trois encores.
Mantenaint je te vais dire la meilleure parte; j'ai dans le frigo une bouteille de champagne et un pedaçe de foie-grá que j'ai afanné dans le retour, pour tirer la barrigue de miséres avec toi.
An moment Arlete, qui le nerrô est passé avec une chose dans la bouche.
- Ó estepor, se num me trazes aqui o foie-grá imediatamente, palavra de honra que te enfardo cu cassetete que afanei ò polícia. O senhor me perdoe.
- Olha, olha, afinal já me passou o efeito da França...

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O MEU TOINO, SIM...



- Ó filha, num te acredites, qué tudo uma chuchadeira. O zé carcunda foi lá e nada. Quê? Não filha, fizeram-le o milagre, só que em bez de le desaparecer a carcunda desapareceu-le a carteira. Cheira-me que aquilo é gente que eles foro buscar às finanças e depois andam por aí a armados em salbadores. Milagres fazia o meu toino, esse sim. Uma ocasião iamos no carro a descer D. Pedro V e um senhor entrebadinho numa cadeira de rodas meteu-se a atrabessar a rua. Olha filha, o sinhor biu o toino, lebantou-se e começou logo a andar. E munto depressa. O toino até le deu uma grande cacetada na cadeirinha para ele perder o hábito. Lembro-me perfeitamente porque, depois deste milagre, o toino foi ó neca mecânico e até aprobeitou para dar uma bista de olhos ós trabões. Outro milagre a sério foi o que ele fez ó meu nero. Tinhamos cá a palmira peixeira e o home. O toino foi à dispensa buscar a pata de presunto para botar na mesa e só encontrou o ossinho. Nem perguntou mai nada. Foi direito ó meu nero, agarrou-o no entre patas e apertou cum tanta força que deu-se o milagre. O meu nero falou. Disse " Num fui eu ". Quê? Ó milher, tou-te a dizer que disse! Baixinho, mas disse. E por acaso até num foi. O toino é que se tinha esquecido que já tinha mamado a patinha num sábado à noite a ber a bola. Depois disso, o meu nero nunca mais boltou a falar. Ficou traumatizado. Segue-se que filha, pode haber quem faça milagres iguais, mas milhores cus do toino num conheço. Quem? Não filha, esse tirou o curso de doutor num aninho mas num fez milagre ninhum. É munto estudioso. E o quem? O da papelada dos submarinos? Não filha, isso num foi milagre, foi truque. Milagre a fazer-me lembrar os do toino foi o do senhor presidente. Quando? Quando beio um bendabal que le destapou o tilhado da marquise. As chapas biero por ali abaixo e apanharam uns amigos dele que andabo por perto. Quais amigos? O loureiro e o costa que trabalhabo no banco, lembras-te? O sinhor presidente, que estaba cum eles, num tebe um arranhão. Foi um milagre daqueles. Agora filha, bai ber o luís de matos. Num sabes quem é? É aquele rapaz da política. Quase tão bom como o senhor doutor passos.

Ai estais aí, meus amigos? Nem tinha dado fé. Esta arlete põe-se a cunbersar e nunca mais se cala. Tende paciência, falo cunbosco pá próxima que agora num posso. Bou fazer a mala que amanhã, eu mais o meu nero, bamos para benidor. Tamém temos direito a uns diitas de papo pó ar, num é?

Recebei beijos descansados desta bossa Olímpia.

COÇAMOS



Meus amigos,

Em face da deterioração das condições sociais e económicas do país, provocada pela desastrosa acção deste governo, venho comunicar-vos que apresentarei com sentido patriótico, uma moção de censura ao próximo orçamento de estado. Não podemos continuar a aceitar as mentiras de um governo que nos empobrece de dia para dia. Não tenhamos dúvidas que, por consequência das suas políticas, já quase não existe classe média em Portugal. Longe de ser leviana, esta afirmação sustenta-se no critério que distingue de forma insuspeita as classes sociais no nosso país; a forma de coçar os testículos, vulgo, tomates.
A classe alta nunca se preocupou com tal tarefa porque sempre teve quem lhos coçasse. Os mais desfavorecidos coçam-nos despreocupadamente por fora das calças, confiando, na maioria das vezes, o esforço ao indicador e ao polegar. Já a classe média sempre os coçou discretamente por dentro das calças, isto é, com as mãos nos bolsos. Ora meus amigos, o certo é que há muito não vemos ninguém coçar por dentro. Vemos quem passe a vida a coçá-los, quem os passe por cima de quase tudo e até quem só coçe para dentro, mas não é a mesma coisa. Por isso, meus amigos, é com firmeza que vos digo que temos de mudar de rumo, que temos de recuperar o país, que temos, enfim, de voltar a coçá-los por dentro. Como sabem, toda a minha vida os cocei por fora porque sempre estive ao lado do povo. Cheguei a coçá-los de punho erguido em muitas manifestações da classe operária. De uma vez, em que tinha as mãos ocupadas, fui até coçado por uma camarada, num gesto de solidariedade que muito apreciei. Os tentáculos da injustiça, porém, também a mim chegaram; não faltam os que me acusam de nunca ter coçado porque só coça quem tem. A esses quero apenas dirigir uma singela pergunta: se acaso não os tivesse, poderia andar agora a criticar precisamente o mesmo que o meu antecessor fez?
Camaradas, é hora de mostrar que os temos no sítio, é hora de pôr os dos outros de molho, enfim é hora de nos enchermos, aliás, de os enchermos.

CHEGOU A HORA DE COÇAR POR FORA
CHEGOU A HORA DE COÇAR POR FORA

HÁ SÓ UMA SOLUÇÃO, AUMENTAR A COMICHÃO
HÁ SÓ UMA SOLUÇÃO, AUMENTAR A COMICHÃO

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

NAÇÃO À TACADA


- E com todos os extras!
- Ai sim?
- Banheira de hidromassagem, vídeo porteiro a cores, som ambiente
- Maravilha!
- E lambe parquê e porta fichê e um rico WC
- Mas é longe
- Com esta auto estrada à porta?
- E carro?
- Ó meu amigo, eu tenho amigos no banco
- E eles emprestam para a viatura?
- E para a casa e para a mobília
- E o senhor consegue?
- Se consigo? Com jeitinho ainda vai de férias 
- Não me diga
- E quando quiser vender a casa é canja

- Quero que me venda a casa
- Está um bocadinho difícil
- Mas quando lha comprei você disse que era canja 
- Sabe que agora não faltam
- Esta não tem todos os extras?
- Mas é longe
- Então e a auto estrada?
- Tem portagens...
- Que andem pelas secundárias
- Não podem
- Porquê?
- A gasolina upa, upa...
- Então como vou pagar os empréstimos que você me arranjou?
- Arranje-se
- Já percebi. Vou queixar-me da sua imobiliária
- Faliu
- Então onde é que você trabalha?
- Agora não trabalho. Jogo golfe.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

DICIONÁRIO DO OTÁRIO



AUSTERIDADE - carga de trabalhos inflingida por aqueles que provocaram o problema àqueles que eles julgam que terão de o resolver.

COMBATE AO DESEMPREGO - poupança concedida ao capital em taxas e em indemnizações por despedimento.

EMPENHAMENTO - esforço estoico desenvolvido pelos actuais políticos portugueses no sentido de orientarem o povo em direcção ao prego.

NA DEFESA INTRANSIGENTE DOS INTERESSES DA NAÇÃO - expressão muito querida dos actuais políticos. Deve ler-se Na defesa intransigente dos interesses da Facção.

O NOSSO POVO CONTINUA A DAR SINAIS DE GRANDE SENSATEZ - expressão política inspirada na tauromaquia, para significar que não há nada que chegue a um touro manso.

CONSULTOR GOVERNAMENTAL - homem que gosta de ver o povo em tronco nú. Passa a vida tirar-lhe a camisa.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A CORDA POVO!




- Estou no desemprego
- Que desassossego
- Afundaram-me como um prego
- E agora, vês-te grego?
- Vejo-me grego e tudo negro
- Tens de ganhar apêgo
- De cada vez que vou ao prego?
- No pão ou no prato?
- Quem dera! Como sola de sapato
- Isso é muito chato
- Exacto
- Mas mantém-te sensato
- E à familia, dou bicabornato?
- Não, que não é bom para o palato
- Por isso me sobra fato
- Olha que isto vai ficar novo
- Estou é a pôr-me velho
- Tens de ter paciência, zé povo
- Não dura sempre, coelho

domingo, 9 de setembro de 2012

COMUNICAÇÃO AOS PARES


Meus amigos,

Ontem anunciei as medidas de austeridade. Hoje anuncio-vos as outras. Antes de mais quero dizer-vos que podeis continuar como até aqui. A usar e a abusar dos offshores, do trabalho precário, dos recibos verdes, das alterações aos pdm´s, das cunhas, dos cursos rápidos, das prescrições e de outras vantagens que vos tenho proporcionado. Acabei de garantir o suporte financeiro para os próximos meses. Reconheço o muito que há ainda para fazer. Não esqueço que continuais a alimentar a aspiração, aliás, legítima de receberdes a justa indemnização por cada despedimento que promovais. Crede que é firme o propósito deste governo de alcançar tal desiderato. Peço, no entanto, a vossa compreensão, a vossa paciência e mais algum tempo, porque estamos a dar passos seguros nesse sentido. Passos seguros, por acaso não me soou bem. Estamos caminhar nesse sentido. Enquanto não, podeis continuar a seleccionar o que interessa que vos venha a ser privatizado e só tereis de mo comunicar que iniciarei de imediato o respectivo processo. Não posso, no entanto, deixar de vos alertar para o muito cuidado que deveremos ter com a nossa imagem. Dela depende o sucesso do nosso plano. Nunca vos esqueçais de compôr um semblante carregado e grave sempre que falardes de crise e de sacrifícios. Rir podeis, mas só depois de eles virarem costas. Aqui e ali poderemos até cometer uma ou outra, digamos, gafe. Mostrar revolta contra a austeridade antes de eleições não é erro, é fazer pela vida. Afirmar que não haverá mais austeridade e passados uns meses anunciar nova dose não é lapso, é característica de qualquer dos nossos. Não podemos, contudo, exagerar. Aquela de pormos a procuradora adjunta a dizer que isto não é um país corrupto foi demais e o povo defecou-se a rir. Tal facto não ajuda à credibilidade necessária para que eles, acreditando em nós, se mantenham na posição de rebanho sossegado que nos convém.
Meus amigos, só unidos conseguiremos que eles continuem a satisfazer os nossos justos interesses.
Vamos lá aviar o hino.

sábado, 8 de setembro de 2012

SOU UM TRISTE


Meus carros, digo, meus caros portugueses,

Posso finalmente desfazer o tabu. Andava, prontos, taciturno, ensimesmado, melancólico e magoado, porque soube com antecedência do resultado do jogo de ontem. Uma vez mais foram-vos às canelas. Uma vez mais fintaram-vos. Uma vez mais corresteis o campo todo, sem bola. E no final levasteis uma abada. Agora, prontos, mesmo que queirais ir para o banco, não há.
Tanto sofrer afecta-me e de que maneira. Nem consegui acabar a lagostita que estava a comer ao jantar e prontos, dei o resto ao cão. Senti-me tão deprimido que até liguei à paris hilton e pedi-lhe que organizasse um evento em beverly hills, para desanuviar. Ela, prontos, disse-me logo que sim e cheira-me que vai ser coisa de arromba, que de festas percebe ela. Só lhe disse que tem de ter muitos aviões que eu cá gosto de voar. Ela, que também é bastante aérea, disse para ficar descansado e eu, prontos, fiquei. Partilho convosco esta confidência para que percebais a minha mágoa e para que saibais as verdadeiras causas quando lerdes as revistas da fofoquice na fila do centro de emprego. Não quero que vos deixeis endrominar por gente que, prontos, só me quer mal e que até me acusa de andar infeliz por causa do dinheiro. Quero dizer a essas más línguas que não é pelo dinheiro, não senhor. É pela falta dele. Para acabar digo-vos que podeis contar com o meu apoio e compreensão e, prontos, no próximo estágio até vou deixar que tireis fotos ao meu carro. Comigo lá dentro. Aproveito para agradecer ao jorge, o meu empresário, por me ter arranjado tantas palavras que querem dizer triste e que ajudaram a abrilhantar a minha escrita. Agora, prontos, fiquem bem que eu vou treinar. Com a irina.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MARRETAS NA TROBISÃO



- Só um segundo que estou a botar um bocadinho de música no meu gira discos. Prontos, já está.

Pois meus amigos, cá estou mais uma bez para dois dedos de cunbersa. Ou três. Ou quatro. Por falar em quatro lembrou-me agora que já tibe quatro trobisões. As três primeiras, partiu-as o meu toino. Ele tinha um bocadinho de génio, que tinha. Partiu a primeira quando o sinhor ingenheiro sógras beio anunciar o fim da crise. Por acaso gostaba de ter bisto o pograma até ó fim, cu sinhor inginheiro estaba munto bem bestido e até tinha ensaiado antes. Infelizmente deu o nerboso ó meu toino e, quando boltei a ter noticias, já o sinhor ingenheiro estaba em paris de frança. Às tantas aprobeitou o fim da crise para fazer uma semanita de férias em regime de meia pensão, num sei. A segunda partiu-a quando o sinhor doutor coelho beio anunciar cus subsídios iam ó ar. Eu ainda disse ó toino que o sinhor doutor estaba a reinar porque a crise tinha acabado, mas num fui a tempo. Afinal eu sempre tinha razão. Num faltam senhores do goberno e outros amigos que os continuam a receber. A terceira trobisão partiu-a quando nos saiu o euromilhões. Primeiro, o meu toino ficou tão efusibo que até dançou um tango cu meu nero. Só que deu um passo em falso, ganhou lanço e o meu nero saiu disparadinho pela janela. Quando aterrou em cima do galinheiro da arlete pôs-se logo a ganir. Munto gosta de boar, aquele cão! No dia seguinte a trobisão beio dizer que afinal se tinha enganado nos númaros. Foi demais pó meu toino. O senhor me perdoe mas, se num fosse ele, quem partia a trobisão era eu. Num há direito de cortar desta maneira o projecto de bida duma família. A coisa pôs-se tão feia que até tibe de mandar o meu nero à rua passear o meu toino. E dei-le o osso de borracha para o toino correr atrás dele. Ajudava-le a desanubiar a moleira.
Agora se me são licença bou ber um bocadinho da quarta trobisão para me entreter. Pelo sim, pelo não, lebo a marreta. Num bá bir outra bez alguém dizer que acabou a crise e a seguir se lembre de mandar mais alguma coisa ó ar.

Recebei beijos em directo desta bossa Olímpia.

Ó nero, num me apagues o richarde cleidermão que é tão bonito!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

ANALFANETO


Meus amigos, recordar é biber e é bem berdade. Hoje num me sai da cabeça os dias cu meu neto banderlei beio passar cu nós. O meu banderlei é uma riqueza ca gente tem. Mal sabe andar e falar porque é pequenino. Ainda só bai fazer dezoito anos para o mês que bem. Logo no primeiro dia eu bem quis dar-le de comer para botar corpo mas ele é atirado ó esquisito. Pus-le uma chispalhadazita com feijão bormelho e coube à frente e ele em bez de comer disse-me faca em u. Por acaso num estou a ber para que é que ele quer uma faca em u. Só se for para tirar polbos nos penedos, num sei. Pelo sim pelo não, lebou um croque que só deixou um restinho de coube na trabessa. Tirando o comer, num era nada dificil de aturar. Dormia o diinha inteiro e só acordaba para falar ó telemóbel ou para estar no cumputador. Uma bez reparei que ele tinha muntas senhoras nuas no cumputador, mas explicou-me que andaba a aprender ciências da natureza. Tadinho, tão pequenino e tão estudioso. Como dormia de dia num tinha soninho ninhum à noite. Uma bez acordamos às 2 da matina com um estrondo que parecia um abião de carga a aterrar, mas num era. Era o meu banderlei a tocar biolinha eléctrica. Por acaso sou testemunha cu meu toino até se arrependeu; mas só depois de le ter partido a biolinha à marretada e de la ter botado pela janela fora. O meu banderlei para se bingar, afanou-le o chinó e deu-o ó meu nero que le chamou um figo. Quando o descobri debolbi-o ó meu toino, mas ele achou cu penteado estaba um bocadito ó estranho. Eu disse-le que tinha mandado o chinó ó salão de coifure da lindinha para fazer uma mise. Pudera, num le ia dizer que tinha sido deribado ó treino do nero.
Só uma bez é que num gostei do que o meu banderlei fez. Chiguei a casa mais o meu toino e apanhame-lo a fumar. O toino assentou-le logo um biqueiro no cu que até a mim me doeu. Ó segundo biqueiro o banderlei conseguiu desbiar-se, mas lebou com a nossa senhora de fátima na testa, que era a santa cu toino tinha mais à mão. Foi milagre ter batido no banderelei, senão ia direitinha ó espelho de parede que estaba atrás e eram logo sete aninhos de azar. Antes assim. O meu toino ainda se lembrou de tirar duas fumaças antes de apagar a barona. Sei dizer que, de repente, deu-se-le um solabanco no chinó, atrofiou-se-le as bistinhas e começou a dizer que bia panteras boadoras. Depois pôs-se a cantar músicas dum jamaicano conhecido e a babar-se debagarinho. Agora benham-me dizer cu tabaco num faz mal à saúde. Lá acabaram por fazer as pazes e o meu banderlei até ensinou o abô a usar o cumputador para ele tamém aprender ciências da natureza. Em cumpensação o meu toino ensinou-o a escreber o nome cumpleto. Foi bonito.

Tudo é bem quando acaba em bem, num é?

Agora in-de para dentro e recebei beijos desta abó e desta bossa Olímpia.

sábado, 1 de setembro de 2012

SEM PINGO DE BERGONHA



- É o que te digo filha, uma migera sem bergonha. Só quer alourar a pubide e andar na boa biela. Uma bez, o senhor me perdoe, até soltei o meu nero para le ferrar mas ela largou a cadela e eu nunca mais os bi. Só aparecero no dia seguinte, munto juntinhos e foi o cabo dos trabalhos pós separar. É o amor. Eu, com medo cu meu nero biesse cuma carga de pulguedo, dei-le um banhito com soda caustica que o pôs um brinco. Ficou tão cuntente coa labadela que até começou a esfregar-se todo no chão e a dar estreçeguões com as patitas, como naquelas danças modernas. Debe ter aprendido na trobisão, num sei. Agora bou ter que ficar por aqui filha, que tenho os meus amigos criatibos à espera. Bota uma mantinha pelas costas que tá fresco e num te esqueças de logo ber o Rambo. Não filha, num é o 3, é o 4 que inda é milhor. Bais ber como aprendes a dar uns croques balentes.
Meus amigos, estaba aqui ao telefone com a minha amiga arlete, a falar da berta. É o estepor duma bizinha que eu tenho. Tão amigos que eramos dela, eu mais o meu toino e foi-se a ber, saiu uma bíbora. Um domingo bateu-nos à porta toda esgrobiada a dizer que tinha a canalização rota. A da cozinha. Apanhou o meu toino a praticar o disporto faborito dele; a obrar e a ler o notícias. Por acaso o meu nero tamém gosta de praticar o mesmo desporto; só que num lê o notícias. Lá tebe de ir o meu toino cum dois sacos cheios mais o maçarico ó dependuro para casa dela, botar-le um pingo de solda. Inda o bi na janela da cozinha dela a acender o maçarico. Depois fui para dentro e quando bim cá fora botar o chinó do toino a corar é que topei tudo. Enquanto o meu toino estaba na cozinha dela a tapar-le o buraco, a desabergonhada estaba no quarto ao lado, na brelaitada cum careca. E ainda por cima o careca tinha uns sapatinhos brancos e umas meias pretas, iguaizinhas às do meu toino. A páginas tantas o careca bestiu-se de super home, mas só da cinta para cima, subiu ao cimo do guarda bestidos e mandou-se. Num debe ter acertado que foi cá um estrondo que até me estremeceu as paredes da casa. Agora que estou a falar nisto lembra-me cu meu toino tamém gostaba de se bestir de super home. Lá está, os homes são todos iguais. Com uma diferença; o meu toino tiraba sempre os sapatinhos e ficaba em queturnos. Para poupar. Depois deixei de ber o careca mas ainda bi a cabeça da berta na janela, para cima e para baixo um bom bocado. Quer dizer, depois daquilo tudo, a matrafona ainda se pôs a fazer flexões. Parece impossíbel! O meu toino, tadito, chigou-me a casa feito num molhinho e cum braço ó peito. Disse-me que foi do caímento. Da tubage. O que me quilhou mais foi que no fim, a galdéria nem obrigado disse. O meu toino, tadito, fartou-se de me pedir para lá ir botar-le outro pingo de solda, mas eu nunca mais deixei. Era o que faltaba, deixá-la andar a brincar com a boa buntade dos outros.

Fico-me por aqui, meus amigos. Tende cuidado cu a bizinhança e num bos esqueceis de ber o rambo que é munto educatibo.

Recebei beijos repenicados desta bossa Olímpia.