quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

REDACÇÃO DO NATAL


Eu gosto muito do natal. O natal é por causa de ter nascido um menino chamado jesus. O menino jesus era muito pobrezinho. Se quisesse, o menino jesus podia ter nascido muito rico e em vez do natal até podíamos comemorar as vitórias de algum clube de futebol que ele tivesse comprado. Mas não. O menino jesus quis nascer muito pobrezinho para dizer que devemos ser muito amigos dos pobrezinhos. No natal. A nossa rua tem o toninho que é tão pobrezinho como o menino jesus. Neste natal fomos muito amigos do toninho. A minha mãe deu-lhe duas águas de colónia que lhe tinham sido dadas no natal passado pela tia esponjosa e o meu pai deu-lhe o cartão que vinha a embrulhar o frigorífico novo que compramos este natal. O toninho passou a ter uma casa nova e a andar todo perfumado. Já quase nem se nota aquele cheiro a suor que os pobrezinhos têm. Eu também fui muito amigo do toninho. Dei-lhe uns jogos que já não servem na playstation 4 que o pai natal me deu este natal. O toninho ficou tão contente que até os guardou no caixote do lixo preferido dele. Ainda bem que existe o toninho, para nós podermos ser amigos dos pobrezinhos e ainda bem que existe o natal para nós nos lembrarmos do toninho.
Eu gosto muito do natal.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

FORÇA NOS COLETES


Aos organizadores do próximo protesto de coletes amarelos na cidade do Porto e de forma a massificar a adesão, deixo as seguintes sugestões:
1. Alteração do nome do protesto, de coletes amarelos para coletes motorizados que não páram nos amarelos
2. Concentração das viaturas em postos de abastecimento e agências bancárias pré definidas, com a oferta de um depósito de combustível a cada manifestante, ou liquidação de uma prestação em atraso do empréstimo da respectiva viatura
3. Percurso em marcha lenta na direcção da Av. dos Aliados, com protestos em todas as atracções turísticas da cidade, incluíndo caves à escolha com provas à discrição
4. Protesto no guedes do pernil pela falta de drive in e degustação das reputadas sandes, acolitadas de genuíno queijo da serra à maneira
5. Chegada ao destino e protesto dançante ao som de banda lusa, marante e toy, com distribuição de Ipads à petizada
6. Encerramento do protesto com majestoso fogo de artifício a cargo da empresa costa & celo, S.A.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

ERA UMA...


Quis ser original por uma vez e em vez de era uma vez começou por eram duas vezes. Mas as vezes enviesaram-se porque não queriam ser vezes duma vez, mas vezes à vez. Pensou uma e outra vez, pensou até que talvez uma desse a sua vez, mas as vezes olharam-no de viés. Pensou em um dia para fazer a vez das vezes, mas nenhuma das vezes queria que lhe tirassem a vez. De vez em vez pedia às vezes uma e outra vez, mas cada vez que o fazia perdia a vez ou as vezes. Às duas por três foi de vez. Ou foi de duas vezes. E começou por era uma. Vês?

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

ARRASTÃO


Exmo sr dr rui moreira,

Consciente do forte empenho de v exa na modernização turístico-empreiteira da cidade, a APENAI - Associação dos Profissionais Especializados No Arrastamento de Imóveis, vem respeitosamente disponibilizar os seus serviços à autarquia que superiormente dirige.
Como primeira medida, propomos o arrastamento da ponte da Arrábida para montante, de modo a permitir a valorização de toda a zona com a implantação de imóveis, na senda dos que já se encontram em construção. Enquanto não forem concluídos os novos acessos à ponte, a ligação Porto Gaia poderá ser assegurada pelos helicópteros da douro azul, com possibilidade de desconto para utentes diários.
Como segunda medida, propomos o arrastamento da estátua do rei D. Pedro, do centro da Praça da Liberdade para a porta do mcdonald's. Liberta-se um espaço nobre para a edificação de mais um hotel e, alterando-se o nome à estátua, a cidade passará a ter o rei dos hambúrgueres.
Como terceira medida, propomos o arrastamento de todos os habitantes das ilhas e das casas degradadas da zonal oriental para fora da cidade. Poderão permanecer os roedores que por lá coabitam, espécies consideradas bastante típicas pelos turistas. Não se tratando de imóveis, ainda assim este serviço cabe no objecto da nossa actividade, uma que vez que também arrastamos monos.
Informamos ainda v exa que estabelecemos uma joint venture com a ANEF - Associação Nacional dos Entubadores Fluviais e, nessa medida, propomos o entubamento do rio Douro em toda a zona ribeirinha da cidade, por forma a proporcionar aos portuenses aquilo que há muito desejam e merecem; uma desafogada zona pedonal.

Cientes do bom acolhimento das nossas propostas por v exa, apresentamos os nossos melhores empreendimentos, ou melhor, cumprimentos.

Atenciosamente,
APENAI

VRRROOM, VRRROOM


Exmo sr dr rui moreira,

A ADQAPCVDC - Associação Dos Que Até Para Cagar Vão de Carro, vem solicitar a v exa o atendimento urgente das suas legítimas reivindicações:
1. Reparação imediata de todos os passeios degradados, de forma a que os nossos associados possam estacionar as suas viaturas em cima deles, em segurança. Há actualmente associados que são obrigados a estacionar em cima do passeio em frente e a atravessar a rua a pé, chegando a percorrer mais de 20 metros para acederem ao recato dos lares.
2. Eliminação imediata de todas as lombas redutoras de velocidade pelo desgaste injustificável que provoca nas suspensões das viaturas, muito mais onerosas do que quaisquer lesões que possam resultar de um eventual e não comprovado aumento de atropelamentos.
3. Abertura imediata de todas as zonas verdes da cidade à circulação e ao estacionamento automóvel. Temos já tudo preparado para fazermos um pick up nicão no parque da cidade, dentro das nossas viaturas, com a animação musical a cargo do sr joaquim barreiros, que entoará o nosso hino "meto o carro, tiro o carro, à hora que eu quiser".
4. Eliminação de todas as ruas pedonais ou, pelo menos, aplicação a todas elas do modelo da rua de Santa Catarina. Sendo pedonal, permite que os nossos associados circulem e estacionem nela como muito bem entendem, o que denota a elevada sensibilidade de v exa para as nossas dificuldades.

Continuaremos a pugnar com firmeza por uma cidade de alta cilindrada e com todos os extras, esperando de v exa a prestimosa e indispensável colaboração.

Abaixo a ditadura pedonal
Pela motorização de Portugal

Atentamente

ADQAPCVDC

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

COMUNICADO DA ABAFA




Está a decorrer o processo de escolha da palavra para o ano de 2018. A ABAFA - Associação dos Banqueiros Amigos das Finanças Alheias propõe as palavras INOCENTE, CAUÇÃO e RECURSO. A ABAFA agradece uma onda de apoio em torno das suas propostas mas de modo algum pretende uma reacção em cadeia

QUE GRANDE PODA!


Exmo sr dr rui moreira,

Chamo-me dick e o meu nome é uma singela homenagem à terra que me viu nascer, as Caldas da Rainha. Escrevo-lhe porque não posso conter por mais tempo a minha indignação e, sobretudo, a minha bexiga. De cada vez que corro a alçar a perna junto de uma árvore, a dita já não está lá, tantas foram as que v exa deitou abaixo. A sua acção confunde as rotinas dos meus donos e obriga-me, cada vez mais, a recorrer à posição de caçador, que tanto me consome as artroses das patas traseiras. Peço-lhe por isso que cesse de imediato tal sangria, a bem do oxigénio, da frescura, da beleza urbana e da minha qualidade de vida.

Apresento-lhe calorosas saudações caninas, que é como quem diz, Au, Au.

P.S. - se acaso lhe tiver suscitado admiração o facto de um cão lhe escrever, a explicação radica em ter aproveitado o curso das novas oportunidades do sr eng. sócrates, ele próprio a aproveitar novas oportunidades na Ericeira.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

CRISTAL NÃO, SUPERBOCK


Exmo sr dr moreira,

Tenho uma casinha de prostituição. Podia dizer-lhe que é de cuidados continuados mas, para mim, a franqueza acima de tudo.
Sonho com a internacionalização do meu negócio e tenho investido nele com tal denodo, que nem tempo me sobra para outras actividades de que estou investido. Dirijo-me a v exa para lhe propor uma parceria público - privada que, estou em crer, muito contribuiria para projectar o nome da cidade e da minha casinha além fronteiras. Teve v exa o fino gosto de escolher "superbock" para futuro nome do palácio de cristal. Permita que ao bom gosto de v exa junte o meu e o dito palácio passe a denominar-se "gajas e superbock". Tendo em conta a conta em que nos têm os europeus do norte, julgo tratar-se de nome adequado à captação de tão atractivo segmento de turismo.
Mereça a minha proposta acolhimento e poderá v exa contactar-me directamente ou, na minha ausência, através da minha técnica informática emília, que é como se fosse eu.

A bem da nação.
Joseca silvano

sábado, 24 de novembro de 2018

NEGRA FRIDAY


Corram todos a comprar
Que há preços de ocasião
Não se deixem atrasar
Não se esqueçam do cartão

Há bons beijos e abraços
Feitos para a fotogenia
Na compra de quinze maços
Oferecem a TV guia

Há senhas intransmissíveis
Que se transmitem sem querer
A preços tão imbatíveis
Que vão todas as que houver

Há subornos e favores
Mentiras por todo o lado
Praxes feitas por doutores
A preços que é quase dado

Há sucessos grandiosos
Que duram só um instante
Mas têm descontos jeitosos
E dão um efeito brilhante

Há riquezas e vaidades
Não as ter é desumano
Comprem grandes quantidades
Que só se paga para o ano

Não digam que não avisei
É uma negra friday

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ò MILA, OLHÁS CUECAS


Há de todos os feitios
Tecidos, cores e tamanhos
Usam gordos e esguios
Usam finos e tacanhos

Há quem não lave amiúde
Ou quem tenha desmazelo
Quem as vista cor de crude
Ou quem as use com selo

Há umas que são baratas
Mas para além das comichões
Causam outras malapatas
E apertam os joelhos

Há as de fio dental
Quem as usa vê-se grego
Dão aquele ar sensual
Mas metem-se muito no rego

Há quem goste do tarzan
E prefira a bela tanga
Solução melhor não há
Para quem quer soltar a franga

Há quem peça com carinho
- Mete-mas, ò meu amor
E se a mulher é do Minho
Fá-lo bem e sem favor

E para forrar a algibeira
Ou por ser um mandrião
Há quem viva a vida inteira
Com elas sempre na mão

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

QUE RICA HISTÓRIA


Certo dia, arreava el rei D. Dinis o real calhau no pinhal de Leiria quando, de repente, viu irromper por entre toros queimados a deputada mila. De um salto se pôs em pé, mas puxou os collants com tal desjeito, que entalou um ramo de pinheiro nos reais penduricalhos. Assumida a soberana postura, ainda que com óbvio desconforto, El rei interpelou a deputada:
- Senhora minha, que fazeis por estas paragens?
- Passeio meu senhor, passeio. Respondeu mila.
Desconfiado com o ventre avantajado da mulher, o monarca demandou-lhe:
- Que levais vós em vosso regaço?
- Nada de especial, meu senhor. Insatisfeito El rei tornou:
- Por acaso não transportais uma carrada de moletes disfarçados de rosas para me comerdes a cabeça, não?
- Não, meu senhor. O que levo são passwords. Explicou mila.
- E isso que dizeis, serve para quê? Para tirar disfarçadamente galhos das cuecas? Ironizou o soberano com a secreta esperança de que a resposta pudesse ser afirmativa.
- Não, meu senhor, serve para que alguns não sejam apanhados em cuecas.
El rei pensou que aquilo até lhe poderia ser útil, mas não quis dar parte de fraco. Pensativo, regressou ao castelo montado no seu esbelto alazão. Descaído sobre o lado esquerdo da sela que o ramo de pinheiro se acabara de alojar na zona testicular direita

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

INA DIVERTIDA MENTE


Eis o circo monumental deste lindo Portugal. Convosco o grande silvano, um artista transmontano e sua partenaire mila, minhota muito reguila, num número de aparato que se chama aqui há gato. Silvano sempre elegante no seu fatinho brilhante vai para dentro do canhão, enquanto a mila ofegante, dança toda espampanante e prepara a combustão. Mete bem o fogo à peça e vai silvano depressa para os lados do Marão. Toda a gente o viu voar mas estala a confusão, com a mila a querer teimar que ele está, mas no canhão.
O povo desconfiado com número tão arrojado quis saber qual era a manha. Fez algazarra tamanha que à mila não mais restou que dizer que se enganou. E o grande artista silvano mudou logo de plano. Não quer ser mais bala humana, nem com ponte para a semana

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O RAP DA MILA


Yo, yo, tásse bem

Sou uma rapper popular
Para os amigos sou a mila
Gosto muito de rimar
De preferência com a pila

Que as mulheres do alto Minho
São dadas à convivência
Nem no prédio do coutinho
Há virgens ou inocência

Aproveito para dizer
Que me sinto muito honrada
Faço o que tiver de ser
Em prol da minha bancada

Mas não quero confusão
Com a senha do silvano
Foi para servir a nação
Que a meti por engano

A minha seriedade
Impede-me de fingir
Só sei falar a verdade
Nem que tenha de mentir

Yo, yo, tásse bem

sábado, 10 de novembro de 2018

METE-MA


Impossibilitado que estava de comparecer por motivos inadiáveis, o sr deputado silvano pediu à sra deputada emília que lhe registasse as presenças na AR. O sr deputado silvano ficou depois estupefacto com o alarido causado por conseguir estar em dois locais ao mesmo tempo.
Assiste inteira razão ao sr deputado, pois que de uma situação banal se trata. Vejamos: muitos são aqueles que conseguem estar no pleno exercício da sua actividade profissional e na discoteca abanóku ao mesmo tempo. Muitos são também os que conseguem comparecer numa reunião de objectivos comerciais e no motel kekaboa em simultâneo.
Muitos são ainda os que participam em acções de solidariedade a favor dos pobrezinhos, enquanto ocupam o quarto 27 da pensão da D. Penélope que, não desfazendo, é casinha asseada. Poderão ter de conviver com uma ou outra reclamação familiar, mas jamais terão os microfones da comunicação social a amplificar-lhes a ubiquidade. O sr deputado silvano só porque serve a nação na casa da democracia não é menos do que os outros, pois claro.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

CRÓNICA DA FAMÍLIA


- Boto prédios ao alto! É desta forma que o quim trolha se define e bem assim à profissão. Começou cedo o quim. Entrou para a escola cheio de vontade e saiu com mais vontade ainda. Trocou a segunda classe por servente de segunda e a lapiseira da sacola por um lápis atrás da orelha. Hoje o quim é uma voz respeitada no ramo da construção e todos escutam o seu conselho de mestre:
- Bota-le massa!
A mulher do quim é a sãozinha. A sãozinha é muito achacada a pontadas. Ontem começou-lhe uma num dedo, subiu-lhe pelo braço, desceu-lhe pelas costas e alojou-se-lhe nas cruzes. São um calvário as pontadas. A sãozinha até se candidatou àquele programa de desgraças da fátima lopes. Só está à espera de ter uma trombose ou de ser atropelada para cumprir os critérios mínimos de selecção.
O quim, quando vê a mulher em sofrimento, receita-lhe sempre o mesmo remédio:
- Bota-le aguardente!
O quim e a sãozinha têm um filho que é o litos. O litos é um artista plástico com indubitável vocação para a pintura. O quim acarinhou o talento do filho e pô-lo a pintar desde pequeno. As paredes das obras. Num ápice o miúdo revelou uma firme tendência para a pintura abstracta, até porque não lhe fazia tantos calos nas mãos. Sempre que termina um quadro, o litos tem todo o gosto em mostrá-lo aos pais. A sãozinha gosta de todos, estejam ao alto, de lado ou de costas, já o quim é um crítico exigente. De cada vez que vê um, diz peremptório:
- Bota-o ò lixo!
Há dias o litos apareceu em casa a dizer que era gay. Ao princípio o quim achou bem e até lhe perguntou onde ficava a igreja. Quando o filho lhe explicou que não era religião, o quim pegou nos quadros e enfiou-lhos na cabeça. Várias vezes. O litos até perdeu a cor mas o pai deu-lhe logo uma demão. Sem tinta. A sãozinha, essa teve uma grande pontada que lhe começou na parte de trás de um joelho, subiu-lhe pela perna, passou-lhe pelo rego e enfiou-se-lhe nas costelas. Ficou de todo. Com o remédio do quim, a sãozinha lá melhorou, o litos é que continua empenado. Mas há males que têm bens e o quim aproveitou o empeno para disfarçar. Diz a toda a gente que o filho anda agarrado a uma estrangeira. Não deixa de ter algum fundo de verdade o que diz, que o litos ainda não largou a canadiana.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

CRÓNICA DA AMIZADE



Não as matei todas mas liquidei bastantes. Refiro-me às saudades que sentia do rique e do tone, amigos de infância que não via vai para anos. Foi depois de um café curto, com um cheirinho a progresso vindo das obras de um hostal ao lado, que repescamos as vidas.

O rique está muito bem. Pegou na técnica de dormir com os olhos abertos que tinha desenvolvido em catraio na missa e usou-a para ganhar a vida. Faz de estátua em Santa Catarina. Especializou-se na figura do Adão, com a parra, a maçã e um cachecol em lã besul, quentinho, para não constipar. A profissão é puxada mas o rique nasceu para estar quieto. Passa horas sem bulir um milímetro, nem sequer quando as moedas cantam no penico de esmalte que tem à frente. A semana passada é que precisou de se mexer bastante. Veio um pastor alemão direito a ele, com ar de quem queria trincar mas não a maçã. O rique soltou um guincho, pinchou do caixote e desalmou-se a correr rua abaixo. Só parou na casa das tortas a embutir finos e a agasalhar pastéis de chaves para se recompor. Nem reparou que, na correria, tinha perdido a parra. Não foi pecado mas foi original ver os turistas fazerem fila para tirarem selfies com o Adão integral.

Já o tone subiu a corda a pulso. Começou por falir uma loja dos trezentos, depois faliu uma de tudo a um euro e só não mandou à vida uma de compra-se ouro porque a penhora chegou antes. Ainda andou com uma t shirt a dizer "quer emagrecer, pergunte-me como" mas estava um chibo e o pessoal desconfiou. O negócio foi-se finando até o tone ficar pele e osso. Ao menos fez-lhe efeito. Andava ele desesperado a desfazer-se dos bens de uma tia afastada, quando um cunhado que trabalha na Câmara lhe ajeitou para vender casas. Diz o povo que não há mal que sempre dure e com razão. A tia voltou a ter sossego e o tone passou a ser um exímio consultor imobiliário. Ainda há dias vendeu um apartamento na rua do Almada, pequenino mas muito aconchegante. Só teve de tirar o cão lá de dentro e de dar uma refrescadela às paredes. Tinham muito pêlo agarrado. Os compradores estrangeiros ficaram radiantes. Dormem com os pés de fora, é certo, mas não há problema. Usam carapins. E foi uma pechincha, nem chegou a 150.000 eur. O tone gostou tanto deles que até lhes ofereceu um disco do marante que sacou na vandoma por euro e meio. Assim os estrangeiros têm música tipicamente tripeira no loft dog evolutive. É o nome que o tone deu à casa.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

COMÉ CA DIBINHASTES?


- Hoje levantei-me cos azeites e fui bergar a mola de tromvas. O chefe taba co toco, chamou-me sostra e tebe pa lebar co chuço. Depois beio o senhorio chagar que le ferrei o jeco. Debo-le cinco rendas e o gaijo a arrotar postas de pescada. Mandei-o dar vanho ó com, meti-me no gaiolo e fui de cu tremido encher a mula. Tibe galo, apanhei grizo, fiquei de molho
- O senhor desculpe, é do Porto, não é?
- Eue? Bai no vatalha...

domingo, 4 de novembro de 2018

CRÓNICA DA MEMÓRIA


No tempo em que nasci não havia crianças. Eramos todos homenzinhos e mulherzinhas. Nesse tempo havia um abade na igreja da minha freguesia. Homem imponente, careca enorme, rosto sombrio. A ser representante de deus na terra, como se dizia, deus deveria ser um daqueles homens do saco com que as mães ameaçavam os filhos avessos à sopa. Era dele a missa das 10h, ao domingo, para pavor de todos as mulherzinhas e homenzinhos da catequese da paróquia.

A missa era grande como ele e a homilía pesada como ele. Falava dos anjos, dos santos, do juízo final, enquanto eu pensava nas cuecas que a minha mãe me dera e que apertavam quase tanto como a homilía. A meu lado sentava-se o rique. O rique tinha desenvolvido uma técnica de dormir de olhos abertos que dominava na perfeição. Só se percebia que dormia pelo fio de baba que, a espaços, lhe escorria do lábio inferior. Que inveja tinha eu do rique. A mim e aos outros nada mais restava do que contorcermo-nos disfarçadamente nas cadeiras para aliviar o medo e o tédio que a imponência falante nos causava.

Após a homilía seguiam-se os cânticos. O coro do abade eram os dois sacristãos da igreja. Um baixo, gordo e velho, o outro alto, magro e novo. As diferenças entre ambos aumentavam quando o fervor dos cânticos lhes escancarava as bocas. O mais velho exibia o único dente que se lhe mantivera fiel, o mais novo ostentava duas fileiras deles, tão compridos que lembravam cavalos a relinchar. O timbre das vozes também os separava. O velho soltava graves abafados, alguns dos quais nem chegavam a sair, presos que ficavam no dente estóico. O novo esganiçava agudos como se lhe estivessem a apertar as partes baixas com um alicate de pontas. Era o medo maior que se instalava; o de rir. Eu assistia à actuação com uma expressão seráfica, libertando a pulsão do riso através de convulsões abdominais que a camisola larga dissimulava. Tinha de ser. Lembrava-me bem do que sucedera ao tone; não aguentou e deixou fugir uma gargalhada. Ainda disse deus me salve para fazer de conta que tinha espirrado, mas de nada lhe valeu. O abade parou a missa, chamou-o ao altar e esmagou-o de vergonha perante a igreja apinhada. Aterrado, até imaginei a minha sala de aula na escola primária com a cara vermelha do abade ao centro, ladeada pela cinzenta do salazar e a branca do tomaz. Coitado do tone. Ao regressar ao lugar ainda levou um puxão de orelhas do pai, muito amigo do abade, que lhe metera uma cunha para a irmã ser empregada de escritório.

A comunhão era outro momento difícil. Recebiamos o corpo de cristo em fatias finas, pegajosas, que se colavam ao céu da boca. A tentação de lá ir com o dedo era logo reprimida pelo olhar ameaçador dos catequistas. Tinha uma boa cola o corpo de cristo. Tão boa que, depois da comunhão só o abade falava português. Nós respondiamos com a língua entalada sabe-se lá em que parte do corpo da divindade. O fim da missa não trazia o alívio pois que logo iniciava o ensaio para a comunhão solene. Que o abade acompanhava de perto, pois claro.

No tempo em que nasci não se falava em pedófilia, é um facto. Mas que já se abusava de homenzinhos e de mulherzinhas, lá isso já.







sexta-feira, 2 de novembro de 2018

EUCALIPTIZAÇÃO DE PARQUÍMETROS


Põe aqui, põe acolá
Põe também mais adiante
Põe ali que ali não há
Põe-se tudo num instante

Põe seguido e intercalado
Põe depressa que é urgente
Põe muitos por todo o lado
Põe a pagar toda a gente

Tira árvores e passeios
Enche ruas e avenidas
Põe em quarteirões inteiros
Nas entradas e saídas

Põe da Sé até ao mar
De Campanhã até S. Bento
Que isto assim a parquear
Dá-nos muito rendimento

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DUARTE LIMPA. O SEBO


Digníssimo sr presidente do Brasil,

É com incontida emoção que o parabenizo por tão retumbante e merecida vitória. Que os ventos da sabedoria, do equilíbrio e da temperança continuem, como até aqui, a soprar de feição para v exa. Gostaria de aproveitar o ensejo e convocar o inigualável bom senso de v exa para o esclarecimento de uma dúvida que, embora diminuta, se mantém pertinente. Daqui para a frente o que acontecerá se, por um infeliz acaso, o honesto cidadão disparar a sua pistola sobre um assaltante? E se por um acaso ainda mais infeliz esse assaltante for do sexo feminino e aparentar, digamos, uma provecta idade? E se por retorcida ironia desse acaso infeliz a bandida for titular de um muito razoável pé de meia? Ficará o honesto cidadão liberto de qualquer libelo acusatório? Seja a resposta de v exa a que espero e creia que inundará de felicidade um amigo que, exímio executante de órgão, tanto gostaria de aí voltar a dar música.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

RAP IMBA


Boas a todos, mother fuckers,
O meu nome é TC PAMPY SERRA e sou rapper. Subi a corda a pulso. Comecei por ser um mother fucker dum trolha, mas já nessa altura sentia o bichinho da música ao dependuro em mim. Podem dizer que uma coisa não tem a ver com a outra mas tem. As minhas primeiras músicas estavam cheiinhas de ritmo, porque foram feitas a martelar e a chapar massa. As letras eram inspiradas nas conversas dos mother fuckers dos meus colegas. Eram letras de intervenção, muito à base de bagaço, putedo e futebol. Mais tarde conheci uma mother fucker duma garina bastante dada à gota e ao convívio. Sobretudo ao convívio apertado, que a cama dela era de solteiro. Até lhe fiz um rap, que começava assim:

Yo, Yo, tásse bem
Mulher não sei a quem sais
Deixas-me sempre arrasado
Tu queres que eu martele mais
Que o meu próprio encarregado

O convívio foi de tal maneira que passado pouco tempo tive de lhe fazer outro rap, que começava assim:

Yo, Yo, tásse bem
Isto de dar tanta queca
E de beber tanto vinho
Pôs-me num instante careca
Que já uso capachinho

Estava todo lançado para ter uma mother fucker duma carreira, quando se deu o descalabro. A garina nagou-se e a mim deu-se-me uma grande pontada. Na vontade de andar nas obras. Resultado, perdi as fontes de inspiração e tive de pedir uns apontamentos emprestados. São todos sobre o mother fucker do amor, mas antes isso que as obras.
Yo, Yo, tásse bem

ALEIJAMENTO LOCAL


O sr dr rui moreira não vai limitar o alojamento local no Porto porque, segundo ele, "não podemos matar a galinha dos ovos de ouro". Pelo contrário, o que o sr dr quer é alimentá-la bem, com doses suculentas de cidade. Às segundas, quartas e sextas dá-lhe despejos mal passados que a galinha tanto aprecia. Às terças, quintas e sábados apaparica-a com hotéis, hosteis, tascas gourmet e francesinhas vegetarianas. Ao domingo embebeda-a com Porto e leva-a a andar de helicóptero para que ela largue os ovos mais depressa. Por este andar a galinha ainda vai ter de meter uma banda gástrica e inscrever-se numa qualquer associação de álcoólicos anónimos

sábado, 20 de outubro de 2018

BEIJO BEM OU VEJO MAL?


Está lá vózinha, daqui é o teu netinho. É para te dizer que vi um sr professor dr na televisão e a partir de agora só te dou beijos telefónicos. Ele disse que os outros podem causar-me traumas e, como ele é professor doutor, deve ter razão. Que o titi passe a vida a apalpar-me o cagueiro está bem que ele é como o sr professor dr presidente, gosta muito de afectos. Que o sr padre ponha a minha mão no castiçal dele enquanto me confessa também está certo, que todo o castiçal precisa que se lhe puxe o lustro. Agora beijos aos avós, tem paciência mas não, que não sou de abusos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

À TONA DO OUTONO


- Quero uma dúzia de castanhas
- Não vendo castanhas
- Mas você está a assá-las
- É para disfarçar. Eu vendo é vistos gold, quer um?
- Não
- E uma sentença favorável?
- Não
- E umas amigas catitas para passar bons momentos?
- Não. Só quero castanhas
- Olhe que são quentes e boas

terça-feira, 2 de outubro de 2018

É A VIDA


Entrava no café como numa passerelle. Unhas enormes de vernizes ofuscantes, vestidos cornucópicos, cabelo mais armado que o rambo, tacões em forma de precipício. Não se viu durante algum tempo, depois reapareceu. Despenteada, desleixada e grávida. O que um homem faz a uma mulher.

sábado, 29 de setembro de 2018

NOVOS PROVÉRBIOS POPULARES PORTUGUESES


Ao menino e ao borracho rouba-se tudo por baixo

Ladrão que rouba a ladrão suspende-se aos 2 a prisão

A cavalo roubado não se olha a patente

O que rouba o meu amigo meu amigo é

Se queres ter um casarão muda-te para Pedrógão

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

É DE CAMPEONATO


Coçou o testículo esquerdo com leveza. Equilibrou o palito sobre a orelha com mestria e classe. Terminou com uma cuspidela em voo suave, balanceado e longo.
A plateia irrompeu numa estrondosa salva de palmas. Conseguiu 9.8 de nota técnica e 9.9 de nota artística.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

TANCOS YOU


Exmo sr general, v exa mostrou sobre Tancos que merece ainda mais medalhas do que aquelas que o seu peito exibe. Que rica lição de táctica militar nos deu. Nunca se comprometeu, nunca confirmou, nunca desmentiu. Nada. Só tem de ter cuidado não vão palmar-lhe as medalhas aí dentro

terça-feira, 18 de setembro de 2018

COSTAS OU NÃO COSTAS?


Aproveito este momento para parabenizar v exa. Que bem lhe fica esse ar "queijual". Metesse v exa ao ombro um daqueles tijolos sanyo a debitar Bonga e ficaria perfeito o figurino. Há quem tenha ficado com uma lágrima ao canto do olho, eu apreciei tanto que até fiquei kizomba

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

RAZISMO NÃO! MADURO DINDO


Esta goisa do razismo por gausa da cor da pele não bercebo. Agui em afanães não temos broblemas dezes. De manhã agordamos todos vrancos e até um vocado amarelos; à tarde bamos pró tasco e ficamos todos vermelhos; à noite bemo-nos negros pra zair. E damo-nos todos vem

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

OS OUTROS TAMBÉM FAZEM


Zacarias tira a passa
Lança para longe a beata
Por algo que o ultrapassa
Começa um fogo na mata

Depois tem a bela ideia
De fazer uma queimada
Um incêndio chega à aldeia
Por culpa duma nortada

Fogos por todo o lado
Que situação lamentável
Diz Zacarias zangado
É só gente irresponsável

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

ALIANÇA MEIO SECO


Sempre nutri uma profunda admiração por v exa e sobretudo por essa madeixa capilar traseira que lhe confere um ar tão distinto. Fiquei todavia desapontado quando o ouvi dizer que o seu partido é para pessoas normais. Com essa exigência tão discriminatória temo que nem v exa entre

terça-feira, 28 de agosto de 2018

PODRE OGÃO


"Os outros também fizeram" foi a frase que mais se ouviu como desculpa, na reportagem da TVI sobre Pedrógão. A mesma frase que mais se ouve sempre que se infringe. A aceitação e a banalização de comportamentos abusivos potenciadas por um sentimento de impunidade que mina o país

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

FOGO DE VISTA


Zacarias é esperto
Sabe usar a inteligência
Dirigiu-se ao homem certo
E mudou a residência

Mestre nas reconstruções
Do palheiro fez um lar
Usou bem as doações
Para poder veranear

Satisfeito não ficou
Sentiu um grande azedume
O fogo não o queimou
Mas tudo o que veio a lume

domingo, 26 de agosto de 2018

DESCULPEM E NÃO SE FALA MAIS NISSO


A igreja católica ameaça os pecadores com o fogo do inferno mas os padres pedófilos não parecem preocupados. Devem ter feito uma vaquinha e adquirido 3 kamov para despejar água benta

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

MERDIÁTICO


Zacarias desportista
Foi correr para o pinhal
Disse-lhe o nutricionista
Jogging é fundamental

Mas um fumo traiçoeiro
Instalou a confusão
Levou banho dum bombeiro
E a seguir dum avião

Ainda assim todo encharcado
Quis correr dali para fora
Acabou entrevistado
Para as TV "última hora"

terça-feira, 24 de julho de 2018

LIGHTERATURA


- Tens lido?
- Muito e tu?
- Também
- Que estás a ler agora?
- O do continente
- É bom. Eu estou a ler o do lidl
- Já li e gostei
- A seguir vou ler o do pingo doce
- Fazes bem. Eu estou a acabar o do media market e a seguir vou ler o da d. dolores.
- E eu o da cristina ferreira

domingo, 22 de julho de 2018

PARVOGUÊS


Em Portugal já não há pessoas honestas, só parvos. Não te aproveitas da situação, és parvo. Não enganas o colega de trabalho, o vizinho ou o Estado, és parvo. Assumes a responsabilidade pelo que fazes, és parvo. Não confundes patriotismo com bola, és parvo

segunda-feira, 9 de julho de 2018

TOURO MAQUIAS


Taurino que é tão valente
Vê na tourada um bailado
E com o seu ar imponente
Foi bailar com um malhado

Mas em vez do quebra nozes
Encaixou duas cornadas
Ficou com dores nas artroses
Mais as cuecas rasgadas

Taurino depauperado
Fingiu-se um pobre diabo
Veio o valente malhado
Cortou-lhe orelhas e rabo

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Ò CRIADOR, BRINCAMOS?


Criador,

Quem julgas tu que és para fazeres uma mulher a partir de uma costela? Por acaso gostavas de descender de um bife da rabada ou de uma orelheira de porco? Se não tens que fazer dedica-te ao voluntariado ou vai ver montras mas não te ponhas a inventar, estamos entendidos?

Rita rata
Presidente da associação capazes de tudo

P. S. A quem é que passo a factura?

quinta-feira, 21 de junho de 2018

" Marcelo vai cantar com os Xutos"


Dá beijos a toda a gente
Conta histórias de embalar
São truques de um presidente
Que quer ser rock star

quarta-feira, 20 de junho de 2018

OPORTO


Venham cá lindos turistas
Que temos para vós casas boas
Pois que à custa da lei cristas
Já tiramos as pessoas

sexta-feira, 15 de junho de 2018

GUERRA DOS MUNDOS


- Quero comprar um mundo
- De que tipo?
- Quero um mundo de interesses
- Olhe que temos um mundo de sentimentos que é mais barato
- Pois, mas eu quero um mundo de interesses
- No mundo de sentimentos ainda podemos fazer uma atenção
- Nesse caso levo os dois. O mundo de sentimentos vai servir para disfarçar o mundo de interesses.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

CONTRA O PLÁSTICO, MARCHAR, MARCHAR


Dei um mergulho no mar
Vi sacas do banco alimentar
Mais discursos do costa e abraços do marcelo, a boiar
Vi mamas e rabos a flutuar
Vilões e corruptos a surfar
Televisões a poluir sem parar
Vi bancos e empresas a naufragar
Tanto plástico no mar
Que tenho receio de
plastificar

quarta-feira, 6 de junho de 2018

"António Costa aconselha actividade física aos portugueses"


António, o grande atleta
Prepara-se para correr
Olha seguro para a meta
Com a certeza de vencer

Mas por arte do diabo
Ou praga da oposição
Ao levantar alto o rabo
Rebentou-se-lhe o calção

terça-feira, 5 de junho de 2018

ASSIM, SIM


Sr dr antónio costa, sigo à risca todos os seus conselhos; quando V. Exa aconselhou, por motivos patrióticos, a não comprar gasolina em Espanha eu, que vivo junto à fronteira, passei a fazer 50 km para dentro, a fim de abastecer na bomba nacional mais cara; quando V. Exa aconselhou a limpar o mato, levei de tal maneira a peito a tarefa, que não ficou uma árvore de pé na minha freguesia; agora que V. Exa aconselhou o exercício físico, desatei a correr que os enfermeiros que andam atrás de mim nunca mais me agarram. Bem haja a V. Exa.