sábado, 25 de setembro de 2021

AMANHÃ

 


Se acaso pretendes fingir

Viver num postal ilustrado

E o teu sonho é construir

Fachadas por todo o lado


Tens um candidato à maneira

Vota no rico moreira


Se te esforças por disfarçar

O teu sotaque tripeiro

Porque te queres fazer passar

Por gente fina e de dinheiro


Toma já a dianteira

E vai votar no moreira


Se pensas que a cidade

É para eleitos como tu

E a gente pobre e de idade

Merece um pontapé no cu


Afia bem a biqueira

E vota forte no moreira


Se há negócios do teu agrado

Em que o bem público empobrece

E em que o amigo privado

Enche a pança e agradece


Leva contigo a carteira

E vota pelo moreira


Mas se quiseres ver a luz

E os logros que há por aí

Não lhe ponhas tu a cruz

Senão põe-te ele uma cruz a ti

sábado, 18 de setembro de 2021

TRAYPEIROS

- O turismo foi uma benção, pá

- Ah, pois foi, pá

- Andam para aí uns gajos a dizer bad do turismo porque nem sabem o que é good

- Sem dúvida. Não fora ele e onde é que a gente tinhamos take away?

- E rooms, zimmers e chambres?

- E lofts, residences e apartments?

- E hotels a dar com um piece of wood?

- E lindas fachayds nos buildings?

- Sim que antes estavam todos a cair aos pieces

- E market of bolhan?

- Como?

- Bolhan

- Quem é esse?

- Mercado do Bolhão, pá

- Ah, pois, claro, bolhan

- E onde é que a gente tinha sightseeing?

- E bolaynhes of codfish com cheese da serra?

- E licor de pastel of nayte?

- E chairs by the air na liga dos champions?

- Ora bem, drunks sempre cá tivemos

- Tá bem, pá, mas estes são drunks with power of compra

- Exactly, pá. E se não fosse o turismo onde é que a gente tínhamos sunset?

- Não tínhamos, pá

- Eramos para aqui uns encaralheyted

- E uma cambada de tayses sem dinheiro para mandar cantar um blind man

- Nunca tive tanto proud na minha cidade do Oporto, pá

- Na nossa cidade, pá

- Sim e os que não gostam do turismo são calhaus with two eyes

- Os que não gostam do turismo que vão mas é levar no roof top

- Olha lá e agora em que zona do Oporto estás a viver?

- Em Valongo, pá

- E tu?

- Em Paredes, pá

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

SOU ROMÂNTICO

 

Numa interpretação muito pessoal de um dos êxitos imemoriais do grande Tony de Matos, eis que se apresenta perante vós, senhoras e senhores, o cançonetista camarário toni moreira


Eu sou romântico

Em toda a minha vida fui romântico

Em cada ciclovia fui romântico

E ainda sou

Sou romântico

Cada matadouro agora é um cântico

Especulação pela vida fora dum romântico

Que sempre amou


Eu não irei esquecer

Que gastei meio milhão

Para a seguir desfazer

Um museu que era bom


Mas eu sigo o modernismo

E arranjei um curador

Para a extensão do romantismo

Seja lá isso o que for


Faria é a sua graça

Romântico tal como eu

Um homem que por onde passa

Esvazia qualquer museu


Há quem queira censurar

Mas para calar esses cretinos

Um museu hei-de criar

Só com parquímetros e pinos


Eu sou romântico

Em toda a minha vida fui romântico

Em cada super bock arena fui romântico

E ainda sou

Sou romântico 

Cada licença de construção é um cântico

Elitismo p'la vida fora dum romântico

Que sempre amou

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

ALTERCAÇÕES CLIMÁTICAS (REGA TONE)

Tempestades, ciclones e tornados

Avalanches com efeitos desgraçados

Chovem notícias nas televisões

Metem mais água que as inundações


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Há candidatos a querer boiar

Com promessas à medida de enganar

E há ondas gigantes de cartazes

Que fazem deles tudo bons rapazes


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Os furacões são ferozes e brutais

O novo banco, a tap e outros que tais 

Vai o dinheiro todo na enxurrada

Fica a miséria, não sobra mais nada


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


As gaivotas voaram para a cidade

Viram que outros vivem bem na sujidade

Voam contentes e descansadas

Roubam comida nas esplanadas


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Os oceanos têm mais marés de lixo

A pandemia continua a espalhar o bicho

O céu, esse está menos azul

Porque aí vem o vendaval de cabul


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir


Muitos trabalham de sol a sol

Para aquecer os bolsos do futebol

Há quem lhe chame o efeito estufa

Mas cá para mim é mais o paga e não bufa


Ai a calota polar está a sumir

E eu nem sei para onde é que posso fugir