sábado, 28 de agosto de 2021

DESCÃOTENTE

 


Ontem foi o meu dia

Mas mais valia que não

Esperei por uma alegria

Saiu-me um dia de cão


Sentei, deitei sem parar

Rebolei até ganir

Para o meu dono se armar

À custa de me exibir


Peço por isso rapidez

Na invenção de uma vacina

Que me liberte de vez

Da fidelidade canina

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

MARCHA ATRÁS

 


- Ò mila, puf, puf, bais muito largada

- Ò camané, dá mas é corda òs penantes quisto num é pa ber montras

- Ò mila, puf, puf, mas eu já lebo o coração a saltar per a voca e até a pala do voné me pesa

- Ò camané, anda mas é pá frente que só te faz vem ò pneu

- Ò mila, puf, puf, tens a certeza?

- Se tenho a certeza? Ò camané, se não fosse o joguingue como é que tu achas que eu conseguia ter esta aparência jobem, elegante e moderna?

- Ò mila, puf, puf, mas eu preferia ser menos jobem, elegante e moderno e sentar um vocado o bojão em qualquer lado

- Sabes o que te digo, camané, desde que te conheci, continuas o mesmo tramvolho varrigudo, valofo e porguiçoso

- Ò mila, puf, puf, a falares assim nem sei dizer por que casaste comigo

- Ò camané, por que é que habia de ser? Casei contigo porque és alto...

domingo, 22 de agosto de 2021

ALLAHU AKBAR!

 

Eu não sou talibã. Fosse eu talibã e, como é evidente, odiaria as mulheres. As suas formas, incluíndo a de falar, os seus risinhos absurdos, os seus trejeitos efeminados, o seu olhar pérfido, capaz de tentar as mais resistentes masculinidades e, sobretudo, odiaria a sua capacidade de dar à luz. Se eu fosse talibã proibiria terminantemente as mulheres de darem à luz e substitui-las-ia a todas pelos meus irmãos de armas. Que maior honra me poderia abençoar que a de nascer de um homem de barba farta e de toalha enrolada na cabeça, que até pode dar jeito se as águas rebentarem antes do tempo? Que momento mais sublime me poderia ser concedido que o de vir a este mundo por entre a pilosidade das suas pernas, a contemplar os seus pés crispados, as unhas enegrecidas a cravarem-se-lhe nas sandálias poeirentas, ao som dos seus gritos de alá é grande e dos tiros da sua metralhadora a celebrarem o meu nascimento? É certo que, ao sair, poderia sentir dois pesos sobre a minha cabeça, mas isso corresponderia tão somente ao legado da paternidade que um dia teria, também eu, de assumir. Que prazer mais intenso poderia sentir que o de comprimir os seus peitos para assegurar a primeira mamada, podendo engasgar-me à vontade com os pêlos adjacentes aos seus mamilos? E que maior felicidade me poderia invadir ao ver o quarto repleto de irmãos talibãs a ofertarem, embevecidos, um bouquet de flores ao meu progenitor, rasando-lhe os olhos de água, que tanta emoção é demasiada para um homem só? Ou, enfim, perceber o olhar ternurento de um deles que, de espingarda às costas, tricotaria com destreza aqueles que seriam os meus primeiros carapins? Tanta felicidade junta só seria comparável à de ver o desaparecimento das mulheres por detrás de burcas guardiãs dos valores fundamentais da vida. Dos homens.

Eu não sou talibã. Fosse eu talibã e viveria, pois, num mundo perfeito, sem mulheres. Quer dizer, num mundo quase perfeito porque teria de me debruçar sobre a parte da concepção que, sem ela, os homens não poderiam dar à luz. Estou convicto, no entanto, de que, procurando bem no alcorão, alguma coisa se haveria de arranjar. Alá é grande.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

FELIZES PARA SEMPRE

 


- Ò mila, chega-te pó meio senão num ficas, carago e num faças essa cara que até parece que tás a ir a Fátima a pé. Da próxima, em bez de te trazer pa benidor, em regime de meia pensão, lebo-te mas é pó areinho de abintes e ficas lá cos calhaus a moer-te o cu e a beres passar o lodo no rio qué um mimo. E tu liliana marlene, larga-me esse telemóbel que até metes nojo e olha-me prá qui. Ò liliana, tás a oubir o que te tou a dizer ou queres enfardar já um vofetão nas ventas que até se te estremece a mini saia? E tu ibo wanderlei, é a última bez que te abiso para num tirares catotas do beque e de limpares òs calções de marca, senão lebas semelhante croque na moleira que até começas a imitar o sr fernando mendes do preço certo. Achas que isso te fica vem, já num te chega essas tatuagens que até fazes lemvrar um cartaz do circo? E tira-me o boné da mona e deita-me a chicla fora prá foto num ficar tremida, carago. Prontos, agora façam um sorriso vonito de férias como debe ser e, ò liliana marlene tira o boné ò morcom do teu irmão que só se le bê o queixo e as rastas carago, que qualquer dia passo-me da caveça e bai boné e rastas e bão bocês todos co carago, que anda aqui um gajo a fazer vom amviente e bocês todos cum cara de penico. E chegai-bos todos pá direita para se ber a piscina do hotel em fundo qué pa se ber quisto num é pa todos.

Ora entom, tudo a rir, um, dois, três, prontos já está. Agora bou já meter a foto no facevoque e no istagrão co pessoal bai-se roer todo de inveja da nossa felicidade. Carago.