domingo, 22 de agosto de 2021

ALLAHU AKBAR!

 

Eu não sou talibã. Fosse eu talibã e, como é evidente, odiaria as mulheres. As suas formas, incluíndo a de falar, os seus risinhos absurdos, os seus trejeitos efeminados, o seu olhar pérfido, capaz de tentar as mais resistentes masculinidades e, sobretudo, odiaria a sua capacidade de dar à luz. Se eu fosse talibã proibiria terminantemente as mulheres de darem à luz e substitui-las-ia a todas pelos meus irmãos de armas. Que maior honra me poderia abençoar que a de nascer de um homem de barba farta e de toalha enrolada na cabeça, que até pode dar jeito se as águas rebentarem antes do tempo? Que momento mais sublime me poderia ser concedido que o de vir a este mundo por entre a pilosidade das suas pernas, a contemplar os seus pés crispados, as unhas enegrecidas a cravarem-se-lhe nas sandálias poeirentas, ao som dos seus gritos de alá é grande e dos tiros da sua metralhadora a celebrarem o meu nascimento? É certo que, ao sair, poderia sentir dois pesos sobre a minha cabeça, mas isso corresponderia tão somente ao legado da paternidade que um dia teria, também eu, de assumir. Que prazer mais intenso poderia sentir que o de comprimir os seus peitos para assegurar a primeira mamada, podendo engasgar-me à vontade com os pêlos adjacentes aos seus mamilos? E que maior felicidade me poderia invadir ao ver o quarto repleto de irmãos talibãs a ofertarem, embevecidos, um bouquet de flores ao meu progenitor, rasando-lhe os olhos de água, que tanta emoção é demasiada para um homem só? Ou, enfim, perceber o olhar ternurento de um deles que, de espingarda às costas, tricotaria com destreza aqueles que seriam os meus primeiros carapins? Tanta felicidade junta só seria comparável à de ver o desaparecimento das mulheres por detrás de burcas guardiãs dos valores fundamentais da vida. Dos homens.

Eu não sou talibã. Fosse eu talibã e viveria, pois, num mundo perfeito, sem mulheres. Quer dizer, num mundo quase perfeito porque teria de me debruçar sobre a parte da concepção que, sem ela, os homens não poderiam dar à luz. Estou convicto, no entanto, de que, procurando bem no alcorão, alguma coisa se haveria de arranjar. Alá é grande.

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