sábado, 30 de março de 2013

SEGURANÇA PÚBICA



Excelentíssimo senhor comandante bagina,

Antes de mais deixe-me felicitá-lo pelo árduo trabalho que está a desenvolver no Porto. Confesso-lhe que gosto muito de si. E não sou o único. Ainda ontem, ouvi no metro, um senhor dizer ao amigo: - Bagina é bem bom. Ao que o outro respondeu: - É maravilhoso. Como vê, não lhe faltam admiradores. Estou desconfiado que até o próprio John Lennon estava a pensar no sr. comandante quando escreveu aquela canção do " E Bagina all the people...". Mas, sejamos realistas, também por aí andam detractores. São os que dizem que V. Exa. por ser sobre o forte, parece um salpicão de Lamego. Com bigode. Más línguas, sr. comandante; primeiro, onde é que já se viu um salpicão com bigode? Segundo, se houvesse parecenças entre V. Exa. e um salpicão nunca seria com os de Lamego, mas com os de Chaves, que são mais moles. Quanto ao resto, não dê importância; bagina de pêlo na benta e muito bem. Essa corja de maldizentes está por todo o lado de forma que, se o sr. comandante bagina olhar para trás e vir um desses caras de cu, com todo o respeito, não ligue. É normal.
Aproveito para lhe pedir um favor; de uma vez por todas proíba as pessoas de andarem nos passeios. É que muitas são as que circulam com guarda-chuvas, muletas, cadeiras de rodas e outros objectos cortantes, que riscam impunemente os nossos carros. Quer dizer, vai um cidadão estacionar em cima dum passeio para, civicamente, não perturbar a fluidez do trânsito e quando retorna à viatura lá está o prejuízo. Da última vez que me aconteceu, deu-se-me um desgosto tal que passei a estacionar nas passadeiras. Sempre é mais seguro.
Desejo que V. Exa. continue a alimentar-se bem e, sobretudo, resguarde-se e resguarde os seus homens, não vá o diabo tecê-las. Hoje em dia há tantos perigos nas ruas que o melhor é prevenir. Não se esqueça que, se der chatice, ficarão exactamente como fica o cidadão, ou seja, ninguém vos vem socorrer. E, em dias de chuva, nem pensem em sair; anda por aí muita bicheza no ar e não há coisa pior do que ver um sr. agente da autoridade com um pingo de vergonha, quero dizer, com um pingo no nariz. O tempo que vos sobra dediquem-no a treinar para as manifestações e para os jogos da bola. Mesmo que não haja manifestações nem campeonato de futebol, sempre se vai convivendo, não é? E não perca tempo com os que acusam a polícia de se ter demitido das suas funções de segurança pública. Esses, sr. comandante bagina, são uns conas. Com todo o respeito.

sexta-feira, 29 de março de 2013

COM PASSOS



Carrega-se a cruz pesada
Por entre gemidos e dores
Essa cruz que nos foi dada
Por vilões e malfeitores

Há bem por aí quem defenda
Que é cruz da ressurreição
Mas é mentira tremenda
Dos que não têm perdão

São receitas de calvários
Aviadas por gurus
Que assim convencem otários
A carregarem a cruz

E com vil descaramento
Fingem-se indignados
Queixam-se do sofrimento
Dos que mantêm calcados

Não carregues mais o peso
Dessa cruz que lhes pertence
Não te deixes ficar preso
Que sem luta não se vence

domingo, 24 de março de 2013

COMUTADOR


- Aristóteles, o que pensa?
- Penso que o que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê. Penso que o erro acontece de vários modos, enquanto ser correto é possível apenas de um modo. E penso que a esperança é o sonho do homem acordado.
- Platão, o que nos diz?
- Que não podemos continuar prisioneiros da caverna. Temos de nos libertar da escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade, que nos mostre a situação enganosa em que nos encontramos. Existem sérios riscos de sermos ignorados, tomados por loucos ou mentirosos mas, ainda assim, vale a pena.
- Sócrates, qual a sua opinião?
Só um momento... o nó da gravata está direito? E este ângulo, é bom? Não será melhor a três quartos? Olho para a câmara 1 ou para a câmara 2? Faço um ar de regresso vitorioso ou de incompreendido e maltratado? Não comento o Freeport, ok? Desculpe, qual é a pergunta?

quinta-feira, 21 de março de 2013

SUPERES PODERES


A brisa da noite penteava-lhe a longa capa, acentuando a sua figura imponente. Recolheu a mão do queixo, vincou os cantos da boca e olhou uma vez mais para baixo. Lá estavam eles. Pequenos, quase insignificantes, a lutar. Tinham doenças e guerras. Tinham políticos corruptos e tiranos gananciosos. Tinham oportunistas e escroques. Viviam fustigados pelo sofrimento e pela morte, mas continuavam a lutar. Viu homens e mulheres enfrentarem armas por trabalho. Viu gente presa por se bater pela liberdade. Viu a desgraça, a miséria e o desespero no olhar de muitos. E continuavam a lutar. Sentiu-se fraco, muito fraco. Afinal não havia lugar para si naquele mundo de super homens. Levantou a cabeça, apontou os punhos para o céu e desapareceu na noite.

sábado, 16 de março de 2013

O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO...


- Desculpe, pode indicar-me o bom caminho?
- Claro. O meu amigo desce já por aqui abaixo. Passa por parcerias público-privadas, por jobs for de boys, por negociatas obscuras e continua a descer. A seguir corta tudo à direita e vai por aumento de impostos até carga fiscal brutal. Aí chegado, passa por insensibilidade social, dirige-se para desemprego descontrolado e, sempre pela direita, desce até défice orçamental.
- Tem a certeza que é esse o bom caminho?
- Absoluta, meu amigo. A seguir desce para quebra das exportações, passa por falta de investimento e continua a descer até lhe aparecer dívida pública a perder de vista. Mantém-se pela direita em direcção a recessão. Quando vir um grupo imenso de jovens sem futuro, toma a direcção de miséria, passa por falta de esperança até chegar ao desespero. Aí vai encontrar o meu amigo gaspar que lhe indica o resto do bom caminho
- E quando ai chegar, já estou perto?
- Não, meu amigo, ainda lhe falta um bom bocado
- Então, onde é que esse bom caminho termina?
- No nó do enforcado, já ouviu falar?

sexta-feira, 15 de março de 2013

SAI DA FRENTE Ó...


- Sigurança rodobiária? Bai no Vatalha
- Num há cibismo
- Nem cibismo, nem com ciência cíbica
- Dissestes vem
- E digo-te mais
- O quê?
- O provelema dos acidentes consiste em conduzir sem experiência. As pessoas só pego no carro em caso de se deslocar provisoriamente no domingo para ir à missa, ou ir tratar um documento oficial
- E num é só isso
- Então?
- É eles andar a cumprar carros cum 6 belocidades, coisa que num se justifica, proque o motor não faz oficio de trabão e as pessoas gosto de ingatar a quinta quando é preciso a segunda, pa poupar
- E o perigo ainda é maior deribado aos criminosos que ando na estrada
- Nem é vom pensar
- Aqui há atrasado, ia eu sossegado da bida na auto estrada e num é que se me aparece um na faixa da esquerda a 120?
- Parece em possíbel! E que fizestes?
- Dei-le logo máximos, mas num saiu
- E tu?
- Tibe de destrocer tudo pá direita
- E comesteze-o?
- Não, na faixa da direita ia outro a 100
- É uma bergonha. E depois?
- Reduzi pa 180, saquei uma faniqueira e fiz uma piasca
- E num vatestes?
- Não. Foi deus
- Felizmente
- Lá está, num há cibismo
- Nem com ciência cíbica...

terça-feira, 12 de março de 2013

GANDULO


O quê? Ah, pois...então...vamos cantar todos... não é?

Grândola vila moreeeeeena
Enterra a fraternidaaaaaaade
O povo é quem mais peeeeeeena
Dentro desta insanidaaaaade

Em cada esquina o inimiiiiigo
Com todo o gosto e vontaaaaade
Graaaande pila moreeeeena
Meter-me na cavidaaaaaade

Há sombra de polinheeeeiiira
Que eles dão sem piedaaaaaaade
Se não vou já na carreeeeiiiira
Fico sem a virgindaaaaaaade

segunda-feira, 11 de março de 2013

O PERIGO VEM DO ABRIGO



Portugueses:

É chegado o momento de nos indignarmos contra a ganância que nos destrói o futuro, contra a injustiça e a desigualdade que nos exclui, contra a caminhada para o abismo. É hora de dizermos basta, mas de o dizermos a uma só voz. Por isso, anunciamos hoje a criação da associação nacional dos sem abrigo indignados. Precisamos de nos devolver a esperança. Precisamos de acabar com o nosso sofrimento. Precisamos de recuperar o que nos tiraram. Amigo, se já não tens abrigo, indigna-te e junta a tua à nossa indignação. Vem partilhar os teus ideais de liberdade e de justiça social com todos aqueles que querem uma vida melhor. Juntos ganharemos. E muito acima da média.
Estamos a preparar uma acção conjunta de luta com a associação dos reformados indignados, liderada pelo senhor doutor filipe pinhal, também ele um grande filho da luta. Os slogans escolhidos são os seguintes:

Não queremos mais castigo, queremos o nosso abrigo
Que apareça um bom abrigo, que nós chamamos-lhe um figo
Reformado abastado não serve para ser gamado
Nada como a indignação para ajudar à digestão

Sem abrigo, contamos contigo.

Os membros da comissão organizadora agradecem e subscrevem-se,

oliveira e costa
jardim gonçalves
joão rendeiro
duarte lima
dias loureiro
arlindo de carvalho
armando vara

quinta-feira, 7 de março de 2013

WALKING DEAD


Era contestatário, perturbador, subversivo. Colocava em causa os princípios orientadores da organização. Dificultava sistematicamente o normal decurso dos trabalhos. E era uma influência negativa para os outros. Afastaram-no depois de lhe augurarem um lindo enterro. Reposta a ordem, todos voltaram a cavar a vala comum.