terça-feira, 27 de dezembro de 2011

TROIKA, TROIKA, COELHO



- Está iniciada a fase de perguntas ao senhor 1º ministro. Senhores jornalistas, façam o favor
- Senhor 1º ministro qual é a sua posição sexual favorita?
- Senhor jornalista, essa não é uma pergunta própria para se colocar ao senhor 1º ministro
- Muito bem, senhor 1º. ministro gosta de preliminares ou é adepto do directo ao assunto?
- Senhor jornalista, há que ter pudor na coloc...
- Nas suas fantasias o senhor 1º ministro costuma vestir-se de super homem ou inclina-se mais para o capitão américa?
- Senhor jornalista está a sair totalmente fora do...
- O senhor primeiro ministro gosta de sexo seguro, como o ps, ou é mais dado à liberdade criativa?
- Senhor jornalista exijo respei...
- Quando o senhor 1º ministro atinge o climax ainda põe a mão no ar e grita jsd, jsd?
- Ó senhor jornalista, vou mandar calá...
- Só mais uma. Quanto tempo é que o senhor 1º. ministro aguenta com a seta para cima?
- Basta. Por que insiste nesse tipo de perguntas?
- Simples. Se o senhor 1º ministro quer comer o povo ao menos que o povo saiba como vai ser comido.
- Nem mais uma palavra. Expulsem o provocador!

Expulsaram-no. O Homem de baixa estatura, de barba sem bigode e de chapéu de abas largas regressou à sua sex shop natal. Não sem antes dizer por entre um sorriso libidinoso: - I'll be back.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PASSOS PERDIDO...


- Tu acreditas?
- Não
- Mas é preciso convencê-los
- Que a austeridade é indispensável?
- Não
- Que as pensões mínimas têm de ser congeladas?
- Não
- Que é preciso aumentar os despedimentos?
- Já te disse que não é assim
- Ah, pois, que é preciso democratizar a economia?
- Claro. Também não
- Então de que é preciso convencê-los?
- De que estavas a brincar
- A brincar?
- Quando os mandaste emigrar
- Pois. E o que é que faço?
- Pões a cara que te ensinei
- A de menino do coro de santo amaro de oeiras?
- Não
- A do sorriso epilético que me ensinou o basílio horta?
- Não
- A de africano albino?
- Também não
- Então qual, ângelo?
- A que melhor sabes fazer, porra!
- Não estou a perceber
- Essa toda. A de inteligente que não percebe um corno do que se passa
- Ah, está bem. Vou já começar a franzir o sobrolho.
- Quando estiveres pronto diz para começarmos a gravar.

domingo, 25 de dezembro de 2011

BRANCO DE NEVE


Curioso. Passara uma vida no banco e agora estava ali sentado. No banco. O banco que tanto lhe tirou dera-lhe um banco. Andou preso à mesquinhez do dinheiro como um animal à roda da nora. Restou-lhe o sonho. E sonhou. De repente tinha à sua frente um estádio a fervilhar de emoção e ele ali no banco pronto para entrar. Depois vieram os filmes que não viu, os livros que não leu, os artistas que nem sabia existirem. Sentado naquele banco fez viagens que não imaginou, abraçou gente que nunca conheceu, viveu momentos só seus. Sonhou muito. No banco que era dele. Que era ele. Por fim adormeceu. Uns tímidos flocos de neve trazidos por aquele dia de Natal acordaram-no suavemente. Inclinou a cabeça para trás, fechou de novo os olhos e sorriu para o céu.

sábado, 24 de dezembro de 2011

O DIA MAIS LONGO


Fala-vos o cabo meliciano matos no teatro das operações em Portugal. Por cá as coisas vão difíceis. O inimigo não pára de atacar mas não nos dá trabalho, tira-nos. Os bombardeamentos são constantes e tão violentos que é buracos por todo o lado. Chego a pensar que devem ser índios porque só querem tirar-nos a pele. Estão emboscados em toda a parte e nós cada vez com menos meios. Como se não bastasse ainda fazem guerra psicológica; andam a gritar pelo mato para que desertemos. É um combate desigual onde não há justiça. Nem saúde, nem educação. Nem futuro. Mas continuamos a resistir. É preciso. Comam uma rabanada por mim e até ao meu regresso.

ÚLTIMA HORA


Após aturadas negociações que se prolongaram pela madrugada de hoje podemos informar em primeira mão que o natal foi privatizado. A família do espírito santo fortemente apoiada por capitais chineses adquiriu a totalidade das participações dos pais da criança, que rumarão a Las Vegas para assegurarem as primeiras partes de siegfried and roy. A partir do próximo ano o natal passará a designar-se por 希克斯特 托马斯 e, em Portugal, terá o gentil patrocínio da EDP. Para além da electrificação da estrela, a empresa cederá igualmente o senhor doutor antónio mexia para fazer de menino em pauzinhos deitado.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

MASSAGEM DE NATAL


Boas. Aki na xóssa bieram com a bitatitada que seu embiasse um postal de natal aos pobrezinhos dabom uma prekária. Pusme logo a iskrebinhar kuk interessa é sair daki. Só k tenho um provelema; num sei o ké o natal. Oubi dizer kera um xabalo a nascer xeio de kamelos à bolta mas num percevi vem. Tou é mortinho por me pôr andar. O pedrolas e o bitas gaspas já tão à minha ispera para darmos uns gandas mikanços enkuanto os kamelos fiko a olhar pó xabalo. Tem de ser. De maneira ke bai assim: desejo boas festas especialmente da vossa gaja num aspiraindes muito pó e gastainde pouko ké pa sovrar pa nós.

Zé da fuska

MASSAGEM DE NATAL


Desejo a todos os meus advogados e amigos um natal repleto de presentes sendo certo que já providenciei nesse sentido junto das instâncias competentes. Não podendo para já tomar outra, tomei a liberdade de estender as simbólicas oferendas aos restantes dignos representantes judiciais envolvidos, ficando ansiosamente a aguardar que se prove a minha total inocência e assim se faça justiça. Essa inocência é, aliás, de tal ordem que até poderia fazer de menino num qualquer presépio vivo. Afinal não tenho cabelo, habituei-me a dormir num colchão de palha e há muito que não toco no orgão.

MASSAGEM DE NATAL


Sem esconder a minha preferência pela Páscoa, altura do ano mais dada a sacríficios e a coelhos, não posso deixar de vos desejar que me desejem um bom natal, uma vez que o contrário é impossível. Aproveito para vos pedir que continuem a reforçar diligentemente as vossas poupanças que recolherei com sentido patriótico a muito curto prazo, mediante a introdução das medidas fiscais adequadas.

Aos que aceitaram o meu recente conselho desejo uma boa viagem

MASSAGEM DE NATAL


Um dia uma cigana, ao ler-me a sina, disse-me que iria subir alto e fazer macacadas. Acreditei e consegui. Subi a um coqueiro e fui presidente de todos vós. Partilho convosco esta experiência para que, tal como eu, também vós possais acreditar em dias melhores. Conheço bem os problemas até porque fui eu que ajudei a criá-los. Sei bem das dificuldades embora não as sinta. Estou plenamente convicto que juntos conseguiremos devolver ao país os subsídios a fundo perdido, as auto estradas de borla, os jeeps com limpa pára brisas nos faróis, os condomínios fechados com  vídeo porteiro a cores, enfim tudo aquilo que consubstancia o verdadeiro progresso. Tenho para mim que, com o vosso esforço, eu e a minha Maria recolocaremos o país ao pelotão da frente. Até lá comam bolo-rei do barato sem abrir a boca e sobretudo riam, riam muito. Se as vacas das ilhas o fazem vós também sereis capazes.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

CHRISTMAS OU CRISES TÃO MÁS?


- Mulher, não é meu!
- Digo-te que é
- Eu digo-te que não é
- Então, é obra do divino espírito santo?
- Não faças de mim camelo
- Impossível. Um camelo tem duas bossas e tu tens uma carpintaria
- Por isso sei como usar o serrote
- E o formão
- Mentes mulher, confessa!
- Fala baixo que ele está a dormir
- Só um milagre o acordaria. Quem é o pai?
- Ok, pronto, não és tu
- Quem é?
- Também não sei. Eram dezassete
- Dezassete? Que dizes megera?
- Foi uma excursão de estrangeiros que chegou
- E depois?
- Depois deixaram-me a ver tantas estrelas que até fiquei eurada
- Pois bem podes gabar-te de teres conseguido
- O quê?
- Uma merda única.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CAI NEVE NA CABANA


- Pois é como te  digo
- Não me dês música
- A sério, arrombaram o barraco
- O que fica nas dunas?
- Sim, junto aos canaviais
- E depois?
- Depois entraram e começaram logo na macacada
- Muito tempo?
- Eh pá, até o rei fazer anos
- Isso é que foi um grande, grande amor
- Ai ninas. Ele até perdeu o capachinho
- E ela, sabes como se chamava?
- Anita
- E que tal?
- Não era bonita mas acreditava que a noite caía
- Desculpa?
- Coisas dela. Não interessa
- E no fim?
- Ela disse addio, adieu
- E ele?
- Aufwiedersehen, goodbye
- Muito me cantas

Quando as gaivotas se calaram voltou a ouvir-se o refrão: só o vento e o mar e as gaivotas falam desse amor.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NATAL BOM DE OSSO




- Gramo à brava o Natal
- Porquê?
- Por causa da solidariedade
- Quem é essa?
- É para ajudar os pobrezinhos
- Ah, pois. Eu também gramo o Natal
- Porquê?
- Para ajudar os carenciados
- Não é o mesmo que os pobrezinhos?
- Não. Carenciados são os pobrezinhos com cárie
- Claro. É bom ajudar, não é?
- É. Faz-me ver como sou bondoso
- Tenho tanta pena deles
- Também eu
- Ainda há dias comprei um bacalhau para lhes oferecer
- Onde?
- No incontinente. Tem daquele amarelo, fininho, em promoção
- Também compraste para ti?
- Comprei. Do grande que sai às lascas
- Desse gosto
- E comprei metade de um bolo rei seco para eles
- E que mais?
- Comprei cavacos e coelhos de xicolate
- Gastaste um balúrdio
- Não. Foi tudo nos chineses
- És fino
- E tu, o que vais dar aos carenciados?
- Guronsan
- Guronsan?
- Como não estão habituados a comer, ao enfardarem o que lhes vais dar vão quilhar o fígado. É limpinho.

domingo, 18 de dezembro de 2011

MARAVILHOSO MUNDO ANIMAL


Deitava-se com as galinhas, era forte como um touro, trabalhava como um cão. Foi comido por uma mula que lhe ficou com a palha

O cão diz que é amigo fiel. O bacalhau diz que é fiel amigo. O gato diz que eles são é camelos

Cansado de tanta traição o boi passou-se. Estava farto de viver com uma vaca

Era um rato com graves problemas de visão. Sempre que via queijo chamava-lhe um figo

Os touros são muito infiéis. Gostam de por os cornos

Quando a zebra pisou involuntariamente a bosta deixada pelo felino desabafou irritada: - Ó Chita!

Farto de ver a vida a andar para trás o caranguejo enterrou a cabeça na areia. A avestruz, tenaz, acusou-o de ser um macaco de imitação

O elefante sentou-se em cima da formiga. Foi a última vez que esta lhe deu colo

- Tudo por causa de uma vida de excessos. Disse a cigarra para o lado no funeral da formiga

O milhafre disse que estava ferido na asa mas todos sabiam que o que ele tinha era um grão na asa

Foi o primeiro a chegar à rede que o prendeu. Era um carapau de corrida

Disse cobras e lagartos mas caiu que nem um pato e comeu gato por lebre. Não valia um caracol

Naquele dia o zangão estava com a mosca. A abelha não lhe perdoou e pô-lo fora de casa

POR MORRER UMA ANDORINHA NÃO ACABA O NATAL


É com o coração anodizado pela obstipação afectiva que volto à lustrosa e sempre inclemente presença de Vocênssias. Perante Vós me curvo prostático por tão trespassante e inócua separação, mas creiam que o despojo da culpa não me imiscui, deveras. Com defeito, a responsabilidade de tão punitiva ausência descende precípua das concomitantes reflexões em que me internei. Iniciei por uma reflexão à rectaguarda seguida de mortal encarpado à frente e de nova reflexão em decúbito frontal, embora de lado. Não mais estanquei de reflectir o que, induzindo-me as mais robustas e proeminentes artroses na zona joelheira, me alcandorou a um encavalitante pensamento; o natal não existe. Ou, se existe, fecunda-se em concepção genuinamente artificiosa. Façam Vocênssias o obstáculo de acompanhar a hermenêutica do meu raciocínio; naqueles idos tempos de outrora onde raiava a aurora ainda não se arrendavam abdómens, vulgo, barrigas. Ora assim, como poderia a senhora ter electrificado, ou como soi dizer-se, ter dado à luz sem mácula? Ou então ver-me-ei esforçado a auscultar a protuberância hipotética do menino resultar de um composto  siliconesco ou até mesmo de um impregnado plástico de origem asiática. Em qualquer dos casos não se inculca a inércia de um nascimento apoteótico de importância realciva nesta época. Quanto muito petrificará para a história como a época do ano em que as andorinhas vêm fazer os seus ninhos e que não findará se uma dessas aves pernaltas se acolitar ao criativo. Apelo por conseguinte a Vocênssias para que não sejam dromedários, escusem-me a prosaica, porque outrossim ainda vos expectam com uma troika de reis magos em cima do excelso lombo e esses são cá uns presentes que nem a Vocênssias conto. E pronto. Resta-me despedir Vocênssias a partir do hotel do Conde onde me mantenho implantado em regime de pensão completa e medicamentosa. Desejo-vos a melhor sintonia com o que vos for de proveito e tenham absorta cautela com esses, digamos, coelhos que por aí andam disfarçados de meninos salvadores dos homens.

Com os despeitos da minha mais jactante incontinência.

Amaral Fecha Mal

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

SE FUGIR NÃO BEBA


Fugia de um fim anunciado. Os tempos corriam ameaçadores. Não o preocupava o sub prime ou a desvalorização da moeda, as dívidas soberanas ou os ratings. Não era essa a sua crise. Fugia da fome. E das sombras e dos gestos e das vozes. Ouvira histórias de erros fatais. Vivia aterrorizado pela angústia de os repetir. Fugia cansado de fugir sem perceber porque fugia. Fugia por um caminho cada vez mais longo por lhe parecer sem saída. Sentia fugir para o fim. Saturado, entrou na primeira tasca que encontrou e bebeu. Bebeu para fugir. Bebeu muito. Embebedou-se. Foi o fim do peru.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A TRÊS QUARTOS


Chegou primeiro, não parou um segundo, subiu ao terceiro e perdeu os três no quarto

Apesar de quatro, os mosqueteiros eram três. Andava a recibos verdes, o quarto

O terceiro estava aviado. Foi aí que a prostituta gritou: - venha o quarto que estou de quatro

Desesperados que estavam, os três foram ao quarto. De banho.

Apesar dos quatro lados continuava a dizer que era um Triângulo. Ele há cada quadrado

Os três lobisomens estavam prestes a entrar em acção. Era quarto crescente

- Binde que o pudim abade de priscos tá na mesa. Chamou a mãe. Só um dos pastorinhos ouviu. Resultado: três foram videntes e o quarto teve de esperar que se fizesse o filme.

Era a terceira vez que pagava o motel. Amor a quarto obrigas

Dos quatro reis magos só três chegaram a Belém. O quarto deixou-se guiar por uma estrela porno.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

NATAL DOS POBREZINHOS


Tinha 50 anos e as pernas trémulas. O choque trespassara-o de um golpe e só o instinto o mantinha de pé. Finalmente percebia tudo. Pediu a capa do super homem saiu-lhe um pijama de flanela, pediu emprego veio uma carga de trabalhos, pediu casa restou-lhe um quarto, pediu amor chegou-lhe a traição, pediu o segredo dos deuses, só para os deuses foi segredo. O pai natal não existia. Toda uma vida a escrever cartas para o fundo de uma gaveta dos correios. Toda uma vida enganado. Por tantos. Convocou forças, escondeu fraquezas, inspirou fundo e decidiu: - A partir de hoje nunca mais como a sopa. E que me venham com a história do homem do saco que eu digo-lhes como é.

domingo, 11 de dezembro de 2011

NA TAL ESPERA...


Não era rei mas ia nu. Procurou um manto, disseram-lhe para esperar, para ter paciência. Veio o Verão e ele perguntou ao Sol e às estrelas quando se vestiria. Pediram-lhe mais paciência. Uma virtude. Veio o Inverno e ele perguntou à chuva e ao vento quando se cobriria. Não houve resposta. A seguir veio o gelo e ele gelou no sítio onde lhe pediram paciência. Um manto de neve finalmente cobriu-o. No dia seguinte foi Natal. Uns miúdos acharam-lhe graça e espetaram-lhe uma cenoura a fazer de nariz. Paciência.

sábado, 10 de dezembro de 2011

OLHOS EM BICO


Estavam desesperados. Há horas que vagueavam na ânsia de encontrarem o que estava à frente dos seus olhos. Tinham vindo de longe, tinham castigado os camelos na pressa de chegarem, tinham-se esmerado na escolha dos presentes e agora não o encontravam. Procuraram um olhar, uma expressão, um sinal que lhes dissesse que era ele. Nada. Procuraram defeitos que os ajudassem a excluir todos os outros. Nada. Pediram ajuda à estrela que os guiara. Nada. Todos iguais. Irritantemente iguais. Já a noite ia alta quando desistiram. E ali ficaram sentados a olharem impotentes a imensidão de presépios. Os malditos chineses tinham inundado o mercado.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

NATAL DE MARINHEIRO


Todas as mulheres desejavam o seu mar. Todas queriam aportar aos seus lábios, sentir a ondulação envolvente dos seus dedos, navegar no seu corpo. Todas, sem excepção, queriam ancorar-se nele. Todas, sem excepção, sucumbiam docemente às suas vagas. As mais velhas tinham urgência no amor impelidas pelos anos perdidos. As outras naufragavam nos seus braços em busca de uma lenta salvação. Os elogios não paravam de lhe aumentar a fama. Com o tempo transformou-se num negócio. A sua cama passou a ser um lugar de acostagem. Tinha a admiração feminina e a inveja masculina. Estava cansado de ambas. Queria parar de dar sem se dar, de receber sem querer. Queria apenas ser. Nós da vida. Um dia, um carro de alto calibre conduzido por um motorista impecávelmente aprumado parou à sua porta. Saiu uma senhora de beleza altiva e entrou. Não precisou de muito para perceber que encontrara o amor. Fugiram os dois para um longínquo porto de mar onde até o Natal tinha Sol. A senhora é que nunca mais encontrou outro motorista com as mesmas qualidades.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

NATAL INFANTIL


Era uma vez uma menina que trabalhava num pinhal. Uma menina muito infantil. Gostava de bonecos, do escorrega e do sobe e desce. A menina tinha um namorado, também muito infantil. Gostava de carros, de bonecas e do sobe e desce. O cliente preferido da menina era camionista. Também muito infantil. Tinha barba de 3 dias, barriga em forma de pipa e gostava de brincar com a menina ao sobe e desce. No pinhal. Um dia armou-se em pateta e não pagou. Veio o namorado da menina, deu-lhe com a popota na cabeça e o camionista começou logo ali a retemperar o soninho. Uma cena infantil. Não se sabe donde mas os camelos da polícia, também muito infantis, apareceram e não deram tempo para disfarçar melhor. Quando se aproximaram, os camelos, depararam-se com o comovente cenário. A senhora, o pai e o menino rechonchudo em palhinhas deitado. Dormindo como um anjo apesar da barba de 3 dias.


sábado, 3 de dezembro de 2011

ROUBALIZAÇÃO


A noite caíra como lhe convinha. Sem lua, sem estrelas e sem frio, que a neve teimava em adiar a chegada. O silêncio pesado deu-lhe o sinal. Folgou o cinto, tomou as rédeas e ordenou a partida. O trenó andou toda a noite num corropio de chaminés e de sacos a encher e a despejar. Só parou com o raiar da aurora. O que se seguiu foi um choro do tamanho do mundo. Não restava uma única prenda numa única casa. Algures, o pai natal entregava-as aos credores já devidamente arrumadas por lotes. Dívidas de jogo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

CONTO DE NATALIDADE


Era uma vez um pen. Um pen que caminhava para o seu destino. A jornada era longa mas ele estava determinado. Era dos tesos. Tinha corrido mundo. Conhecera belas paragens mas também lugares escuros, esconsos, mal frequentados. Aprendera muito. Já não era buliçoso, irrequieto e traquinas. Pautava-se antes pela discrição. Ao contrário dos gabarolas que, as mais das vezes, acabavam atrofiados em sacos de borracha, ele apostava na eficácia. Não que um elogio não o fizesse inchar mas já não lhe subia à cabeça. Lembrava-se bem das trilhadelas da vida e sobretudo do dia em que quase foi asfixiado por um fecho-ecler austero. Finalmente chegou. Enrugado mas em forma, bateu à porta. Não o deixaram entrar. Disseram-lhe que já não precisavam dele porque a senhora ia dar à luz, virgem. Como? Perguntou indignado. Responderam-lhe que fora milagre. Visivelmente agastado o pen pendurou o saco e iniciou o caminho de volta. Não sem antes lhes responder à letra: - Vocês não interessam nem ao menino!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CASA DE PASTO



- O que é que restauraste?
- Restaurei os dentes
- Malandro, já não te bastavam os submarinos
- E tu o que restauraste?
- Restaurei uma casa em Trás-os -Montes
- Para quê?
- Para continuar a ter residência fora de Lisboa
- E tu?
- Restaurei o roubo legalizado
- Safado, sempre a pensar nos mais favorecidozinhos
- E tu?
- Eu restaurei a dependência
- Esquece isso coelho
- Tu restauraste alguma coisa?
- Ainda não mas já vou para o restaurante
- Então vou contigo para a restauração.