sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
NATAL DE MARINHEIRO
Todas as mulheres desejavam o seu mar. Todas queriam aportar aos seus lábios, sentir a ondulação envolvente dos seus dedos, navegar no seu corpo. Todas, sem excepção, queriam ancorar-se nele. Todas, sem excepção, sucumbiam docemente às suas vagas. As mais velhas tinham urgência no amor impelidas pelos anos perdidos. As outras naufragavam nos seus braços em busca de uma lenta salvação. Os elogios não paravam de lhe aumentar a fama. Com o tempo transformou-se num negócio. A sua cama passou a ser um lugar de acostagem. Tinha a admiração feminina e a inveja masculina. Estava cansado de ambas. Queria parar de dar sem se dar, de receber sem querer. Queria apenas ser. Nós da vida. Um dia, um carro de alto calibre conduzido por um motorista impecávelmente aprumado parou à sua porta. Saiu uma senhora de beleza altiva e entrou. Não precisou de muito para perceber que encontrara o amor. Fugiram os dois para um longínquo porto de mar onde até o Natal tinha Sol. A senhora é que nunca mais encontrou outro motorista com as mesmas qualidades.
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