domingo, 18 de dezembro de 2011

POR MORRER UMA ANDORINHA NÃO ACABA O NATAL


É com o coração anodizado pela obstipação afectiva que volto à lustrosa e sempre inclemente presença de Vocênssias. Perante Vós me curvo prostático por tão trespassante e inócua separação, mas creiam que o despojo da culpa não me imiscui, deveras. Com defeito, a responsabilidade de tão punitiva ausência descende precípua das concomitantes reflexões em que me internei. Iniciei por uma reflexão à rectaguarda seguida de mortal encarpado à frente e de nova reflexão em decúbito frontal, embora de lado. Não mais estanquei de reflectir o que, induzindo-me as mais robustas e proeminentes artroses na zona joelheira, me alcandorou a um encavalitante pensamento; o natal não existe. Ou, se existe, fecunda-se em concepção genuinamente artificiosa. Façam Vocênssias o obstáculo de acompanhar a hermenêutica do meu raciocínio; naqueles idos tempos de outrora onde raiava a aurora ainda não se arrendavam abdómens, vulgo, barrigas. Ora assim, como poderia a senhora ter electrificado, ou como soi dizer-se, ter dado à luz sem mácula? Ou então ver-me-ei esforçado a auscultar a protuberância hipotética do menino resultar de um composto  siliconesco ou até mesmo de um impregnado plástico de origem asiática. Em qualquer dos casos não se inculca a inércia de um nascimento apoteótico de importância realciva nesta época. Quanto muito petrificará para a história como a época do ano em que as andorinhas vêm fazer os seus ninhos e que não findará se uma dessas aves pernaltas se acolitar ao criativo. Apelo por conseguinte a Vocênssias para que não sejam dromedários, escusem-me a prosaica, porque outrossim ainda vos expectam com uma troika de reis magos em cima do excelso lombo e esses são cá uns presentes que nem a Vocênssias conto. E pronto. Resta-me despedir Vocênssias a partir do hotel do Conde onde me mantenho implantado em regime de pensão completa e medicamentosa. Desejo-vos a melhor sintonia com o que vos for de proveito e tenham absorta cautela com esses, digamos, coelhos que por aí andam disfarçados de meninos salvadores dos homens.

Com os despeitos da minha mais jactante incontinência.

Amaral Fecha Mal

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