terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

ATRASADO ENTRUDO


Não faltava nada. Desta vez planeara ao pormenor que já bastavam os esquecimentos passados. Lançou um olhar rápido para dentro do saco e conferiu o espumante, as passas e os desejos. Aliviado, sentou-se e aguardou com o pé direito preparado. Os ruídos de fundo iam e vinham num estranho corropio. Depois tornaram-se espaçados até desaparecerem. Esperou. O tempo fez-se espesso. E veio a chuva e o frio. Aguentou. Só quando se aproximou o corso carnavalesco percebeu. Esquecera-se do relógio.

BRAÇO FORTE, PERNA FRACA


Olhou a multidão em silêncio. A seguir ajoelhou-se e apertou o atacador da sapatilha como se a vitória estivesse na força daquele nó. Um velho gritou-lhe da bancada que ia ganhar. Que era o melhor. Não conhecia o velho nem sabia porque dissera aquilo. Sorriu-lhe desconfiado mas aquilo ficou. Colou-se aos blocos e baixou a cabeça em direcção às palavras do velho. Ao tiro de partida voou para meta levado por elas. Só voltou a sentir o chão quando percebeu que ficara em último. O velho enganara-o. Procurou-o com o olhar mas nada. Meses depois foi-lhe atribuída a vitória. Todos os outros estavam dopados. Anos mais tarde reencontrou o velho na pista. Dessa vez o velho disse-lhe que não ia ganhar. Que já não era o melhor. Devolveu ao velho um sorriso convencido e alguns alguns segundos depois alcançava a vitória. Na semana seguinte retiravam-lha. Os relatórios das análises foram implacáveis.