segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

ANO NOVO, VIDA NÓDOA


- Fazia o favor
- Queria um ano
- Aqui tem
- Esse não quero
- Porquê?
- É um ano usado
- E depois?
- Quero um ano novo
- Olhe que está a um bom preço
- Pudera, é pior do que o que está a acabar
- Como assim?
- Cheio de mentiras, de impostos e de miséria
- O que está a acabar também teve coisas boas
- Quais?
- Boas licenciaturas, boas promoções do alexandre, boas parcerias...
- Acha?
- E até teve um final feliz
- Feliz?
- Não acabou o mundo
- Pois, mas eu quero um ano novo
- Isso é caríssimo
- Tenho com que pagar
- Com o quê?
- Com o meu carro quase novo
- Não vale a gasolina que gasta
- Tenho um apartamento semi novo
- Cheio de penhoras? Nem pensar
- E o que me diz a este ouro novo?
- Isso interessa. Deixe ver
- Que tal?
- Não dá para um ano. Quanto muito posso vender-lhe 3 meses novos
- Não aceito
- Então, restam-lhe as mezinhas
- Desculpe?
- Encha a boca de passas e deseje com muita força
- Nunca resultou
- Então passe o ano com uma nota na mão e com um charuto na outra. Pode ser...
- E se não der em nada?
- Nesse caso, volte cá que eu reservo-lhe o ano usado. E até lhe faço uma atenção.

sábado, 29 de dezembro de 2012

ÂNUS NOVO


Não estava fácil mas lá se ia aguentando. Deixava a luta para os outros, que os cornos da vida eram duros. Viu gente pelo ar e gente pelo chão. Viu gente maltratada ao som de música gravada e de aplausos comprados. Viu a coragem derrotada, viu a dor e a humilhação. Viu o medo e o sacrifício em nome de glórias suspeitas. Mas manteve-se atrás, em tábuas. Preferia continuar a contar os anos que lhe passavam pela frente. Não estava fácil, nada fácil. Mesmo para um rabejador.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

DESCULPE INCOMODAR



senhora dona jonet,

Como vê, há muito que nos habituamos a viver com menos, muito menos. Antes mesmo da sua caridade nos ensinar, aprendemos com a vergonha, com a solidão e com a fome. Já nem de um guarda-chuva para todos precisamos, porque viver molhado é o menos. Viver é que é difícil. Mas temos que saber ocupar o nosso lugar, não é? Pobrezinhos para que, pessoas como a senhora, possam continuar a demonstrar a sua infinita bondade. Aproveitamos para lhe desejar um natal cheio de tudo com que sonhou. E não se preocupe connosco. Nós não temos sonhos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

PRESENTES SEM PRESENÇA (PSP)



- Que vais pedir ao pai natal?
- Um passeio novo
- Para quê?
- Para estacionar o carro. E tu?
- Vou pedir uma passadeira
- Uma passadeira?
- Claro. Eles rebaixaram-nas
- E depois?
- Estaciono sem ferir a suspensão
- E por que não pediste um risco continuo?
- Pedi o ano passado, mas estava esgotado
- É curioso, sucedeu-me o mesmo.
- Também pediste um risco contínuo?
- Não. Pedi uma segunda fila, mas já não havia
- E o que vai pedir zé da cadeira de rodas?
- Vai pedir uma varanda maior
- Uma varanda maior?
- Pois, já sabe que não pode andar na rua
- Olha lá e o quim polícia, o que é que pediu?
- Esse, pede sempre a mesma coisa
- O quê?
- Um fatinho de palhaço...

sábado, 22 de dezembro de 2012

PRESENTE DE NATAL



O menino estava à janela
Ansiando pela vinda
Que longa era a espera
E faltava tanto ainda

Sonhava aquele menino
Com o que ia receber
E o coração pequenino
Muito depressa a bater

Mas o tempo, esse fugiu
Sem que chegasse quem queria
O menino, triste, sentiu
Que o seu mundo arrefecia

E no pai quis encontrar
Conforto para tanto frio
Mas só viu no seu olhar
O gelo de um olhar vazio

O menino deu-lhe a mão
E ficaram de mão dada
Falaram com emoção
Sem terem de dizer nada

E este foi o final
De uma história breve e quente
Em que um pai sem natal
Teve o seu melhor presente

sábado, 15 de dezembro de 2012

JOIAS DA ARQUITRITURA


É banco para admirares
É obra simples e bela
Mas não é para te sentares
Senão o teu cú congela

Vemos por toda a parte
Arquitectos geniais
Mas em cujas obras de arte
As pessoas estão a mais

NOTÍCIA DO JN DE ONTEM


" DETIDO EM BOLIQUEIME COM QUATRO MIL DOSES DE DROGA "

- Eu devia ter desconfiado...
- Ó maria, estou-te a dizer que não fui eu!
- E desde o dia em que comeste aquele bolo rei...
- Ó maria, não fui eu!
- Sempre com o olhar baço, a não dizer coisa com coisa...
- Maria, não fui eu!
- E logo tinha de acontecer a seguir à mensagem de natal, tão linda...
- Ó maria, foi linda, não foi?
- Foi, mas não mudes de assunto
- Ó maria, não fui eu!
- Não te chegava a reforma, não é?
- Ó maria, não fui eu!
- Gostava era de saber quem te pôs a presidente
- Ó maria, não fui eu...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PONTO DE AMOR


Era uma vez um ponto apaixonado. Por uma virgula que andava um passo adiantado. E o ponto, coitado, corria como podia mas no fim de cada frase era travado. A vírgula, essa seguia e fingia que não o via, desolado. Um dia o ponto quase lhe tocou mas, no último instante, a linha mudou e a vírgula foi por diante. Caiu de amores redondo o pobre ponto, sentiu-se tonto, já nem ouvia se alguém dizia ponto. Então, a vírgula rendida voltou atrás para o abraçar. Num abraço para a vida. E foi assim que a história do ponto findou de um modo original; com ponto e vírgula em vez de ponto final

domingo, 9 de dezembro de 2012

O MUNDO EM TONS DE SIZA


Deus criou o mundo em seis dias. No primeiro dia fez a luz. No segundo fez o céu. No terceiro fez a terra, os mares, as árvores e as plantas. No quarto dia fez o sol, a lua e as estrelas. No quinto fez os pássaros e os peixes. No sexto dia fez os animais, o Adão e a Eva. Ao sétimo dia, Deus descansou. Quando acordou nem queria acreditar. Tudo tinha desaparecido e só restava um deserto de pedra. Apeteceu-lhe exclamar valha-me Deus, mas não achou apropriado. Limitou-se a pensar que nunca mais desvalorizaria a concorrência.

sábado, 8 de dezembro de 2012

GALGAS AO PAI NATAL


Caro Amigo,

Não me pretendo gabar, mas sou um homem sem pingo de egoísmo. Tenho um coração doce e penso muito nos outros. Mais ainda nesta altura em que tantos anseiam pela tua chegada. Por isso nada te peço para mim e assim mais sobrará para os meus semelhantes. Presenteia-os com generosidade, supera-lhes as expectativas, deslumbra-os. Eles merecem. E já agora, convido-te para fazeres as tuas compras na minha cadeia. De lojas. Vais ver que não te arrependerás. Tenho excelentes promoções, vales e descontos. Um mundo de vantagens à tua espera. Tenho preço para ti, perdão, apreço por ti, porque são amigos como tu que mais me enchem, digo, mais enchem o Natal de alegria.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

É UM PERDIDO, PAI NATAL...



S ó sei falar a verdade
O rgulho-me de ser assim
U m mundo de falsidade

M artiriza-me, não é para mim
E u sofro tanto pelo povo
N ão se mede a minha dor
T odavia, chamam-me bobo
I  nsultam-me do pior
R econhecerás pai natal
O meu sofrer escondido
S alvo se leres na vertical
O meu presente pedido

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

CARITAS AO PAI NATAL


Pai natal foste tão querido
Nessa alegria de dar
Agora estás exaurido
Precisas de descansar

Trabalhar já te faz mal
Mas não sintas muita pena
Faço eu de pai natal
E o povo faz de rena

CACAS AO PAI NATAL


Querido papá natal:

Quero que me dês um nariz vermelho dos grandes e um par de sapatos número 75 novos, porque os que me deste o ano passado já estão gastos.

KAKAS AO PAI NENTALE


Kerido pai nentale,

Kero 4X3X3 kaixas de xiclas, das ke çe komem kaboka à berta i um garrafon de àgua OK çigenada pó kabelo.

CACAS AO PAI NATAL


Estimado pai natal,

Sou, como sabes, um grande FDP, isto é, um grande Fã De Prendas. Os tempos que correm, todavia, não aconselham a gastar mas a poupar. Por isso, apenas te peço um mealheiro para aferrolhar todos os meneses, perdão, todos os meses e assim tornar-me um aforrador com puta, quero dizer, com pinta. Lá está a FDP da caneta a derrapar outra vez...

CACAS AO PAI NATAL


Querido pai natal:

Gosto de jogos que é coisa que me consola. Por isso quero uma PSP. Não, não é uma play station, é um corpo de intervenção, armado até aos dentes, com arruaceiros incorporados, para tornar os jogos mais divertidos. Quero também muito equipamento de captação de imagens para mais tarde recordar, sem ter de as pedir emprestadas a ninguém.

CACAS AO PAI NATAL


Paizinho natal:

Saíste-me uma rica prenda. O ano passado pedi-te uma bandeira, deste-me uma ao contrário. Pedi-te uma boa anedota, mandaste-me uma foto minha. Pedi-te as pastilhas para acelerar com a maria, deste-me daquelas que atrasam as ideias. Assim não pode ser, de maneira que escuta bem; este ano quero de me dês uma traineira e um tractor para me dedicar à pesca e à agricultura. Fazem muita falta e o país não tem, desde que começaste a dar prendas em dinheiro. E aviso-te já: se este ano não me deres o que te peço, juro que te tiro de meu amigo do Facebook e nunca mais acredito em ti.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

PAPAI O NOEU


Oi pessoau, comé qui é? Tudo legau? Eu adoro çeis, aí de portugau. E adoro o portugueiz, a língua dji cabrau qui iscreveu êssi livro lindo qui cháma di ... agora num lembro o nomi, mas era grossão, com muita letra e sem figura. Ainda pôr cima o grandji cabrau fez a vossa na nôssa história, porqui tava acabando o livro quando a bárca onde navegava afundô. Cabrau não sabia nadá, nem dji bruços nem dji coisa ninhuma e se agarrou ao livro para si sauvá. À sortje é que o livro tinha muita palavra fêchada, a água não entrou e cabrau si sauvô. Quando chigou à terra vinha com o colanzinho môlhado e pêgadjinho no côrpo. Cômo o cara só tinha um olho, os indígina ficaro meio disconfiados, porque lá diz o velho deitado " em terra de secos, quem tem um olho é gay ". E foi assim qui cabrau
discobriu à gentji. Mais chega de história porque çeis já devem tá perguntando quem sô eu. Pois eu sô o papai nóeu do brasiu que vai dá presentis para çeis. É qui a coisa aí tá preta e, estje natau, portugau, não vai tê papai noeu, não. E sabem o que eu vou dá? Muito emprego prá çeis aqui no brasiu; ná construção cibiu, nás xurrásqueira, nás casa de auterni, no taimi xéri e na venda dji inciclopédia grossa, que nem o livro do cabrau. Só não vai dá pá dentista e pá jogadô dji bôla, porqui continuamos à tê di sôbra, legau?

Fico esperando por çeis, povão irmão!

Pôxa, lembrei agorinha mêsmo do nome do livro do cabrau; se chama de acordo otógrafico, né?