Ela fala e eu escuto. A voz é trémula e o olhar cansado que a doença fustiga. Enquanto fala peço-lhe em silêncio que me dê o seu colo, que me afague o cabelo, que me deixe ser o seu menino outra vez. Ela fala e eu sinto a sua mão na minha a caminhar pela rua num dia de sol porque de sol são todos os dias da infância. Ela fala e eu descanso-a porque já fiz os deveres da escola e comi o pão com marmelada que me meteu na pasta. Ela fala e eu prometo-lhe que não voltarei a subir às árvores sabendo que não cumprirei, que é do cimo delas que se conquista o mundo. Ela fala e eu peço-lhe que me deite na cama, me aconchegue e me cante a canção dos sonhos bonitos.
Ela pára e pergunta-me porque estou calado. Respondo que fui fazer uma viagem com ela. Um sorriso enche-lhe o rosto de vida. A voz é trémula e o olhar cansado mas agora há a luz de um sorriso. A doença não venceu a força de uma mulher, a força da minha mãe.
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