Não enganava. Os olhos minúsculos por detrás do óculos fundo de garrafa, a boca em forma de bico, as bochechas e o duplo queixo compunham uma expressão de subserviência estudada. A configuração craniana, a fazer lembrar um melão e a voz nasalada davam o toque final. Era fiel. Cheirava a fiel. Deixava rasto de fiel. Quando se dirigia ao chefe até os colarinhos se lhe enrolavam. Quando não se dirigia rondava-o pronto a satisfazer-lhe qualquer solicitude. Na ausência do chefe entregava-se aos prazeres da mão no queixo e da navegação internauta. À sua chegada controlava o mecanismo da sudação para fazer aparecer gotículas no rosto. Ajudavam a maquilhar um ar esforçado de trabalho. Quando o chefe estava de costas descansava as vistas na contemplação do infinito. Quando o chefe se voltava já martelava vigorosamente o teclado com as mangas da camisa arregaçadas em desalinho.
Na rua caminhava tão perto do chefe que se confundia com a sua sombra. À voz do chefe salivava. Não tinha cauda. Se a tivesse abaná-la-ia excitado. Um dia o chefe lançou um osso e gritou-lhe: - Vai! Ele foi. Correu desalmadamente. O osso era de plástico mas não interessava. Tinha ido. Quando voltou o chefe trocara-o por outro fiel. " Já fostes!".
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