Como era habitual acordaram com o despertador. Levantaram-se, fizeram a higiene e comeram os flocos. Ela vestiu a farda, ajeitou-a ao espelho e colocou o revólver à cintura. Ele enfiou o blusão, atirou com a mochila para as costas e pendurou as luvas no bolso traseiro das calças. Como era habitual ela deu-lhe boleia. Viviam juntos há quase 5 anos mas não sentiam a erosão da rotina. Desejavam um filho mas os tempos iam dificeis. Precisavam de melhorar as finanças. Ela deixou-o com um beijo na esquina habitual. Ele ficou a ver o carro dela desaparecer ao fundo da rua. Depois foi o habitual; da primeira vez ele fugiu por uma janela das traseiras quando ela entrava pela porta da cozinha. Não levou nada. Da segunda já ela o esperava quando ele apareceu. Fora uma antecipação de mestre que o obrigou de novo a fugir. A terceira foi de sorte para ele. Ela surgiu-lhe pela frente, bloqueou-lhe a fuga mas no último momento escorregou. Ainda lhe acertou uma bastonada que lhe rasgou o blusão. No final do dia ela apanhou-o na esquina habitual. Ele entrou cansado e beijou-a. Como era habitual ela perguntou-lhe como lhe correra o dia. Ele respondeu com os tempos difíceis. Teriam que continuar a adiar a vinda tão desejada do filho. Jantaram calados. Ao serão ele entreteve-se com o zapping enquanto ela dava uns pontos no blusão que ele usaria no dia seguinte. Como era habitual.
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