segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

É A VIDA

Não sabia o papel que este mundo lhe tinha destinado. Já não o preocupava. Abeirou-se da grade e conferiu o rio lá  em abaixo. A chuva caía intensa criando um brilho oleoso no asfalto. Brilho era o que a sua vida nunca tivera. Um sopro de vento picou-lhe o rosto. Parou o relógio que a mãe lhe oferecera. Lembrou-se das suas palavras: - Estarei sempre contigo. Fugiram-lhe os amigos, a mulher, fugiu-lhe o trabalho e a sorte mas a mãe não. Continuou com ele. Depois partiu. Não restou ninguém. Precisava dela. Pendurou-se e sentiu que já não estava ali. Fechou lentamente os olhos e avançou um passo. Seguiu-se um estrondo. A violência do choque tinha transformado os dois carros numa amálgama. Desceu da grade e correu na direcção do acidente. Viu morrer quem queria viver. Ele que queria morrer vivia. Olhou para o relógio. Deu-lhe corda. A mãe continuaria com ele. No pulso.

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