Uma das pernas já pendia sobre a caleira. A outra escorregava lentamente pelas telhas e nada adiantava o esforço para o impedir. Dependia apenas da antena que as mãos agarravam desesperadas. Estava por um fio. Não resistia a subir a um bom telhado. Gostava de sentir a liberdade e o poder das alturas. Lá em baixo tinha de aturar neuróticos, psicóticos, ditadores e outros estupores que lhe envenenavam a existência. Cá em cima mandava-os para onde muito bem lhe apetecia. O passo mal calculado, porém, tinha-o posto nas mãos da gravidade. E era grave. Um casal de pombos, indiferente ao seu drama, pousou na antena e começou a assegurar a sobrevivência da espécie. Nem teve tempo para pensar nos contrastes da vida. A antena cedeu. Seguiu-se um grito lancinante e o vazio. Acabou com os joelhos esfolados e um arranhão num cotovelo. Felizmente estava no Portugal dos Pequeninos.
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