sábado, 10 de setembro de 2011

ÁGUA E PENTE? PERCEBI PERFEITAMENTE...



Sou a enfermeira do Nelito. Gosto muito dele, tadito, mas faz tempo que andava com a pulga atrás da orelha. Nunca o tinha visto como agora. Dou-lhe a medicação que é sobre o forte para não aborrecer ninguém e não é que ele desata-me a escrever como se fosse aquela, a Margarida Rebelo coisa? E ainda por cima ri-se muito enquanto escreve. Ora quando se ri arregalam-se-lhe os olhitos, começa a bater com os pés no chão com muita força e a babar-se. Baba-se tanto que suja a camisinha de forças toda, os lençois da cama e às vezes até as truces. É preciso mudar-lhe tudo, tadito.
Eu não percebo patavina do que ele escreve mas também não admira. No estado em que ele está. Aqui há dias fui dar com ele a escrever, a falar alto e a rir-se. De repente parava e dizia: -Leilão! A seguir escrevia mais um pouco e gritava: - É lisa! Logo a seguir: - Martela! Mais adiante: - Zás! E sempre a rir-se muito. Leilão, é lisa, martela e zás? Cheguei a pensar: - tu queres ver que ele anda a tentar vender aquele quadro da Mona É lisa ao melhor preço?! Só quando o Nelito foi para o recreio é que eu catrapisquei no PÊCÊ dele que andava a falar convosco. Olha que vocês têm uma escrita muito parecida com a dele, sim senhor. Logo que possam digam-me em que enfermaria estão que eu faço-vos uma visitinha, taditos.
Agora vou ficar por aqui porque tenho de ir dar uma valente pica ao da cama 23 que chegou esta semana. Está bem pior do que o Nelito. Só fala em encostos e mais encostos e aumento de encostos e eu nem sei o que isso é. Se continuar assim vamos ter de o fechar no quarto almofadado, que remédio.
Não digam ao Nelito que vos escrevi, senão ele amua, começa a babar-se e depois lá está, só dá trabalho, tadito.

Continuação das melhoras para todos.

Teodora Ricamouca

Enfermeira

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