terça-feira, 24 de abril de 2012

E DEPOIS DE ABRIL



Era um dia como qualquer outro. Três tanques estacionavam no Largo do Carmo. Tinham chamado os bombeiros para mais um incêndio num edifício degradado. Uma multidão cruzava o Terreiro do Paço. Em silêncio a caminho do Metro. Não longe dali um número crescente de pessoas agitava-se nervosamente. À porta do centro de emprego. Um camião transportando marinheiros passava em marcha acelerada. A caminho do Alfeite onde estavam atracados dois submarinos. Para os lados da baixa ouviram-se gritar palavras de ordem. Rapidamente silenciadas por uma carga policial. Havia ruas cortadas. Para as filmagens de mais um musical de uma grande superfície. Adiante uma florista fazia uma promoção de cravos. Não estavam a sair. Na televisão apareciam cantores de intervenção. Numa campanha contra o desperdício. Na rádio ouvia-se E depois do Adeus, o anúncio da nova novela da TVI.  Numa ruela escondida um homem barbudo abraçava outro homem barbudo. Eram dois sem abrigo que deliravam sobre revoluções. 

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