domingo, 29 de abril de 2012
TRETANIC
- Ó paulinho, seguras-me?
- Seguro não, passinhos. Abraço-te
- Olha que vou abrir os braços
- Podes abrir que estou mesmo atrás de ti
- Ultimamente estás muito atrás de mim
- Sabes que comigo vais sempre à frente
- E se afundamos?
- Impossível
- Como sabes?
- Acredita em mim
- Porque o FMI vai ao leme?
- Não
- Porque tens os submarinos?
- Também não
- Então?
- Porque já estamos no fundo
- Foi o iceberg?
- Não, fomos nós
- Então não digas a ninguém...
- Claro que não. Vou é meter a música da merkl, digo, da celine
- Posso cantar, não?
A ESCOLA FOI CORRIDA
Uma vez mais em directo do circuito da Boavista para acompanharmos a parte final da corrida do dia. Lindo este circuito com condições ideais para o automobilismo sucateiro, digo, revivalista e onde a bandeira de xadrez foi substituída pelo manuel do laço. Os relevantes serviços prestados por esta insigne figura, sobretudo na recta da meta, justificaram a sua recente condecoração pela cidade.
- Manuel do laço diga-nos, o que sentiu ao ser condecorado pela edilidade?
- Pela quem? Amigo, eu fui condecorado foi pelo sr. dr. rio
- E porque acha que ele o condecorou?
- Por ser como eu
- Boavisteiro?
- Não, básico
De volta à corrida passa em primeiro lugar o carro dos privados, alardeando uma potência sem rival e concentrando de longe o maior número de apoios e de patrocínios. Mais atrás vem o carro da incompetência, dos prédios a cair e do lixo amontoado, que tem vindo a melhorar posições, volta após volta e começa a mostrar-se ao líder. Segue-o de perto o carro da baixa copofónica e vândala que tem já no seu cone de aspiração o carro dos hostais num crescendo de aceleração. As bancadas repletas de cadeiras vibram à passagem dos charutos, digo, dos bólides, com especial destaque para o sr. dr. rui rio, para os amigos e para os amigos dos amigos que entram com convite. Vemos finalmente ao fundo da recta da meta o último classificado, para quem a corrida tem sido aziaga. Falamos do carro da Escola que teve dificuldades na partida, que foi depois albaroado por um carro da polícia em serviço de urgência, que perdeu peças durante a corrida mas que, inexplicavelmente, se mantém em prova. Procuramos saber o motivo de tamanha resistência. Foi-nos dito que era um veículo movido a solidariedade.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
LÁPIS DE ABRIL
Aproximou as folhas e as palavras apareceram. Ajustou o microfone, pigarreou discretamente e iniciou:
- Portugueses, hoje é o dia em que celebramos um dos momentos mais altos da nossa história. Foi nesta data que conquistamos os valores sagrados da democracia. Foi nesta data que pusemos fim a um regime que recordo com muita saudade e... Parou bruscamente. Afinou a vista para comprovar o que lera. Sem perceber, compenetrou-se e prosseguiu. - Vivemos momentos de dificuldades. Conheço-as bem e até já as mensurei com o meu exemplo. Estou, todavia, certo de que mais uma vez conseguiremos ultrapassá-las reforçando os impostos e os sacrifící... Estancou novamente. Levou a mão aos cantos da boca, removeu nervosamente a saliva e retomou. - Tivemos responsavelmente de recorrer a assistência externa. É um facto. Mas creiam-me que o FMI não é o predador que muitos consideram. Desde que, obviamente, não lhes ponham camareiras à frente. Sentiu-se precipitado no vazio. Lançou um olhar atónito ao seu assessor que lho devolveu com dose acrescida de pânico. Respirou fundo e disse para consigo que era capaz.
- A nossa história está recheada de exemplos de valentia, de abnegação e de precariedade, quero dizer, de solidariedade. Muitos foram os adamastores que tivemos de sustentar, digo, de derrotar e uma vez mais seremos desempregados, isto é, determinados em busca da emigração, quero dizer, da recuperação. Uma sacudidela de perna permitiu-lhe disfarçar o espasmo nervoso que o atacou.
- As exigências são elevadas mas precisamos, em conjunto, de saber apreciar a ana malhoa, quero dizer, a parte boa do nosso esforço. Estou ciente que dessa forma conseguiremos elevar bem alto o custo da segurança social, isto é, o nome de Portugal...
Não aguentou mais. Deu dois passos atrás, bateu em cheio com as costas da mão nas folhas e disparou:
- Este não é o discurso que a maria me fez, digo, que eu fiz! Alguém andou aqui a escrever asneiras!
Ao fundo de uma plateia de rostos comprometidos rasgou-se um largo sorriso. Pertencia a um homem com um chapéu de abas largas, que usava barba sem bigode e que trazia na lapela um viçoso molho de cravos vermelhos. Chamava-se Zé.
terça-feira, 24 de abril de 2012
E DEPOIS DE ABRIL
Era um dia como qualquer outro. Três tanques estacionavam no Largo do Carmo. Tinham chamado os bombeiros para mais um incêndio num edifício degradado. Uma multidão cruzava o Terreiro do Paço. Em silêncio a caminho do Metro. Não longe dali um número crescente de pessoas agitava-se nervosamente. À porta do centro de emprego. Um camião transportando marinheiros passava em marcha acelerada. A caminho do Alfeite onde estavam atracados dois submarinos. Para os lados da baixa ouviram-se gritar palavras de ordem. Rapidamente silenciadas por uma carga policial. Havia ruas cortadas. Para as filmagens de mais um musical de uma grande superfície. Adiante uma florista fazia uma promoção de cravos. Não estavam a sair. Na televisão apareciam cantores de intervenção. Numa campanha contra o desperdício. Na rádio ouvia-se E depois do Adeus, o anúncio da nova novela da TVI. Numa ruela escondida um homem barbudo abraçava outro homem barbudo. Eram dois sem abrigo que deliravam sobre revoluções.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
TROCA TINTAS
- Sim, sim, sim, sou uma avelha...
- Ó filha, isto tá mau e tu a cantar o clemente
- É tudo pussiculógico
- A freguesia a mingar e tu a dizer que é pussiculógico
- Ó filha, o segredo tá no marquetin
- No quem?
- Olha par ti, achas que tás vem?
- Acho. Tenho o silicone todo ó léu, o invigo a espreitar, a tatuage da brilha à mostra, que queres mais?
- Ó filha, onde é que tás sentada?
- Num valde de tinta
- De que marca?
- Avril
- E eu filha, onde tou sentada?
- Noutro valde de tinta
- De que marca?
- Roubalarga
- Agora pensa filha, o freguês chega bê uma marca que já num se lemvra e a seguir bê uma que conhece vem, qual pensas que bai escolher?
- Roubalarga
- Lá está filha, marquetin
domingo, 22 de abril de 2012
A SORTE DO AZAR
Era ganancioso e sem escrúpulos. Construíra uma fortuna tão grande como o rasto de mentiras, de miséria e de morte que deixara para trás. Naquele dia a riqueza fazia-o sentir-se senhor da vida. Dirigiu-se para a primeira classe do embarcadouro com um séquito de pesadas malas de viagem. Antes de aceder à zona reservada ainda teve de desancar um maltrapilho que, estouvado, se estatelara contra elas. Entrou na sala, distanciou os presentes com o olhar, sentou-se e aguardou.
A pancada nas malas do ricaço tinha-lhe deixado marcas fundas. Tentou erguer-se mas a perna não obedeceu. Parecia partida. Sem o ouvirem levaram-no para um pequeno quarto húmido que servia de enfermaria ao embarcadouro. Perdia ali a oportunidade de fugir à desgraça. No jogo da vida a sorte fizera-se azar. Como dantes. Como sempre. E foi com o olhar vazio que viu o imponente paquete fazer-se ao mar. Chamava-se Titanic.
ENTRE VISTAS CURTAS
- Não acha que houve desproporção?
- Acho que o senhor dr. rio teve toda a razão
- E não poderia ter negociado?
- O mais importante é defender o estado
- Antes a escola era ocupada por toxicodependentes
- Esses não afrontam presidentes
- Mas é património que se fica a degradar
- A seguir vamos nós para o recuperar
- E acha isso o mais correcto?
- Desde que a gente ganhe a obra por ajuste directo
- A concorrência não reclama?
- O nosso líder faz-lhes a cama
- O vosso líder é dos competentes?
- Não, tem é amigos influentes
- Esse raciocínio é complicado
- Por isso em Abril vou ser condecorado
- E como se chama o cavalheiro?
- O meu nome é mota mas trate-me à vontade por senhor engenheiro
sábado, 21 de abril de 2012
ENTRE VISTAS CURTAS
- O sr. polícia interventor sente-se seguro?
- Afirmativo. Sinto-me um duro
- O fato que usa é resistente?
- Afirmativo, embora um tudo ou nada quente
- Resiste aos ocupas da escola?
- Afirmativo. É assim que lhes damos na tola
- E também resiste aos grevistas?
- Afirmativo. E também aos jornalistas
- E a um gangue organizado?
- Ora bem, o melhor é estar calado
- E aos que por aí andam a assaltar?
- Desses nem é bom falar
- Pode falar à vontade que fico-lhe grato
- Negativo. Fale com o meu sindicato
ENTRE VISTAS CURTAS
- Sr. presidente dizem que é um contabilista
- Contabilista não, economista
- Acusam-no de ser prepotente
- Ai se apanho essa gente...
- Dizem que fez do Porto a sua quinta
- O que quero é um Porto com pinta
- Com pinta quer dizer mais acessível ?
- Não, o mais privatizado possível
- E isso é bom para os tripeiros?
- Sei que é bom para os dinheiros
- Dizem que só quer corridas de betos
- Boatos de analfabetos
- Então têm de ir para a escola?
- Não, que não os quero na escola. Vão mas é vergar a mola!
sexta-feira, 20 de abril de 2012
SECARAM A FONTINHA
- Sr. comandante, em directo para a TV, o que se passou?
- Oube uma alteração da orde à força e tibero de emtrebir as forças da orde
- Dominaram a situação?
- Com dificuldade deribado ao calivre dos suspeitos
- Calibre?
- Um deles atirou-se a um dos nossos pó asfixiar
- Com quê?
- Cum naperon feito em tericô
- Acha perigoso?
- Afirmatibo. Trazia as agulhas agarradas
- Bom...
- Outro binha de pincel na mon. Lebou semilhante coronhada que ficou a pintar à pistola
- Expulsaram todos os revoltosos?
- Afirmatibo. A escola num é pra fazer penduricalhos de por ao pescoço ou pra andar a suvir às paredes. A escola é pra aprender a ler, a escreber e a saver de cor o nome de todas as linhas de caminho de ferro de Portugal.
- E assim devolveram a escola à cidade
- À cidade nom, ao sr. dr.
- A quem?
- Ao presidente
- Da Câmara?
- Afirmatibo. Ele gostou tanto que até me bai condecorar. Bou a seguir ó sinhor da mata e engilha
- Missão cumprida, portanto...
- Negatibo. Ainda me falta ebacuar
- Algum ferido?
- Nom, onte à noite comi uma sapateira que taba voa mas caiu-me male....
segunda-feira, 16 de abril de 2012
SEGUNDO O PLANO
- Profissão?
- Figurante
- Desde quando?
- Desde o anúncio do pinga doce
- Pinga doce?
- É uma marca holandesa
- Fazia o quê?
- Aparecia ao fundo com uma caixa de fruta portuguesa colhida em Espanha
- E depois?
- Passei para os prós e contras
- E fazia o quê?
- Batia palmas para os dois lados
- E a seguir?
- Fiz U U
- U U ?
- No coro do tony carreira
- E depois?
- Fui para a política
- Fazer o quê?
- Número
- Desculpe?
- Aparecia atrás do líder quando ele dava entrevistas na televisão
- Como é que saltou para a política?
- Música por música…
- Correu bem?
- Agora não que o gajo foi apeado mas enquanto deu enchi o barriga
- E agora precisa de trabalho
- Não, de emprego
- Nesse caso, podemos oferecer-lhe uma banda
- De música?
- Não, gástrica...
SAÚDE E VEM AÍ STAR
Submetidas a uma rigorosa dieta as vacas passaram a dar Light
Fartas de serem rejeitadas, as gorduras e as toxinas uniram-se e criaram uma cadeia de comida barata que alastrou pelos quatro cantos do mundo. A vingança serve-se frita
De coentrada comeu aviar e bebeu bué e sansão. Seguiu-se um come ou berro acompanhado de um tinto de região desmarcada. Passou pelo salmão deformado, os ossos de assoar, a costela malhadinha, o estraga nove com canguru melos e os palops de vitela. Rematou com vai ver o asa e fruta iluminada. Para aconchegar bebeu um whisky de esmalte. Ao acender o cu iva pespegou-se-lhe um grande A BÊ ÉSSE. Já fostes...
Tentou todas as dietas mas continuou gorda. Perdida a vontade de viver atou uma pedra ao pescoço e atirou-se ao rio. Salvou-se porque a seca transformara o rio num inofensivo fio de água. Também ajudou o facto da pedra ao pescoço pesar para aí 150 gramas...
O sofá era light, a almofada rica em fibras e o comando tinha um baixo índice de gorduras. O filme é que não ajudou: era o american pie...
Adormeceu na sauna, perdeu 10 Kg. Adormeceu na lipoaspiração, perdeu 20. Adormeceu na cidadania, ficou pele e osso
Exercitava os músculos das pernas na embraiagem e no acelerador. Ginasticava os muscúlos dos braços no volante e na caixa de velocidades. Fazia alongamentos nas travagens a fundo. Quando morreu foi para a sucata
Resistiu às tentações da carne, passou a comer maças e sentiu-se no paraíso. Ainda assim, continuou a vender-se muita banha da cobra
Disseram-lhe que as toxinas eram um dos maiores perigos para a saúde. Nunca mais viu a tvi, a sic e a rtp1
Fez jejum em devoção da santíssima trindade; praia, bikini e celulite
Quando as gorduras começaram a importuná-lo agiu com determinação; mandou 2 empresas para a insolvência e 100 empregados para o desemprego
- O que é que vais fazer?
- Vou andar a pé no passadiço
- E porque deixas o carro em cima do passeio?
- Querias que fosse a pé para o passadiço, não?
sábado, 14 de abril de 2012
NUM BÁS IM FITAS
- Mais alguma coisa?
- Quero dose e meia de cavrito do monte e um dão meia encosta tinto prá acumpanhar
- Isso não temos
- Então pode ser um vacalhau no forno com vatata noba e um dão encosta e meia vranco prá acumpanhar
- Também não temos
- Nesse caso quero uma posta de bitela à maneira e um dão encosta-te a mim palhete prá acumpanhar
- Desculpe mas só temos comida ruidosa; doritos, batatas fritas e, claro, pipocas
- Ai é? Pois então é a última bez que benho a este cinema. Mais balia ter ido a um restaurante que tibesse trobisão!
sexta-feira, 13 de abril de 2012
MACHO LADINO
- De que tens mais medo neste mundo?
- Das mulheres
- Das mulheres?
- Foram elas que cá me puseram e vão ser elas a levar-me
- Pois eu só tenho medo de dois tipos de mulheres
- Quais?
- As que querem abusar do meu corpo e as que cantam nos ranchos folclóricos
- E da tua mulher, não tens medo?
- Era o que faltava
- Em tua casa não é ela quem manda?
- Vou ligar-lhe e já vais ver quem manda
- Espera, não faças is...
- Tá lá, mulher, escuta, hoje quero a janta às 8 em ponto e ai de ti que te atrases. O quê? Ainda não me passaste a roupa? Nem sei o que te faço se quando chegar a casa não estiver tudo num brinco, ouvistes? E mais uma coisa, amanhã quando te levantares cedo para ires para o trabalho, pianinho que eu preciso de repousar, entendido? Vai à vida
- É pá, grande homem, sim senhor
- Comigo é assim, rédea curta, certo?
- Certíssimo, mestre
- Pois então vai para casa e faz o que te ensinou o mestre
Após a despedida guardou o telemóvel no bolso sem o desligar. Também não precisava, nunca tinha estado ligado.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
I BELIEVE I CAN FLY
Era um empresário de sucesso. Melhor, era um sucesso de empresário porque o sucesso vinha de trás, do pai . Não gostava de dar tempo. Só de tirar. Adepto da mudança dinâmica que caracteriza a gestão moderna, imprimia constantes rotações no trabalho. A queixa de que os colaboradores precisavam de tempo para aprenderem esbarrava num definitivo " que aprendam enquanto fazem". Um dia os colaboradores reuniram, quotizaram-se e compraram a maior grua que encontraram. A seguir prenderam o empresário à grua e içaram-no. Quando atingiram 30 metros de altura ordenaram-lhe que voasse. Estarrecido o empresário balbuciou que não sabia voar. Os trabalhadores responderam:
- Aprende enquanto desces...
terça-feira, 10 de abril de 2012
PENDENTE DA REPÚBLICA
Assomou à porta e foi de imediato rodeado pelos microfones
- Sr. presidente o que pensa sobre o congelamento das reformas?
- O presidente da república não se pronuncia sobre essas matérias
- Sr. presidente o que pensa sobre o não pagamento dos subsídios?
- O presidente da república não se pronuncia sobre essas matérias
- Sr. presidente o que pensa sobre o encerramento da maternidade Alfredo da Costa?
- O presidente da república não se pronuncia sobre essas matérias
- O sr. presidente pronuncia-se sobre que matérias?
- O presidente da república não se pronuncia sobre nenhu ...
Seguiu-se um ruído mecânico produzido pelos movimentos circulares que maria cavaco fazia discretamente com a mão nas costas do marido. Quando terminou o presidente concluiu:
- ... essas matérias
A seguir afagou-lhe as orelhas e deu-lhe um pedaço de bolo rei pela missão cumprida.
domingo, 8 de abril de 2012
CARCANHÓIS DO MAR, TORPE POVO
Em Portugal há pessoas que passam fome e frio, que não têm dinheiro para medicamentos. Há pessoas sem tratamento médico porque vivem longe de um hospital. Em Portugal há pessoas que morrem de solidão perante a indiferença geral disfarçada de pena. E há pessoas desempregadas. Muitas. Mas em Portugal há quem roube, desvie, corrompa e diga que não é possível assegurar direitos conquistados há décadas. Há quem diga que o povo é notável na sua capacidade de suportar sacrifícios, enquanto lhe vai cravando mais e mais ferros à medida da sua ganância. Em Portugal há quem corra para os iphones, para os ipodes ou para os 4g porque os 3 já não são modernos. Portugal é um país moderno. É um país onde há cães de marca que deixam marcas na esterqueira em que transformaram a via pública. Há famosos giros e giros que são famosos. E que fazem mais esterco do que os cães. É um país que desprezou o que de bom lhe foi deixado e elegeu como símbolos aqueles cuja inteligência desceu para as chuteiras ou mirrou com o silicone. Portugal é um país onde as pessoas estão sempre por debaixo dos interesses. Onde se sofre para dentro e onde todos os dias se caminha com uma cruz. Sem data marcada para a ressurreição.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
É SECA, NUÉ?
Chamava-se diogénes cansadinho da pinha mas gostava de andar como viera ao mundo e por isso todos o tratavam por nué. Um dia nué construiu uma arca grande, meteu dentro a criação e esperou pelo dilúvio. Esperar esperou mas o dilúvio não chegou. Quanto muito umas pingas molha tolos. Enfrentando o olhar desconfiado da criação, nué profetizou:
- Há-de chover, nem que seja canivetes!
- Só isso? Perguntou o papagaio.
- Soiço não, que são mais caros. Made in china.
Uma noite o ribombar de trovões inundou de esperança o coração de nué. Mas nem uma pinga caiu. Fora o fogo de artificio que o cretino da ilha teimava em estourar. Daí para a frente viu meter água a cântaros mas nenhuma vinda do céu. Nué, desesperado, apostou tudo em Abril mas a profecia não se cumpriu. A criação impacientou-se com excepção do gato que há muito andava escaldado.
Dias depois um homem de barbas longas e de olhar sereno aproximou-se da arca e pediu a nué para entrar.
- Tenho a solução para o teu problema. Disse.
Nué, afogado pela angústia, acreditou e abriu-lhe a arca. Assim que entrou o homem puxou um fio e as bombas que trazia à cintura explodiram. Foi o BIG BANG. Então choveu; choveram camelos e burros, mulas e outras alimárias, choveram cobras e lagartos, escorpiões e lacraus, choveu com fartura. Só não choveram canivetes. Nem todas as profecias se cumprem, nué?
quarta-feira, 4 de abril de 2012
SEGURO NÃO OBRIGATÓRIO
Caros amigos, caras amigas,
Hoje o primeiro ministro afirmou aos microfones de uma rádio que os subsídios de Natal e de férias, enfim os salários retirados aos portugueses que servem o estado, seriam gradualmente repostos a partir de 2015. O que vos quero dizer, com a frontalidade que esta cara de sonso que tanto trabalhei demonstra, é que o primeiro ministro mentiu com total descaramento, coisa que nós nunca fizemos. Desde as últimas eleições...
AI, AS CRUZES!
Quando desceu o monte calvário vinha furioso. Um ganancioso tinha enchido o cume de ventoinhas eólicas e não restava espaço sequer para levantar uma cruz
Quando caiu pela primeira vez os adeptos assobiaram. Quando caiu pela segunda vez os adeptos mostraram-lhe lenços brancos. Quando caiu pela terceira vez não perdoaram. Deram-lhe uma chicotada psicológica
Enquanto carregava a pesada cruz por entre vergastadas austeras pensava que nada tinha feito para merecer tais sacrifícios. Foi então que uma mulher de origem germânica se aproximou e lhe sussurrou: - não acreditasses em milagres
Quando o músico começou a falar sobre o compasso todos se ajoelharam e prepararam-se para beijar a cruz. Eram muito religiosos
Cristo passou com um olhar vazio arrastando as vestes gastas e desbotadas. A seguir voltou a passar com uma tunica degradé e com lindos rasgões em forma de cruz. Finalmente passou com um elegante casacão de trespasse e com uma coroa de espinhos cravejada de brilhantes. O primeiro cristo era de fátima lopes, o segundo de luís buchinho e o último de miguel vieira. Os cabelos ficaram a cargo inês pereira cabeleireiros. Foi o maximus!
- Gostava que cristo voltasse à terra
- Para quê?
- Para o milagre do paralítico
- Porquê?
- Estou mortinho por te pôr a andar
terça-feira, 3 de abril de 2012
DIETA DURA
Foi-se ao trabalho de caca
De engordar a gorda vaca
No trabalhou se empenhou
E a vaca muito engordou
Trabalhou com tal afinco
Que a vaca ficou um brinco
Mas de tanto que comeu
A gorda vaca emagreceu
E a vida fez-se-lhe amarga
Porque a gorda ficou magra
E quanto mais se esforçou
Mais a vaca definhou
Deu aquilo que era seu
Mas a vaca esmoreceu
Foi considerado culpado
Por ela ter engordado
Pois só emagrece e definha
Quem antes gordura tinha
E para voltar a engordar
Alguém tem de o pagar
E assim foi dispensado
Do trabalho de uma vida
Já não é privilegiado
É uma gordura sofrida
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