quarta-feira, 3 de agosto de 2011

QUE PENA...


Das duas vezes chegaram a tempo. Maldita sorte. Maldito azar. Da próxima vez não deixaria que o prendessem. Ao tempo. Planeara ao pormenor. Faltava encontrar o momento. Contrafeito deu tempo ao tempo. Uma noite atou o cinto que escondera às grades da cela, prendeu o pescoço e deixou-se cair. Esperneou, estrebuchou, abriu os braços para o instante libertador, mas eles chegaram. A destempo. Diziam que era a encarnação do mal, que merecia a morte. Nunca conseguira dominar a sua natureza. Nem  sabia se alguma vez o quisera. Então por que o salvavam? Por que teimavam em dar-lhe tempo? No dia seguinte, depois de uma generosa refeição informaram-no do adiamento. Mais um contratempo. Dez anos depois deram-lhe a injecção letal. Cumpriu-se a sentença. Em tempo.

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