domingo, 20 de março de 2022

SERVIÇO DE PNEUMOLOGIA

Hoje é dia de inauguração. As inaugurações estão para os nossos políticos como o arroz de pica no chão caseiro ou as mariscadas estão para os amantes da boa degustação. Lá teremos o sr dr presidente da Câmara, acolitado pelo habitual cortejo das altas individualidades, ali para os lados de Paranhos a cortar a fita ao parque da Asprela ou, na terminologia camarária, ao novo pulmão da cidade. Tendo demorado mais de 20 anos para ser construído, a zona envolvente cresceu durante todo este tempo sem pulmão e as dificuldades respiratórias estão à vista; trânsito caótico por falta de vias adequadas ao movimento da zona, metro à superfície a conflituar com os carros, ambulâncias em marcha de urgência a serpentearem lentamente por entre filas permanentes, construção desenfreada a aproveitar ao máximo os ventos da especulação, escassez de estacionamento e pago, ciclovias da moda que custaram meia dúzia de baldes de tinta mais uns pinos e pasme-se, uma delas a passar à porta do cemitério de Paranhos, não permitindo o estacionamento de viaturas em funerais. Mas não se ficam por aqui as insuficiências pulmonares; um centro comercial e um hotel dentro de terrenos que pertenciam ao hospital de São João, a servirem interesses privados em vez de afectos às necessidades da estrutura hospitalar, acessos péssimos ao hospital, numa demonstração de desprezo pelos doentes e pelos profissionais que lá trabalham, estradas em mau estado, tudo isto numa zona que é entrada e saída da cidade. E é neste cenário de incompetência de planificação que se fala com pompa de um pulmão verde.

Quem quiser deixar-se enganar e continuar a respirar assim, esteja à vontade.

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