domingo, 27 de março de 2022

A INFELICIDADE DA FELICIDADE

 


Primeiro ofereceu-nos as borbulhas da coca cola num sonho de liberdade refrescante. A seguir ofereceu-nos a ideia impactante de ser único, protegido, eleito por um mundo pronto a ser consumido. Ofereceu-nos a casa, o carro e a televisão, o computador e o telemóvel da última geração, os resorts longínquos de bar aberto até à exaustão. Tudo em suaves prestações mensais, modernas, indexadas e de chorar por mais. Ofereceu-nos de comer, congelado, pré cozinhado, calibrado, empacotado, rapidamente mastigado; ofereceu-nos trabalho, muito trabalho, desregulado, explorado, a qualquer hora, em qualquer lugar, com longas filas de carros a prestações para lá chegar; ofereceu-nos ameaças e desgraças, submissão e cansaço, muito cansaço, que nos adormece a cada passo em frente às televisões a prestações. Ofereceu-nos angústia e amargura e uma vida cada vez mais dura, ofereceu-nos anti depressivos para parecermos vivos e saúdes privadas para paliar e nos facturar as doenças do bem estar. Ofereceu-nos o medo de envelhecer e as asfixias do sucesso mais as plásticas que fazem parte do progresso. E ofereceu-nos mochilas XL como uma segunda pele que, em correrias de loucos, oferecem de comer a muitos e enchem a barriga a poucos.

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