quinta-feira, 31 de março de 2022

MARCELO REBOLA DE SOUSA


O sr professor dr presidente deu ontem posse ao novo governo. Combinadas as reacções que teve desde que foi conhecido o elenco governativo com a alegria esfuziante que demonstrou pelo apuramento para os futebóis do qatar, estou em crer que, se pudesse, o sr professor dr presidente entronizaria o seguinte governo:

Ministério da defesa - diogo costa

Ministério da saúde - pepe

Ministério do trabalho - william carvalho

Ministério das finanças - jorge mendes

Ministério da administração interna - fernando madureira

Ministério da justiça - octávio machado

Ministério da educação - rodolfo reis

Ministério da ciência tecnologia e ensino superior - sr. engenheiro fernando santos

Ministério da cultura - jorge jesus

Primeiro ministro - cr7 que acumularia as restantes pastas, incluindo a pasta da coesão territorial contra a caspa

Ministro adjunto para as assuntos para lamentares - D. Dolores.

domingo, 27 de março de 2022

A INFELICIDADE DA FELICIDADE

 


Primeiro ofereceu-nos as borbulhas da coca cola num sonho de liberdade refrescante. A seguir ofereceu-nos a ideia impactante de ser único, protegido, eleito por um mundo pronto a ser consumido. Ofereceu-nos a casa, o carro e a televisão, o computador e o telemóvel da última geração, os resorts longínquos de bar aberto até à exaustão. Tudo em suaves prestações mensais, modernas, indexadas e de chorar por mais. Ofereceu-nos de comer, congelado, pré cozinhado, calibrado, empacotado, rapidamente mastigado; ofereceu-nos trabalho, muito trabalho, desregulado, explorado, a qualquer hora, em qualquer lugar, com longas filas de carros a prestações para lá chegar; ofereceu-nos ameaças e desgraças, submissão e cansaço, muito cansaço, que nos adormece a cada passo em frente às televisões a prestações. Ofereceu-nos angústia e amargura e uma vida cada vez mais dura, ofereceu-nos anti depressivos para parecermos vivos e saúdes privadas para paliar e nos facturar as doenças do bem estar. Ofereceu-nos o medo de envelhecer e as asfixias do sucesso mais as plásticas que fazem parte do progresso. E ofereceu-nos mochilas XL como uma segunda pele que, em correrias de loucos, oferecem de comer a muitos e enchem a barriga a poucos.

sexta-feira, 25 de março de 2022

SOLIDARIEDADE SEM PIEDADE


- Ucraniano?

- S...sim

- Nome?

- Lussolo N'dongo

- Ucraniano com esse nome?

- S...sim

- E ucraniano com pele negra?

- Bom,... rebentou uma bomba num depósito de carvão quando ia a passar e... e fiquei todo preto, de maneira que...

- Olha lá, tu não és nada ucraniano, tu és é africano!

- Bem, eu... eu sou refugiado e disseram-me que se me fizesse passar por ucraniano talvez pudesse ser acolhido por vós e...

- E nada! Volta mas é para a tua terra que a nossa solidariedade não é para ti. E leva o teu telemóvel topo de gama contigo que nós moinas com smartphones já temos muitos, entendido?

O FIEL AMIGO

 



- Mr. President?

- Yea

- Intelligence services, here

- What's going on?

- We captured a conversation from putin

- And what did he say?

- Said he wants to invade Portugal

- Potchugal? What is Potchugal?

- It's a country

- From Africa?

- No, Mr. President, from Europe

- And why does Putin want to invade Potchugal?

- According to his words, because Portugal has "a bakalhova à josef do pipvo do karalheva"

- What is it?

- We don't know Mr. President. And putin also said that Portugal has " a madurov tintvo ke eskorregva ké uma belezova"

- Look, does Potchugal have oil?

- No, Mr. President

- Does Potchugal have gold and diamond mines?

- No, Mr. President

- Then let putin invade and then I'll go on television to condemn the invasion

- It can't be, Mr. President

- Why?

- Because Portugal is part of nato

- Oh yea? So, send them the old helicopters we used in Vietnam

- Very well, Mr. President

- Listen, for american you have a funny accent

- Yes I do, Mr President. I was born at the Lages base

- Lages base? Oh yea, good memories...

terça-feira, 22 de março de 2022

положить солидарность в жопу!

 

Não é alto. Nivela-se pelo metro e sessenta e dois podendo alcandorar-se ao metro e sessenta e cinco quando desgasta a calçada com sapatos de tacão compensados, que a bainha descaída da calça se esforça por esconder. Dono de um coração maior do que a estatura, é um incondicional solidário com o povo ucraniano. Desenganem-se, no entanto, os precipitados, porque não é um desses solidários fabricados à pressa que, esquecidos de tantas guerras que vão pelo mundo, correram a abraçar a causa ucraniana. Não. Pelo contrário, o seu apoio ao povo ucraniano vem de tenra idade o que lhe valeu a incompreensão da mãe quando lhe perguntou o que queria ser quando fosse grande e recebeu como resposta:

- Quero ser solidário com a Ucrânia!

Tendo a pergunta sido colocada ao gaiato num momento em que a Ucrânia ainda não existia como país, a mãe tomou-o por zombeteiro e, não sendo mulher de meias palavras, lançou-lhe uma expressão acabada em "er".  A partir do mote da progenitora, o petiz desenvolveu talentosa apetência pela temática e, à da mãe, foi somando muitas outras expressões com terminações diferentes, desde as acabadas em "alho", em "ariu, em "eiro" em "u" até à terminada em "iça", esta antecedida de uma descrição sumária sobre movimentos de sucção oral. Por vezes, vinha-lhe à lembrança o saudoso John Weissmuller e à expressão terminada em "iça" seguia-se a "...e chama-me Tarzan ". Hoje, o incondicional solidário com o povo ucraniano está agradecido à mãe, que o iniciou nas lides e à devota e esforçada aprendizagem que empreendeu ao longo da vida. Assim, tem à sua disposição um leque sortido e variado de expressões para bombardear putin, estando já a assegurar a respectiva tradução para a língua russa, a fim de que o visado não possa refugiar-se nos abrigos do desconhecimento ou da incompreensão. E atirou-se à lida com tal denodo que até já a tem quase concluída. Apenas lhe  sobeja um ponto por esclarecer:

- Como é que se diz Tarzan em russo?

domingo, 20 de março de 2022

SERVIÇO DE PNEUMOLOGIA

Hoje é dia de inauguração. As inaugurações estão para os nossos políticos como o arroz de pica no chão caseiro ou as mariscadas estão para os amantes da boa degustação. Lá teremos o sr dr presidente da Câmara, acolitado pelo habitual cortejo das altas individualidades, ali para os lados de Paranhos a cortar a fita ao parque da Asprela ou, na terminologia camarária, ao novo pulmão da cidade. Tendo demorado mais de 20 anos para ser construído, a zona envolvente cresceu durante todo este tempo sem pulmão e as dificuldades respiratórias estão à vista; trânsito caótico por falta de vias adequadas ao movimento da zona, metro à superfície a conflituar com os carros, ambulâncias em marcha de urgência a serpentearem lentamente por entre filas permanentes, construção desenfreada a aproveitar ao máximo os ventos da especulação, escassez de estacionamento e pago, ciclovias da moda que custaram meia dúzia de baldes de tinta mais uns pinos e pasme-se, uma delas a passar à porta do cemitério de Paranhos, não permitindo o estacionamento de viaturas em funerais. Mas não se ficam por aqui as insuficiências pulmonares; um centro comercial e um hotel dentro de terrenos que pertenciam ao hospital de São João, a servirem interesses privados em vez de afectos às necessidades da estrutura hospitalar, acessos péssimos ao hospital, numa demonstração de desprezo pelos doentes e pelos profissionais que lá trabalham, estradas em mau estado, tudo isto numa zona que é entrada e saída da cidade. E é neste cenário de incompetência de planificação que se fala com pompa de um pulmão verde.

Quem quiser deixar-se enganar e continuar a respirar assim, esteja à vontade.

quinta-feira, 17 de março de 2022

NÃO HÁ MILAGRES

Caminhava sem rumo ou direcção. Os olhos serenos, a tez plácida, a barba penteada pelo vento e os longos cabelos que se precipitavam em cachos pela alva túnica.

De repente, a súplica pungente de um paralítico rasgou a serenidade dos seus passos:

- Salvador, Salvador, fazei com que ande!

Ele aproximou-se, passou-lhe ao de leve as mãos pelas pernas e logo o paralítico se levantou para desaparecer numa correria desenfreada em direcção a África.

Os menos crentes comentaram entre si que, para tal prodígio, havia sido determinante a leitura anterior de uma sentença condenatória, irrecorrível para o paralítico.

Ele prosseguiu a caminhada que, mais à frente, foi interrompida pelo grito lancinante de um desesperado:

- Salvador, Salvador, fazei com que não vá bater com os costados na cadeia!

Ele aproximou-se, passou-lhe as mãos ao de leve pela cabeça e logo o homem deixou de dizer coisa com coisa. 

Os menos crentes mostraram fundadas reservas ao verem que, dali em diante, o homem passou a sofrer de Alzheimer e a escrever memórias, em simultâneo.

Ele continuou a sua marcha até Lhe sair ao caminho um automobilista que buzinou três vezes e Lhe endossou uma longa prece:

- Salvador, Salvador, fazei com que baixe substancial e acentuadamente o preço dos combustíveis, por mor de podermos continuar a tremelicar os traseiros nos bancos retrácteis das nossas viaturas híbridas com pintura metalizada, computador de bordo, abs, tecto de abrir, fecho centralizado de portas, sensores de estacionamento e faróis de halogéneo direccionais!

Ele ergueu os braços ao céu, cerrou os olhos num esforço sobrehumano e logo o preço do barril de petróleo caiu desamparado. Tal feito, porém, não redundou em qualquer redução no preço dos combustíveis, antes pelo contrário.

Foi então que os menos crentes Lhe segredaram que se encontrava em Portugal. Ele de imediato rumou a Espanha via Valença. Como não aprecia pontes, sobretudo a de Carnaval, atravessou a fronteira caminhando sobre as águas do rio Minho.

Os menos crentes insistem que, para a façanha, contribuiu de forma decisiva uma prancha de padlle adquirida por Ele do lado de cá, numa loja da especialidade.