terça-feira, 19 de novembro de 2019

CHUMBAR SÓ OS DENTES



- Menino mono, sabes quem foi Afonso Henriques?
- Sei sim, cê pessora, foi akele sinhor que vateu na mãe
- E por que bateu ele na mãe, como tu dizes?
- Porke andaba metido na droga e keria rouvar-lhe o dinheiro todo e a mãe num deixaba
- Ò menino mono, de que Afonso Henriques estás tu a falar?
- Do kera meu vizinho no r/c. Agora já num é. Foi conkistar a Pasteleira òs mouros, que a kilo é xeio de bermelhos
- Está bem, menino mono. E que sabes tu sobre as descobertas?
- Sei que travalho todas para a madame Bernardete numa kasa de massages ali pós lados da Areosa
- Que descobertas são essas, menino?
- São vem voas, cê pessora. Os filhos de voas famílias passo lá a bida; são os basco da gama, são os vartolomeu dias, são os diogo cão. E tamém lá bão dirigentes de futebol desfraldar a vela
- E o salazar, menino mono, diz-te alguma coisa?
- Diz-me sim, cê pessora. É kom ele keu komo os valdes de Nutella. Dá-me muito jeito pa rapar o fundo.
- E o que representa para ti o 25 de Abril?
- Muito cê pessora. É o dia em ku pingo doce faz promoções espectakulares e as grades de jola é ò preço da uba mijona
- Menino mono, estou a referir-me ao golpe de estado
- Tamém eu. Hoube um que quis sakar-me uma grade da mão, eu peguei na minha naifa e dei-lhe um golpe de estalo
- Menino mono, vamos mudar de matéria. Qual é o presente do indicativo do verbo tirar?
- Eu afano, tu sakas, ele agasalha, nós abafamos, vós botais a luva, eles nago-se
- Menino mono, dá-me uma razão, uma só razão para eu te poder passar de ano
- Uma razão, cê pessora?
- Sim, basta uma, menino mono
- António Costa, cê pessora.

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