segunda-feira, 25 de novembro de 2019

VENTAS AGRESSIVAS



Bom dia. Convoquei este briefing para transmitir ao staff a minha insatisfação com o feedback do sales process. A estratégia de marketing, em linha com o nosso budget, foi direcionada para um target adequado, fizemos branding, benchmarketing, smarketing, mas o follow up continua aquém. Isto posto é absolutamente indispensável avançar já para as seguintes actions:
1. Prender os utilíssimos purificadores de água às torneiras com cadeados de forma a não permitir que os velhinhos os possam retirar. Ameaçá-los que se o tentarem terão de os pagar de uma só vez e não nas 24 suaves prestações mensais que oferecemos.
2. Não abrir as portas dos autocarros das excursões gratuitas ao Bom Jesus de Braga sem que todos os ocupantes tenham comprado, pelo menos, um prático e sempre necessário jacuzzi portátil.
3. Arrastar pelas orelhas os que se recusarem até ao teste gratuito mais próximo e aí obrigá-los a ouvir Metallica no som máximo, até que passem a necessitar do nosso maravilhoso aparelho auditivo. Tratem-lhes da saúde, antes que eles nos mandem para a deadline.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

É COMO O CARANGUEJO


- O senhor desculpe, mas vai a andar para trás
- Não vou não, vou a andar em frente
- Como é que vai a andar em frente se está a andar para trás?
- Quem lhe disse que estou a andar para trás?
- Estou a vê-lo recuar
- E por acaso o senhor sabe qual é a direcção de em frente para me dizer que estou a andar para trás?
- Bom, a direcção de em frente é para a frente e a direcção de trás é para trás
- Engana-se, caro senhor, muitas vezes para se andar em frente, tem de se andar noutras direcções
- Desculpe, mas não estou a acompanhar o andamento
- Por exemplo, uma vez fui surpreendido pelos vapores etílicos e cheguei a casa a andar de lado
- Para que lado?
- Para o lado de casa. Se tivesse andado em frente em vez de lado, decerto não teria encontrado a casa e a minha vida teria andado para trás
- Quer então o senhor dizer que andou de lado para andar em frente?
- Precisamente. E também se pode andar em frente andando-se para trás
- Como assim?
- Veja o governo, conseguiu um estrondoso sucesso na diminuição da taxa de reprovações
- Como?
- Acabando com os chumbos
- E daí?
- Lá está, para andar em frente andou para trás
- Mas isso não será andar de cavalo para burro?
- Não. Isto é o burro a andar a cavalo.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

CHUMBAR SÓ OS DENTES



- Menino mono, sabes quem foi Afonso Henriques?
- Sei sim, cê pessora, foi akele sinhor que vateu na mãe
- E por que bateu ele na mãe, como tu dizes?
- Porke andaba metido na droga e keria rouvar-lhe o dinheiro todo e a mãe num deixaba
- Ò menino mono, de que Afonso Henriques estás tu a falar?
- Do kera meu vizinho no r/c. Agora já num é. Foi conkistar a Pasteleira òs mouros, que a kilo é xeio de bermelhos
- Está bem, menino mono. E que sabes tu sobre as descobertas?
- Sei que travalho todas para a madame Bernardete numa kasa de massages ali pós lados da Areosa
- Que descobertas são essas, menino?
- São vem voas, cê pessora. Os filhos de voas famílias passo lá a bida; são os basco da gama, são os vartolomeu dias, são os diogo cão. E tamém lá bão dirigentes de futebol desfraldar a vela
- E o salazar, menino mono, diz-te alguma coisa?
- Diz-me sim, cê pessora. É kom ele keu komo os valdes de Nutella. Dá-me muito jeito pa rapar o fundo.
- E o que representa para ti o 25 de Abril?
- Muito cê pessora. É o dia em ku pingo doce faz promoções espectakulares e as grades de jola é ò preço da uba mijona
- Menino mono, estou a referir-me ao golpe de estado
- Tamém eu. Hoube um que quis sakar-me uma grade da mão, eu peguei na minha naifa e dei-lhe um golpe de estalo
- Menino mono, vamos mudar de matéria. Qual é o presente do indicativo do verbo tirar?
- Eu afano, tu sakas, ele agasalha, nós abafamos, vós botais a luva, eles nago-se
- Menino mono, dá-me uma razão, uma só razão para eu te poder passar de ano
- Uma razão, cê pessora?
- Sim, basta uma, menino mono
- António Costa, cê pessora.

domingo, 10 de novembro de 2019

IMOVIGÁRIO



- A royal golden state fuck you gardens, lofts, terrasses & coiso, dá-vos as boas vindas a este deslumbrante apartamento na maravilhosa e sempre invicta cidade do Porto. Uma casa de sonho que é o vosso sonho de casa
- Está bem, está bem, mas diga-nos, o que é isto encostado à parede?
- É a cama, estimada senhora
- Mas a cama está ao alto
- Precisamente cavalheiro. Assim sai directamente dela sem ter a maçada de se levantar, acto prejudicial à saúde porque efectuado em frio e como tal propiciador de lesões.
- E isto aqui é o quê?
- É a cozinha, estimada senhora
- A cozinha? Mas eu  estou a ver uma sanita
- Isso já é a casa de banho, cavalheiro
- A sanita ao lado do fogão?
- Precisamente, estimada senhora.  Procuramos uma total optimização do circuito da alimentação por forma a proporcionarmos o máximo conforto ao cliente. Assim não tem necessidade de percorrer distâncias inúteis entre a degustação e a descarga
- E onde está o espaço para comer?
- Ali, cavalheiro
- Mas ali é a casa do vizinho
- Sim, estimada senhora, mas temos um acordo com ele para que vos disponibilize a sala dele às segundas, quartas e sextas, ao jantar. Se pretenderem usufruir do referido espaço por mais tempo, não está incluído mas poderão negociar directamente com o vizinho. Dizendo que vão da nossa parte ele, decerto, fará uma atenção
- E onde está o lavatório e o duche?
- Na banca cavalheiro. Como vê possui dimensões generosas e a torneira é extensível e com efeito cascata
- E qual é a arrumação que isto tem?
- Muita, estimada senhora, desde que não recebam demasiada correspondência
- Mas onde fica essa arrumação?
- Na caixa do correio, cavalheiro
- Ouça lá, este apartamento é pequeníssimo
- Peço desculpa, estimada senhora, não é pequeníssimo, é aconchegante e com a enorme mais valia de vos oferecer vistas únicas sobre esse ícone monumental da cidade que é a Torre dos Clérigos
- Mas onde está a Torre dos Clérigos?
- Ali, cavalheiro
- Ò homem, ali é um poster da Torre dos Clérigos
- Pois é, estimada senhora, mas a fotografia é de alta resolução o que só encontra em imóveis de segmento muito elevado como, felizmente para vós, é o caso deste
- Olhe lá e quanto custa isto?
- Como estamos em campanha de lançamento os senhores foram bafejados pela sorte e, vejam bem, não vos custará mais de meio milhão
- Meio milhão? Isso é caríssimo
- Ora bem, também temos para quatrocentos mil
- E qual é a diferença?
- Os de quatrocentos mil não têm poster, cavalheiro.

sábado, 9 de novembro de 2019

MIGRAÇÕES



- Ò pás
- Diz, pás
- Já biste esta cena dos migrantes ou refugiantes ou lá ke é?
- Já, pás, parece kagora tá na moda ser refugiantes
- Isso é o keles diz. Eles ker é ser moinantes
- Savem totil. Per iço é que bêm às karradas nas varcaças
- E se kalhar até gamam as varcaças òs pescadores da terra deles
- E às tantas os desgraçados fiko a peskar à linha de galoxas
- Ka água pela tomatada
- E os mânfios no vem vom a biajar à vorliu
- Ò pás, isto é gente ke num interessa
- Poi não, pás, eles ker é mama e travalhar bai no vatalha
- É uma bergonha, pás
- Pois é, pás
- Olha lá, pás, por falar em travalhar, o negócio tá frako
- Pois tá, pás, inda só bendi 2 doses ò chabalo do bm e 3 ò da porcheta
- Se kalhar é melhor fazermos komós refugiantes
- Komo?
- Desandamos do Aleixo e nabegamos pá Pasteleira ke dá mais arame
- É melhor é, pás, ke sisto kontinua assim este mês ainda tenho de mexer no rendimento social de injecção. Ou lá ke é, pás.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

CATA O PAI NATAL


Digníssimo, prezadíssimo e nunca por demais osculado Pai Natal,

Não, desta vez não te irei decepcionar. Sei que o fiz no passado mas, por favor, tenta compreender. Todos me falavam nas pombas das meninas e eu que tenho um columbófilo dentro de mim, também queria uma. Muito bem estiveste em não me atender o pedido e ainda melhor na explicação profiláctica que me dispensaste. Foi assim que aprendi que o que até à data servia para pouco mais do que me causar inauditas trilhadelas nas trusses, era afinal o mais profícuo e genuíno alimento para pombas. Fiquei tão contente que me acerquei do meu progenitor e lhe expus de forma efusiva tal descoberta. Ele, porém, não me acompanhou no entusiasmo, alertando-me para o facto de, não raras vezes, quem proporciona o alimento ainda ter de pagar por cima. Confesso-te que não percebi bem o raciocínio mas fiquei com a impressão de que, em matéria columbófila, o meu pai tem o saber de experiência feito.
Para este ano, querido Pai Natal, o meu pedido é muito simples; quero um cateterismo. Não sei bem o que é, mas percebi que, se bem promovida, é coisa para inculcar estratégicos receios nos meus ascendentes a respeito da minha saúde. Ora, usando bem e a meu favor tal preocupação poderei direccioná-los para a obtenção de vantagens variadas, designadamente ao nível da diminuição das tarefas domésticas e do reforço em numerário no bolso, não vá o meu pai estar certo no que respeita a pagar para alimentar.
Quanto ao pedido que te dirigi o ano passado, podes votá-lo ao esquecimento porque o sr dr costa já mo atendeu. Retirou o lápis da orelha, realizou umas contas concisas mas plenas de aritmética e decidiu que a partir de agora ninguém chumba na escola. Que bom, assim até me vai sobrar tempo para alimentar um pombal.

Recebe um forte abraço extensivo às renas e ao trenó, deste que tanto te estima e se assina,

Nokas pombeiro

domingo, 3 de novembro de 2019

PAVILHÃO ROSÉ MOTA



- Que bai ser?
- Meia encosta, está vom de ber
- Vranco ó tinto?
- Tanto faz que estou faminto
- E agora, que se segue?
- Um palhete que escorregue
- Vranco ó tinto?
- Muito, que eu cá consinto
- E agora, pá cavar?
- Seper voque a estalar
- Branca, preta, grande ou pequena?
- Quero seper voque arena
- Se o que queres é brincadeira, vai pó tasco do moreira.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

ESTAIS DE TODO



Ponderei não o fazer mas foi superior às minhas forças. Se há mal neste mundo que me trespassa é a injustiça e contra ela investirei sempre de pena afiada. Apontar o dedo é fácil, reconhecer valia nem tanto. Um homem trabalhador, esforçado e estudioso está a ser alvo de uma campanha difamatória. Esquecem-se os que difamam que foi num desses dias em que, regalados, gozavam o descanso domingueiro, que esse homem concluía de forma abnegada o seu primeiro curso superior. Esquecem-se os que difamam que, para aprofundar o seu saber, se sacrificou ao ponto de dar continuidade aos estudos longe do seu país, do seu lar e dos seus dossiers e outros papéis queridos. Esquecem-se os que difamam que o coração de ouro deste homem o impeliu a pedir emprestado para auxiliar necessitados e, sobretudo, necessitadas, com total desprendimento, movido por uma insuperável vontade de bem fazer. Esquecem-se finalmente os que difamam que este homem foi atraiçoado de forma vil pela própria memória, que o ataca sem tréguas na sua busca pela verdade, obrigando-o a terminar muitos dos seus esforços com um contrariado "não me lembro".
Ficai a saber, pecadores, que tantas atoardas, tantas falsidades, tanto apoucamento, terão a merecida punição no dia do juízo final até porque, eu próprio, já instruí devidamente o criador nesse sentido.
Voltarei para me bater pela justiça mas, por ora, vou andando porque, sou franco, não aprecio a medicação dos dois indivíduos de bata branca que ali vêem na minha direcção.

Pela justiça, nem que me cortem a...voz.

manuel marado da silva internado