Era alternadeira e chamava-se branca de neves. Branca por parte da mãe. Neves por parte do porteiro do estabelecimento onde a progenitora desenvolvera actividade similar. Orgulhava-se do que era. Não poucas vezes afirmava prestar um inestimável serviço à sociedade, contribuindo para combater a solidão de muitos dos seus elementos masculinos. A frase fora-lhe ensinada pelo elias, o seu manager e ela trazia-a na ponta da língua. Um dia, melhor, uma noite combateu a solidão de um cliente de poucas falas mas a parecer bem de finanças. O combate transferiu-se para a pensão do lado. Além de circunspecto o cliente era exigente. Queria tudo. Por fim adormeceu abrindo-lhe a oportunidade para a cena clássica. Foi-lhe à carteira mas não encontrou senão umas quantas moedas. Ficou com elas mais por revolta do que pelo valor. Antes de a devolver ao casaco não resistiu a saber-lhe o nome. Chamava-se gaspar. Triste ironia. Branca de neves que toda a vida procurara um príncipe encantado acabava de encontrar um rei mago. Mirrado.
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