domingo, 25 de agosto de 2013

BOTA VASELINA ,QUE QUEM TE DIZ É A JOVELINA



Cessinho Filho,

É possível que desta vez a minha letra chegue aí tremida porque, no momento em que te escrevo, estou a cortar as unhas dos pés ao avô Epifâneo. Com a idade, pusero-se grossas que parece placas de contraplacado. E as estepores cresce num instante que, se a gente não as cortar, quando tal, o avô já pode dormir em cima dum poleiro, que num cai.
Foi com a tristeza a cortar-nos o coração como fatias de presunto, que ficamos a saber que aí, na cidade, também te aplicaram a austeridade. Nós, por cá, já a sentimos há muito, pois que cada vez há coisas mais caras e menos coroas. Então, da gasosa nem é bom falar. Felizmente o teu pai teve um daqueles ataques de inteligência que lhe costumo dar quando está a desancar no bombo e descobriu que a nossa furgoneta gasta menos se andar de marcha atrás. Desde então, nunca mais quis outra. Agora andamos de marcha atrás para todo o lado. Torna-se um bocadinho difícil a ultrapassar e a tirar o talão nas portages, é certo, mas poupa-se que é um consolo. À noite, botamos um capacete de mineiro no avô e pômo-lo na mala com a cabeça de fora a alumiar. Quando o teu paizinho quer dar máximos, assenta-le com a maceta do bombo na tola, que a luz aumenta logo. Não sei é se fará bem ao avô. Cada vez que ele leva uma foeirada grita: - Fujam pós abrigos! Deve vir-le à ideia a política, tadito. A verdade é que, mesmo esquecidinho, passou a ser a luz que nos guia.

Cessinho, vou-te mandar pomada para o olho inflamado e mais um garrafãozito de aguardente para esfregares nos galos. Por fora e por dentro. Mas atenção, não troques as mãos; se botas a pomada nos galos e a aguardente no olho, passas a correr os 100 metros mais rápido do que o gajo da Jamaica.

E acima de tudo continua a acreditar. A cêpa está torta, por agora, mas se continuares a insistir vais ver que, não tarda, a endireitas.

Recebe beijos meus e nossos, madurinhos de saudades.

Desta tua mãe que se assina,

Jovelina.

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