Comer bem era atributo
Desta alma lusitana
Nada faltava ao conduto
Do bacalhau à chanfana
O povo não estava morto
Fez das tripas coração
Fê-las à moda do Porto
Foi exemplo para a nação
A boa sardinha assada
Pingava em broa de milho
Sempre bem acompanhada
Por um bom tinto ao quartilho
Abençoado o cozido
Mais a gostosa vitela
E o sarrabulho querido
Que a vida faziam bela
Eu jamais esquecerei
Tal devoção pelo prato
A República tinha rei
Sua excelência, o palato
Mas eis que tudo mudou
Com esse hamburguer maldito
Enganado, o povo inchou
Ficou gordo e aflito
E veio a vil tirania
Dietas de dedo em riste
O povo já não comia
Chorava e andava triste
A República emagreceu
Cruelmente sufocada
Pelas mãos de quem lhe deu
Uma mão cheia de nada
E por aí se pavoneiam
Uns doutores de pacotilha
Colhem o que não semeiam
São ladrões de mascarilha
E comem alarvemente
Sem limite, sem medida
Cortam-nos a esperança rente
Comem-nos a própria vida
Mas no ar anda a mudança
Sopram os ventos da luta
Vamos esvaziar a pança
A esses filhos da puta
E vamos nós alimentar
A República com alegria
E voltar a libertar
A plena democracia
VIVA A REPÚBLICA!
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