quinta-feira, 23 de junho de 2011

OLHÓ BALÃO

Amava-a tanto que o amor lhe doía no peito. Forçava impiedosamente o talento que sentia escapar-lhe para a conquistar. Fustigava-se por não conseguir arrancar-lhe mais do que o mesmo olhar. Tão feminino mas tão frio. E nem uma palavra. Por vezes sufocava a revolta que o impelia a gritar-lhe a sua dor. Sabia que os outros não gostam que lhes apontem os erros, sobretudo os que cometem repetidas vezes. Não desistia. Acariciava-lhe as mãos como se tocasse em seda. Beijava-lhe os ombros ao de leve e olhava-a suspenso de uma coisa qualquer. Nada. Procurava respostas nos seus lábios. Nada. Um dia a revolta assomou incontrolável. Apagou o coração, esqueceu o deserto da sua vida, rasgou-lhe a válvula com um só golpe. Viu-a e ouviu-a gritar enquanto mirrava furiosa contra as paredes e o tecto do quarto. Aqueles gritos insuflaram-lhe um sôpro de amor próprio. Pela primeira vez a solidão confortou-o. Ela, por fim, calou-se. Foi um ar que lhe deu.

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