terça-feira, 22 de março de 2011

REI SOL

Conquistara o poder pelo nascimento. O poder total, absoluto que lhe oferecia o mundo num estalar de dedos. Todos eram súbditos ao serviço da sua natureza superior. Não tolerava uma recusa e ninguém ousava enfrentar a fera enraivecida que a mínima contrariedade despertava. A subserviência que impunha chegava a entediá-lo. Adorava criar situações para exercitar a sua autoridade. Querer o que não havia, gostar do que aos outros repudiava, destruir sem motivo, fingir interesse para humilhar a seguir, tudo servia para a sua diversão. Gostava especialmente de gritar. Gritar ordens, insultos, censuras e de os ver estarrecidos a tentar controlar os espasmos nervosos que lhes provocava. E depois sentir-se magnânimo mostrando-lhes que apenas brincava. Era bom. Um dia saiu à rua e viu um sorvete que não era seu. Imperial exigiu-o de imediato. Foi-lhe recusado. Insistiu. Um valente tabefe deu-lhe a resposta. Foi o golpe de estalo que precipitou a sua queda. Refugiou-se em pânico debaixo das saias da mãe. Consta que por lá se mantém exilado. Agarrado à chucha.

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