sábado, 20 de abril de 2013

ALIADOS DA PALMILHA


Grupos de adolescentes deambulam pelas ruas em transumância etílica. Levam garrafas nas mãos, que vão esvaziando enquanto soltam graçolas.
Na Praça de D. João I, um arrumador chama pelos automóveis, agitando os braços em cadência ritmada. Grita aos que descem para o parque que, ali, na superfície da praça, é mais barato. Tem preço em conta o arrumador. E bolsa a tiracolo para facilitar os trocos.
Mais abaixo, outro arrumador, estaciona quantos carros pode na zona de Sampaio Bruno. Em tempos, foi uma zona pedonal. Há muito que deixou de ser.
Não se vê um polícia.
O vento vai espalhando o lixo e o cheiro fétido a urina. Há grafitis em cima de grafitis. Há prédios a ruir.
A Avenida dos Aliados está às escuras. As luzes foram desligadas para realçar a inauguração do edifício AXA, que a câmara parece ter emprestado às artes. Para que não digam que não apoia a cultura. O acesso é condicionado e o povo, em fila indiana, vai entrando à medida da vontade dos seguranças. Lá dentro, obras por acabar, cabos eléctricos à vista, paredes partidas e muito pó. Que se pega à roupa de gente, muito chique.
Na Rua de Gonçalo Cristovão, alguns travestis exibem, vaidosos, os seus volumosos peitos, tão falsos como a revitalização da baixa.
No Salão Latino do Teatro Sá da Bandeira, uma pequena companhia de valentes leva à cena um excelente trabalho. Sem apoios, sem propaganda da câmara, mas com muito valor. Chama-se Palmilha Dentada.

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