domingo, 25 de novembro de 2012

O SENHOR PERSISTENTE



- Vamos fazer o teste do balão
- Ó zêguarda, o désde do balão bra guê?
- O senhor apresenta sinais de embriaguês
- Embria guem?
- Quero dizer que o senhor está bêbado
- Ó zêguarda, adé figo ofendido
- O senhor já viu como é que está a falar?
- Eu num esdou a valar, esdou a refledir
- Ó homem, você não diz coisa com coisa
- E debois?
- E depois, está  bêbado
- Ó zêguarda, o zêr agabou de galuniar o nozo bresidende
- O nosso presidente? Porquê?
- Borgue ele esdá dal e gual gomo eu
- Como?
- Dambém esdá a refledir e dambém num diz goisa gom goisa
- Ó homem, você está a confundir tudo
- Dal como ele
- Você tem a mania que tem piada
- Dambém ele
- Escute, você já não convence ninguém
- Nem ele
- Sabe que mais, desapareça que já estou farto de o aturar!
- Ó zer guarda bedia-le zó um vavor
- Qual é?
- Diga-le izo a ele...

sábado, 24 de novembro de 2012

SENTI O HUMOR


- E sabes aquela do gajo que foi fazer a rodagem ó carro?
- SEI!
- E a do gajo que andava a pedir para o deixarem trabalhar?
- SEI!
- E a do gajo que tinha amigos ladrões disfarçados de banqueiros?
- SEI!
- E sabes a do gajo que não gostava de pescas nem de agricultura e agora diz que fazem muita falta?
- TAMBÉM SEI!
- Mas não sabes a do gajo que andava sempre a queixar-se da reforma, pois não?
- SEI!
- Não me digas que também sabes a da bandeira içada ao contrário?
- SEI, PORRA!
- Ó maria, toda a gente me acha graça menos tu
- Pois eu, só te acho graça quando estás calado
- Porquê, maria?
- Porque o silêncio é de ouro!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A GOSTO


Gosto, não gosto
Às vezes gosto, mas não digo que gosto
Faço como muitos, aposto
E finjo que não gosto

O gosto não paga imposto
Mas deixa-me exposto
Maldisposto
E eu não gosto

Gosto do gosto 
Mas de um gosto composto
Que não pareça um gosto 
Mas sim o oposto

Que não se veja no rosto
A contragosto

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

NOTÍCIA DO JN



" Mais de metade das empresas portuguesas cotadas em Bolsa não cumpre as melhores práticas de organização, sobretudo porque mantém uma disparidade de salários entre administradores e colaboradores.
A Portugal Telecom é "o caso extremo", já que, no ano passado, "o salário do presidente executivo [Zeinal Bava] superava em 128 vezes o rendimento médio dos colaboradores do grupo.
A conclusão da análise aponta ainda a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, e a Sonae, que detém o Continente, como outras das empresas cuja disparidade de remunerações contribuiu para o 'chumbo' na avaliação.
No caso da Jerónimo Martins, os salários dos administradores representam 104 vezes os dos colaboradores, enquanto o rácio na Sonae é de 72 vezes. "

- O senhor concorda com a austeridade?
- Por zeinal, sim
- E o senhor, concorda com a austeridade?
- Só ares de austeridade fazem milagres. Santos não...
- E o senhor, como se chama?
- Vedo
- Desculpe?
- Vedo
- Como disse?
- ...Asse! Vedo
- E também concorda com a auster...
- Claro! A austeridade deixa-me todo continente, digo, todo contente...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MODERNICES


Bendita cerveja que bem lhe sabia
Maldita cerveja que lesta descia
Bendita cerveja que era tão amiga
Maldita cerveja que apertava a bexiga
E assim apertado lá foi a correr
Porque aquilo que é bom também faz sofrer
Entrou no elevador que lentamente falou
" A porta está a fechar "
E ele, enrascado, a aguentar
No fim parou e de novo falou
" A porta está a abrir "
E ele ansioso por sair
Mas em vez de abrir não abriu
E o pobre coitado, desesperado
Achou que o elevador mentiu
Deu murros e gritos
Carregou nos botões
Gestos aflitos
Só consumições
E a cerveja a pesar
E a bexiga a inchar
Preso num elevador
Que o queria aldrabar
Lá se abriu a porta pelo lado de fora
Correu acelerado sem mais demora
Entrou desvairado na casa de banho
Com uma bexiga de todo o tamanho
Para largar, enfim, a pesada cruz
Mas deu-se um repente e apagou-se a luz
Abanou a cabeça para fazer movimento
Mas a luz não veio nem por um momento
Levantou um braço, manteve-se o breu
Levantou o outro, nada aconteceu
Acenou com as mãos e a luz apareceu
Baixou os braços e voltou o escuro
Jamais se vira em tal apuro
E não lhe restou outra solução
Que essa moderna posição
De aliviar a dor
Dizendo adeus ao sensor
Pensou no culpado
De tal resultado
Era o azar agarrado à pele
Foi então que da sanita
Veio uma perguntou aflita:
- Podia dizer-me onde está o papel?

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

MUITO MAIS DE QUARENTA...


Estava farto da história. Não queria ser lenhador, nem queria calos nas mãos. Embirrava com os " abre-te e fecha-te sésamo ", ultrapassados pelo start e pelo shutdown. Detestava que os ladrões morressem no fim, perdendo preciosos tesouros. E que fossem premiados os que viviam do seu trabalho. Queria ser ladrão, mas não um ladrão qualquer. Queria ser inatacável, inabalável, intocável. Puxou pela inteligência mas, mesmo puxada, a inteligência não esticou. A conselho de amigos suspeitos, consultou uma bruxa da germânia. A bruxa ouviu-o e no fim perguntou:
- Se bem percebi, queres roubar os outros e não pagares por isso?
- Sim, quero...
- E queres ficar rico à custa deles?
- Sim, sim, quero...
- E se eles se revoltarem, queres castigá-los?
- Claro que quero...
- Então, só precisas de mudar uma coisa, apenas uma coisa
- O quê?
- A Lei, Babá.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PESO DELE


Os ânimos subiam de exaltação. Atiravam-se palavras como pedras. Lançavam-se olhares de fera. Disparavam-se ameaças. As movimentações eram cada vez mais perigosas. De repente tudo se precipitou e deu-se a carga. Em menos de nada a polícia de choque entrou na Assembleia e varreu os vândalos que, há muito, por lá andavam a violentar a democracia. O povo cá fora aplaudiu em delírio, enquanto entoava cânticos de Abril. 
Acordou de um salto empapado em suor. Não voltaria a experimentar produtos colombianos antes de deitar.

domingo, 11 de novembro de 2012

BANCO ALIMENTIR


Era um gestor de sucesso mas, um dia, a economia provocou-lhe um abcesso. E antes que, de gestor de sucesso passasse a gestor recesso, deitou as contas à vida com solução à medida. E se melhor o pensou mais depressa executou. Foi à grande superfície e fez a grande malandrice. Ofereceu um saco cheio ao bom banco alimentar. Cheio com os empregados de quem se queria livrar.

sábado, 10 de novembro de 2012

POBREZINHO MAS HONRADO


Não precisamos que o banco alimentar venha dizer que temos de ficar mais pobres. O banco português de negócios já tratou disso.

Dizem que as greves gerais empobrecem. Obrigado d. jonet pelo seu grande apelo à próxima greve geral.

O banco alimentar está a dar boas taxas para depósitos a prazo? Perguntou fernando ulrich à d. jonet.

Gostava muito dos pobrezinhos. Pudera, sem eles como poderia ser rico?

Concordava inteiramente que andávamos a viver acima das possibilidades e que teríamos de empobrecer. Nesse dia decidiu baixar os salários de todos os empregados.

O rico tomou a palavra e disse que era preciso empobrecer. Recebeu uma grande ovação.
O pobre tomou a palavra e disse que queria deixar de ser pobre. Recebeu uma sopa.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CONTO PARA VOZ



Era uma vez uma casca de noz sem noz. Alguém lha tirou e não a repôs. Mas a casca de noz tinha voz. E lutou pela sua noz. E outras cascas sem noz juntaram a sua à sua voz. E quando chegou o algoz para lhes calar a voz, as cascas resistiram porque não estavam sós. E lutaram por noz e por vós. A uma só voz.

sábado, 3 de novembro de 2012

AMOR DE CONTO


Era uma vez um conto com muito para contar, mas por mais que se esforçasse não sabia começar. Só via folhas em branco que o afundavam num pranto e na dor em que vivia. Gritava mudo ao mundo mas o mundo não ouvia. E já se enredava o conto na sua triste desdita quando, como por encanto, lhe surgiu a bela escrita. Por ela se enamorou e nos braços a tomou. E desse amor tão intenso nasceu um mar imenso. De palavras. E o conto nunca mais soube parar. De amar a bela escrita e de contar.

A METER ÁGUA



Era uma vez um peixe que gostava de contar escamas. Tanto contava que adormecia. E acordava, recontava e logo dormia. Um dia acordou e verificou que não as via. Para onde tinham fugido as sacanas? Foi então que percebeu a volta que a vida deu e viu-se numa caldeirada. Nunca mais contou escamas e nunca mais contou nada.
Ao contrário do que se diz nem sempre o que se conta tem um final feliz.