sexta-feira, 29 de julho de 2011

ALCATEIA




Tinha-os todos. Não lhe faltava nenhum. Começou pelos amigos, passou aos conhecidos e aos desconhecidos. Nunca mais parou. Acumulou-os por ordem de gravidade. A pequena burla, a burla maior, a falsificação. Desceu ao suborno, à chantagem, ao tráfico de influências. À associação criminosa, à lavagem de dinheiro. Desceu sempre que subia. Subiu ao fundo. Dava-se com  altas direcções, alta finança, alta política e com aristocratas altos de finanças baixas. Fez-se à fama e converteu-se num vendedor televisivo de opiniões e de best sellers sobre o sucesso pelo trabalho. Do alto dos seus colarinhos brancos fustigava os golpes baixos da corrupção, enquanto zurzia teias cada vez mais altas para prender gente baixa. Elegeu a luta contra os corruptos como a mais alta das prioridades. Alguém do alto achou que sim. Hoje ocupa um dos mais altos cargos na Alta ansiedade contra a corrupção. Já se fala que poderá vir a ser o próximo presidente. Quem o conhece considera que tem o perfil adequado. É alto.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

NÃO SOU O ÚNICO A OLHAR O CEO...



- Ei pá, há quanto tempo.
- É verdade. 
- Quando te conheci eras COO (Chief Operating Officer).
- E tu eras CFO (Chief Financial Officer).

- Pois, mas antes já tinha sido CHRO (Chief Human Resources Officer).
- E eu a seguir fui CTO (Chief Technology officer).
- Já eu era CKO (Chief Knowledge officer).
- Ai sim? E quem foi CRO (Chief Risk Officer)?
- O que é isso comparado com CMO (Chief Marketing Officer)?
- O que tu querias era ser CIO (Chief Imagination Officer).

- Enganas-te. Já fui CEO.

- E não tarda vais ser CHAIRMAN.
- Quê? Como? Quando?
- Aqui na pildra consta-se que é logo que chegue a cadeira eléctrica.
 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

BURKINA FAÇO





- O que fazes?
- Faço que faço.
- E fazes bem?
- Faço.
- Quer dizer, não fazes.
- Isso é que faço. Faço para parecer que faço.
- Isso também eu faço.
- Fazes por isso?
- Faço parecer isso.
- Ainda bem. Detesto os que não fazem.
- Mas tu não fazes...
- Estou a falar dos que não fazem e não fazem que fazem.
- Ah esses. Não merecem que se faça nada por eles.
- Mas detesto ainda mais os outros.
- Quais?
- Os que fazem.
- Os que fazem mas não sabem o que fazem?
- Não, os que fazem.
- Os que fazem e depois dizem que não fizeram?
- Não, pá, os que fazem mesmo.
- Ah, esses! São uma ameaça.
- Pois, ao fazerem mostram que não fazemos.
- Sabes o que lhes faço?
- O que fazes?
- Faço-lhes a vida negra.
- E eu faço com que pareça que não fazem o que fazem.
- Bem feito.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

AMIZADE DURADOURA


- Então, tá tudo?
- Tudo a rolar.
- É o que interessa.
- Até à próxima.
- Até à próxima.
Passado 1 ano:
- Então, tá tudo?
- Tudo a rolar.
- É o que interessa.
- Até à próxima.
- Até à próxima.
Passados 2 anos:
- Então, tá tudo?
- Tudo a rolar.
- É o que interessa.
- Até à próxima.
- Até à próxima.
Quem são? São amigos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

NÃO VOLTAREI A SER FIEL...


A tentação da traição traíra-o. Tornou-se um traidor. Tão traidor que chegava a sentir medo. De se trair. Descartava a fidelidade simulada traíndo. Atraiçoava e convencia que fora traído. Traía sonhos, esperanças, ilusões. Deixou para trás um rasto de corpos trucidados pela traição. Um dia viu o mundo ser traído. A surpresa apanhou-o distraído. Tentou travar a queda mas foi traído pela gravidade. Da situação. Em desespero atraiu um amigo e um trabalho. Pela primeira vez foi fiel. De armazém. Por pouco tempo. O amigo trocou de terra e levou o armazém a trautear. Só o inimigo não trai.

sábado, 9 de julho de 2011

PORTO PRIVADO



Depois de tanto comer
Até mais nada sobrar
É hora, está bem de ver
De tudo privatizar

Não é fúria esfomeada
Para ficar com o que é bom
É solução equilibrada
Diz o patrão ao patrão

Vá o porto de Leixões
Para cruzeiros de milhões
E o palácio de Cristal
Junto com a Sé Catedral

Que dão bons hotéis low cost
Goste-se ou não se goste
Com o Vimara Peres a porteiro
Compondo o toque tripeiro

Vá a estação de S. Bento
Para festas pela noite dentro
E só se entra com cartão
Na Cadeia da Relação

Troque-se a Casa do Infante
Por um volumoso implante
Ou o Paço episcopal
Por um tratamento dental

Praças, ruas e avenidas
Podem ser reconvertidas
Em lindas pistas de corridas
E outras ideias torcidas

Parece obra do demónio
Mas é regalo para o bucho
Transforme-se o Santo António
Num condomínio de luxo

O Douro vai ser marina
De gente importante e fina
E até a água do mar
É boa para privatizar

E já agora a própria História
Para se enganar a memória
Fazendo do capital
O grande rei de Portugal

Privatizem sem demora
Que é só o povo que perde
E não se esqueçam da tora
Do popular caldo verde

Se ainda assim não bastar
E vos sobrar o dinheiro
Ponham o S. João a andar
E privatizem-lhe o carneiro

Resta-me olhar o céu
Que não pertence a ninguém
E sentir que ainda é meu
E pensar que é teu também

sábado, 2 de julho de 2011

GURUS




- O que fazes na vida, pá?
- Eu? É simples, quando corre bem abotoo-me, quando dá merda distribuo por todos.
- Então és o mesmo que eu, pá.
- O quê?
- Um gestor, pá!
- Gestor? Ah, pois somos.

QUEM SE ABAIXA...



- Eh pá, como é que subiste?
- Dei graxa ao chefe.
- E o gajo?
- Deu graxa ao chefe dele.
- E o chefe dele?
- Deu graxa ao Administrador.
- E o Administrador?
- Meteu a cunha ao partido.
- Olha lá, queres dizer que ninguém sobe por mérito?
- Nem pensar. Nos dias que correm há tanto graxista que o que sobe tem de ter mérito, pá.