quarta-feira, 3 de junho de 2020

A EVOLUÇÃO DO DESCONHECIMENTO




A antiguidade clássica deu à humanidade um filósofo, Sócrates, que um dia disse:
- Só sei que nada sei!
O século XVI deu outro filósofo, Descartes, que um dia disse:
- Penso logo existo!
O século XXI deu mais um filósofo, habitual frequentador da porta do tasco da minha rua que um dia disse:
- Que ça foda!
A confluência destas 3 escolas filosóficas permite-nos uma reflexão profícua embora sucinta sobre a evolução do conhecimento do Homem através dos tempos. "Penso logo existo" é facilmente comprovável quando vamos abastecer a viatura à gasolineira e dizemos para com os nossos botões:
- Penso que há 2 dias estava mais barata, que há 4 dias estava ainda mais barata mas não tenho outro remédio senão abastecer porque penso que sem carro não existo.
"Só sei que nada sei" ganhou nos tempos correntes uma importância acrescida, objectivando a real dimensão da nossa pequenez. De repente apareceu um bicho tão hermético que o Homem, capaz de ir à Lua, de destruir cidades inteiras com mísseis teleguiados ou de descobrir que o tony carreira é uma mentira musical, não descortina nada de eficaz para o combater. O bicho, não o tony. Chegamos então ao busílis da questão; os vastos conhecimentos alcançados ao longo da história da Humanidade esboroaçaram-se desgraçadamente perante um bicho tão pequeno cujas pernas só podem ser vistas ao microscópio. É aqui que entra o nosso filósofo do século XXI; sabe que o bicho vagueia por aí mas sabe que ninguém sabe como o parar; já não tem carro e por isso tem de provar a sua própria existência, solicitando mais um quartilho de maduro tinto. A carteira, porém, não o permite e o plafond de crédito esgotou-se. Aí o nosso filósofo do século XXI sintetiza todo o conhecimento da Humanidade na sua frase mais célebre.

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