Ela era linda. Ele não tinha palavras para tanta beleza. Não conseguia ir além do "És altamente". Defeito de família. O pai só dizia "Vai no Vatalha", a mãe "Tá certo", o avô, "Pas..." e a avó, cozinheira, era conhecida pela muda das iscas. Um dia, pensou em escrever-lhe um poema, mas só se lembrava das armas e dos barões que por acaso até eram... altamente. Pensou arriscar a linguagem gestual, mas teve receio que ela preferisse a prosa. Pelo menos de início. Sentia um desespero lexical e nem sabia. Como não sabia dominar as vogais e as consoantes que bailavam furiosamente à volta da sua cabeça. Não era justo que as miseráveis o impedissem de declarar o seu amor. Agarrou-se à internet como um náufrago e procurou a melhor frase romântica. Aproximou-se dela, mas não conseguiu dizer-lha. Enviou-lha por telemóvel "Gostava de provar o sabor aveludado dos teus lábios". Ela, sensibilizada, respondeu, também por telemóvel:´
- "És altamente".
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