domingo, 23 de outubro de 2011

QUEM JURA...


A solenidade do momento alinhava as poses e contraía os rostos. Os fotógrafos amontoados num dos cantos do salão nobre retorciam-se em busca do melhor ângulo. O primeiro foi o futuro ministro da agricultura e pescas. Passos firmes levaram-no até ao livro onde se assinava a história. De mont blanc em riste soprou o bolor das palavras estafadas: - Juro pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas. Uma voz soltou-se da assistência:
- Olha lá, não és tu que vais ajudar a abater a frota pesqueira e acabar de vez com a agricultura a mando da europa?
Todos os olhares procuraram aquela voz. Sem êxito. Seguiu-se o futuro ministro do trabalho e da segurança social já com um indisfarçável mal-estar instalado na sala:
- Juro pela minha honra que...O ataque da voz não o deixou concluir:
- E tu não és quem vai liberalizar os despedimentos, aumentar o horário de trabalho sem remuneração, diminuir o subsídio de desemprego e congelar as pensões?
Um burburinho de estupefacção invadiu a sala e quebrou o protocolo. O futuro primeiro-ministro assomou ao microfone para repor a ordem. A voz irrompeu de novo:
- E tu que ganhaste eleições por defenderes menos sacríficios vais agora impôr outros muito mais pesados do que os que criticaste, não vais?
Logo a seguir os seguranças detiveram o dono da voz e expulsaram-no da sala. Já na rua identificaram o homem. Chamava-se Zé, trazia um chapéu de abas largas na cabeça, usava barba sem bigode e segurava uma moca que dizia ter adquirido em Fafe. Afirmou que voltaria. Mais um maluco, com certeza.

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