domingo, 16 de fevereiro de 2014
FORAS DA FEI
Mãos ao ar! Isto é um as...falto. - Fó um fegundo. Apanhou do chão a dentadura que lhe tinha saltado como uma mola e recolocou-a na boca. - Virem-se imediatamente contra a... farede. - Fó um fegundo. Novamente a dentadura. Voltou a apanhá-la e abocanhou-a como se a fosse comer. - Agora quero que me tragam as chaves do... fofre. Ainda a dentadura não tinha tocado o chão pela terceira vez e já alguns risos fugazes rompiam o medo inicial. - Fodos calados. Não quero oufir um...fio. O silêncio imperou de novo enquanto a dentadura regressava à cavidade bocal. Num tom altivo embora já pouco confiante ordenou: - Metam o dinheiro todo neste... faco. Os nervos ainda quiseram cerrar-lhe os dentes mas, infelizmente, não lhe era possível. Desfiou uma sucessão de impropérios todos começados por f, embora só num deles tenha acertado a letra inicial. Uma mulher apanhou discretamente a dentadura, aproximou-se dele e sussurrou-lhe que experimentasse a sua. Trocaram-nas dissimuladamente e o assalto decorreu sem mais incidentes. Consumado o roubo, avançou para ela, tomou-a nos braços e beijou-a agradecido. A seguir saiu na correria habitual. Ela foi-lhe no encalço e entrou para o carro já em andamento. Tornaram-se inseparáveis. Um do outro e das suas dentaduras. E a partir desse dia, o mundo passou a olhar com respeito um casal de criminosos que encheu páginas de jornais com as suas façanhas: Fonnie & Flyde.
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